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ID
1259836
Banca
FCC
Órgão
TCE-RS
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  Nosso jeitinho

      Um amigo meu, estrangeiro, já há uns seis anos morando no Brasil, lembrava-me outro dia qual fora sua principal dificuldade - entre várias - de se adaptar aos nossos costumes. “Certamente foi lidar com o tal do jeitinho”, explicou. “Custei a entender que aqui no Brasil nada está perdido, nenhum impasse é definitivo: sempre haverá como se dar um jeitinho em tudo, desde fazer o motor do carro velho funcionar com um pedaço de arame até conseguir que o primo do amigo do chefe da seção regional da Secretaria de Alimentos convença este último a influenciar o Diretor no despacho de um processo”.
      Meu amigo estrangeiro estava, como se vê, reconhecendo a nossa “informalidade” - que é o nome chique do tal do jeitinho. O sistema - também batizado pelos sociólogos como o do “favor” - não deixa de ser simpático, embora esteja longe de ser justo. Os beneficiados nunca reclamam, e os que jamais foram morrem de inveja e mantêm esperanças. Até o poeta Drummond tratou da questão no poema “Explicação”, em que diz a certa altura: “E no fim dá certo”. Essa conclusão aponta para uma espécie de providencialismo místico, contrapartida divina do jeitinho: tudo se há de arranjar, porque Deus é brasileiro. Entre a piada e a seriedade, muita gente segue contando com nosso modo tão jeitoso de viver.
      É possível que os tempos modernos tenham começado a desfavorecer a solução do jeitinho: a informatização de tudo, a rapidez da mídia, a divulgação instantânea nas redes sociais, tudo se encaminha para alguma transparência, que é a inimiga mortal da informalidade. Tudo se documenta, se registra, se formaliza de algum modo - e o jeitinho passa a ser facilmente desmascarado, comprometido o seu anonimato e perdendo força aquela simpática clandestinidade que sempre o protegeu. Mas há ainda muita gente que acha que nós, os brasileiros, com nossa indiscutível criatividade, daremos um jeito de contornar esse problema. Meu amigo estrangeiro, por exemplo, não perdeu a esperança
.

                           (Abelardo Trabulsi, inédito)

A singular condição que é a marca do jeitinho brasileiro está caracterizada no seguinte segmento:

Alternativas
Comentários
  • Faltaram os dois pontos para formar a carinha :D. É pegadinha do malandro???

  • A condição que é a marca do jeitinho é a clandestinidade.

    Errei esta questao e tive que voltar e analisar cada parte do texto, e enfim conclui. 

  • b) Os beneficiados nunca reclamam, e os que jamais foram morrem de inveja e mantêm esperanças.

    Acredito que neste caso o autor até relate uma característica do jeitinho brasileiro mas este não é o pivô/ marca deste jeitinho. Pois, a condição que leva os brasileiros a agirem desta maneira é a clandestinidade ou seja, fazem as coisas às escondidas e por isso  que o beneficiado nunca reclama para não sair da clandestinidade, não ser descoberto. Por isso a resposta é a letra d ''perdendo força aquela simpática clandestinidade que sempre o protegeu''


    Alguém discorda? Errei, marquei a letra b e essa foi a única justificativa que consegui encontrar.

  • A questão exigiu interpretação de texto de forma mais ampla. O famoso jeitinho brasileiro é realmente aquela coisa clandestina (e simpática, porque é coisa que pedimos aos nossos amigos), quer dizer, eu peço um favor a um colega, de forma secreta, e ainda acrescento “faça isso por mim, ninguém ficará sabendo mesmo...”. Bom, pelo menos foi assim que eu interpretei.

  • Também marquei a "b" e tive que voltar para o texto. Percebi então que "Os beneficiados nunca reclamam" é uma característica do jeitinho e não a condição. Segundo o 3º Parágrafo, as ferramentas dos tempos modernos podem contribuir para acabar com o jeitinho brasileiro, pois possibilitam identificar os beneficiados, acabando com a clandestinidade, esta sim, a condição da existência do jeitinho. 

    Essa foi a minha interpretação. 

  • Letra D. Questão difícil. A expressão aquela simpática clandestinidade, contida no 3º parágrafo, nos remete à condição do aspecto marcante do famigerado "jeitinho brasileiro".

  • Marquei a letra "B" e discordo de alguns colegas pois acho sim, que é uma condição. Justamente pelo fato de quem usufrui não reclama é que o "jeitinho brasileiro" se perpetua. Quem ganha com isso não acha ruim e quem não ganha, conforme o próprio o texto, morre de inveja. 

  • perdendo força aquela simpática clandestinidade que sempre o protegeu. O seguimento em negrito ajuda a responder.