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ID
1253125
Banca
IDECAN
Órgão
Colégio Pedro II
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                         Cultura e terror


      Essa minha ideia de que o homem é, sobretudo, um ser cultural, não deve ser entendida como uma visão idealizada e otimista, pelo simples fato de que isso o distingue dos outros seres naturais. 
      Se somos seres culturais, se pensamos e com nosso pensamento inventamos os valores que constituem a nossa humanidade, diferimos dos outros animais, que se atêm a sua animalidade e agem conforme suas necessidades vitais imediatas. 
      Entendo que, ao contrário dos outros animais, o homem nasceu incompleto e, por essa razão, teve de inventar-se e inventar o mundo em que vive. Por exemplo, um bisão ou um tigre nasce com todos os recursos necessários à sua sobrevivência, mas o homem, para caçar o bisão, teve que inventar a lança. 
      Isso, no plano material. Mas nasceu incompleto também no plano intelectual, porque é o único animal que se pergunta por que nasceu, que sentido tem a existência. Para responder a essas e outras perguntas, inventou a religião, a filosofia, a ciência e a arte. 
      Assim, construiu, ao longo da história, uma realidade cultural, inventada, que alcança hoje uma complexidade extraordinária e fascinante. O homem deixou de viver na natureza para viver na cidade que foi criada por ele. 
      Mas, o fato mesmo de se inventar como ser cultural criou-lhe graves problemas, nascidos, em grande parte, daqueles valores culturais. É que, por serem inventados, variam de uma comunidade humana para outra, gerando muitas vezes conflitos insuperáveis. As diversas concepções filosóficas, religiosas, estéticas e políticas podem levar os homens a divergências insuperáveis e até mesmo a conflitos mortais. 
      Pode ser que me engane, mas a impressão que tenho é de que o homem, por ser essencialmente os seus valores, tem que afirmá-los perante o outro e obter dele sua aceitação. Se o outro não os aceita, sente-se negado em sua própria existência. Daí por que, a tendência, em certos casos, é levá-lo a aceitá-los por bem ou por mal. Chega-se à agressão, à guerra. 
      Certamente, nem sempre é assim, depende dos indivíduos e das comunidades humanas; depende sobretudo de quais valores os fundamentam. 
      De modo geral, é no campo da religião e da política que a intolerância se manifesta com maior frequência e radicalismo. A história humana está marcada por esses conflitos, que resultaram muitas vezes em guerras religiosas, com o sacrifício de centenas de milhares de vidas. 
      Com o desenvolvimento econômico e ampliação do conhecimento científico, a questão religiosa caiu para segundo plano, enquanto o problema ideológico ganhou o centro das atenções. 
      A questão da riqueza, da desigualdade social e consequentemente da justiça social tornou-se o núcleo dos conflitos entre as classes e o poder político. 
      Esse fenômeno, que se formou em meados do século XIX, ocuparia todo o século XX, com o surgimento dos Estados socialistas. O ápice desse conflito foi a Guerra Fria, resultante do antagonismo entre os Estados Unidos e a União Soviética. 
      Surpreendente, porém, é que, em pleno século do desenvolvimento científico e tecnológico, tenha eclodido uma das expressões mais irracionais da intolerância religiosa: o terrorismo islâmico, surgido de uma interpretação fanatizada daquela doutrina. 
      O terrorismo não nasceu agora mas, a partir do conflito entre judeus e palestinos, lideranças fundamentalistas islâmicas o adotaram como arma de uma guerra santa contra a civilização ocidental, que não segue as palavras sagradas do Corão. 
      Em consequência disso, homens e mulheres jovens, transformados em bombas humanas, não hesitam em suicidar-se inutilmente, convencidos de que cumprem a vontade de Alá e serão recompensados com o paraíso. 
      Parece loucura e, de fato, o é, mas diferente da doença psíquica propriamente dita. É uma loucura decorrente do fanatismo político ou religioso, que muda o amor a Deus em ódio aos infiéis. 
      Embora o Corão condene o assassinato de inocentes, na opinião dos promotores de tais atentados - que matam sobretudo inocentes - só é proibido matar os “nossos” inocentes, como afirmou Bin Laden, não os inocentes “deles”. 
      Tudo isso mostra que o homem é mesmo um ser cultural, mas que a cultura tanto pode nos transformar em santos como em demônios. 

