SóProvas


ID
1250653
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                        Vaidade do humanismo

        A vaidade, desde sua etimologia latina vanitas, aponta para o vazio, para o sentimento que habita o vão. Mas é possível tratar dela com mais condescendência do que os moralistas rigorosos que costumam condená-la inapelavelmente. Pode-se compreendê-la como uma contingência humana que talvez seja preciso antes reconhecer com naturalidade do que descartar como um vício abominável. Como se sabe, a vaidade está em todos nós em graus e com naturezas diferentes, e há uma vaidade que devemos aceitar: aquela que corresponde não a um mérito abstrato da pessoa, a um dom da natureza que nos tornasse filhos prediletos do céu, mas a algum trabalho que efetivamente tenhamos realizado, a uma razão objetiva que enraíza a vaidade no mesmo chão que foi marcado pelo nosso melhor
esforço, pelo nosso trabalho de humanistas.
        Na condição de humanistas, temos interesse pelo estudo das formações sociais, dos direitos constituídos e do papel dos indivíduos, pela liberdade do pensamento filosófico que se pensa a si mesmo para pensar o mundo, pela arte literária que projeta e dá forma em linguagem simbólica aos desejos mais íntimos; por todas as formas, enfim, de conhecimento que ainda tomam o homem como medida das coisas. Talvez nosso principal desafio, neste tempo de vertiginoso avanço tecnológico,
esteja em fazer da tecnologia uma aliada preciosa em nossa busca do conhecimento real, da beleza consistente e de um mundo mais justo - todas estas dimensões de maior peso do que qualquer virtualidade. O grande professor e intelectual palestino Edward Said, num livro cujo título já é inspiração para uma plataforma de trabalho - Humanismo e crítica democrática - afirma a certa altura: “como humanistas, é da linguagem que partimos”; “o ato de ler é o ato de colocar-se na posição do autor, para quem escrever é uma série de decisões e escolhas expressas em palavras”. Nesse sentido, toda leitura é o compartilhamento do sujeito leitor com o sujeito escritor - compartilhamento justificado não necessariamente poradesão a um ponto de vista, mas pelo interesse no reconhecimento e na avaliação do ponto de vista do outro. Que seja este um nosso compromisso fundamental. Que seja esta a nossa vaidade de humanistas. 

(Derval Mendes Sapucaia, inédito)

Ocorrem adequada transposição de voz verbal e perfeita correlação entre tempos e modos na seguinte passagem:
I. A vaidade, uma vez justificável, deixa de ser um vício abominável. = Se a justificarmos, a vaidade já não seria um vício abominável.
II. Ele toleraria a vaidade, desde que pudesse justificá-la. = A vaidade seria tolerada, desde que ela pudesse ser justificada por ele.
III. Ele não vê como poderia justificar a vaidade que eventualmente o assalta. = A vaidade não é vista justificada por ele, quando eventualmente é por ela assaltado.

Está correto o que consta APENAS em

Alternativas
Comentários
  • Questão comentada pela profa. Irene Tavares:

    "A questão é de vozes verbais, mas, como vocês viram, é mais sofisticada que as tradicionais da FCC sobre o assunto. O recurso para resolução é o mesmo: confirmar a presença do verbo transitivo direto e atentar para a equivalência dos tempos verbais. Então, o item I já não poderíamos considerar correto, porque não há verbos transitivos diretos. O item II está correto: toleraria = seria tolerada ( futuro do pretérito) e pudesse justificar = pudesse ser justificada. Reparem que a transformação respeitou a equivalência dos tempos verbais. No item III, temos verbos transitivos diretos, entretanto a transformação não respeitou a forma original na primeira parte do período."

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  • Ainda me resta uma certa dúvida com relação ao item III, alguém poderia me ajudar? Obrigada!

  • Natalia,

    Acho que a transposição ficaria assim:

    Ele não vê como poderia justificar a vaidade (...).
    Ele não vê como vaidade (...) poderia ser justificada (por ele).

    A parte da frase que eu suprimi é um complemento para a vaidade, deve permanecer intacto. A transposição vai afetar o verbo transitivo direto, conforme o comentário anterior. A transposição proposta pela banca não é feita de acordo com a norma, sequer dá pra entender o sentido desta frase.

    Bons estudos, Elton.

  • I - não tem VTD, logo, não pode ser transposta para a voz passiva.

    II -  A tranposição ocorre da seguinte forma: toleraria= seria tolerada/ (ele) pudesse justificá-la= pudesse ser justificada por ele, logo, está correta a alternativa.

    III - A correta transposição ocorre da seguinte forma: Ele não vê como poderia ser justificada a vaidade por que eventualmente é assaltado. Logo, a alternativa está incorreta. 

    Gabarito: somente II, letra c.

  • Na verdade a transposição correta do item III seria:

    Ele não vê como poderia justificar a vaidade que eventualmente o assalta. = A vaidade não se vê justificada por ele, quando eventualmente é por ela assaltado.

    Lembrar que na voz passiva o sujeito é paciente. Ou seja, o sujeito sofre a ação verbal. No caso, "vaidade" passa a ser o sujeito da ação de "não se ver justificada por ele".