                          (Ferreira Gullar. Cultura e terror. Folha de São Paulo. Abril/2013. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ferreiragullar/1269134-cultura-e-terror.shtml.) 


Sobre o emprego das aspas nos termos “nossos” e “deles” em “[...] só é proibido matar os ‘nossos’ inocentes, [...] não os inocentes ‘deles’.” (17º§), é correto afirmar que foram usadas com a finalidade de

Alternativas
Comentários
  • Discordo com o Gabarito, tendo em vista que uma citação literal é a Transcrição literal de trecho de obra alheia.

    exemplo:  Segundo Fulano "citação literária..."

    Questão Mal Formulada

  • Errei e depois entendi,é que as duas palavras aparecem dentro de uma citação,veja: 

    “[...] só é proibido matar os ‘nossos’ inocentes, [...] não os inocentes ‘deles’.”

    Não devemos olhar as palavras isoladamente, estão com aspas pq no texto original estavam assim,é uma citação literal.

  • Citação literal dentro da própria citação literal...banca pequena é uma droga mesmo. Não sabe fazer, inventa.

  • A questão não é ser banca pequena ou grande. Já peguei uma questão da Cespe que questiona este mesmo artifício. Inclusive, usa duas alternativas bem parecidas com essas: uma dizendo que era citação literal e outra que o autor usou de ironia. 
    A resposta para a questão é a mesma que esta: indica citação literal. 
    Concordo que dá brechas para acharmos que é ironia, mas fazer o quê? O jeito é pegar a manha.

  • Gab B

     

    Caí na pegadinha, porém concordo com o gabarito. Muitas vezes a falta de atenção e o "achar" que a questão foi dada nos fazem perder pontos preciosos.

  • Discordo da colega Mariana.

    Exceto por duas palavras distintas e separadas, no texto da prova não há aspas no trecho:  Embora o Corão condene o assassinato de inocentes, na opinião dos promotores de tais atentados - que matam sobretudo inocentes - só é proibido matar os “nossos” inocentes, como afirmou Bin Laden, não os inocentes “deles”. 

    As aspas foram incluídas apenas na pergunta, como forma de destacar a parte reproduzida do texto original.

    Ou seja, não há como afirmar que existe uma fala dos promotores de tais atentados ou do Bin Laden, na parte em que o autor escreve:  só é proibido matar os “nossos” inocentes, como afirmou Bin Laden, não os inocentes “deles”. 
    Pode ser que seja o próprio autor emitindo com suas próprias palavras a opinião desses tais promotores ou a do Bin Laden. 

     

    Questão mal formulada.

  • Discordo totalmente da banca. Sentido irônico faz mais sentido no contexto do texto pois não há inocentes nossos e deles. Todos são inocentes. Não há lados. Todo o texto dá esse sentido.

  • Banca imprevisivel, ao menor sinal de aspas em prova da idecan deixar por ultimo

    é ironia quando o autor fala as coisas diretamente https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/41c50655-25

  • Respondi sem olhar o contexto e errei.

    Sempre importante buscar o trecho no texto para responder com menos dúvida possível.

  • Gab. B

    Confie no seu potencial. Responda a questão sem voltar para o texto! 

  • Essas bancas fazem questões com mais de um gabarito, pois se a letra "B" está certa a letra "E" não está errada.

    Isso foi uma citação direta do Bin Laden e ao mesmo tempo com um tom irônico, uma vez que não existem "inocentes" no terrorismo.

  • Essa frase está ironia pura. Banca brincante!

  • USO DA ASPAS

    Citar Obras: 

    Quando queremos citar no texto o nome de uma obra, artigo, dissertações, teses, capítulos de livro, filmes, dentre outros, devemos utilizar as aspas (e ainda, o itálico), por exemplo:

    A “Gioconda” é a obra mais famosa de Leonardo Da Vinci; O autor relata em seu artigo intitulado “Memórias de um Soldado”, sua vida durante a guerra

  • pode até ser que uma das duas instâncias seja citação literal: como afirmou Bin Laden

    mas a outra só pode ser irônica, pois o sentido 'avesso' certamente não estava na fala dele, se é que ele disse isso.