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ID
1259845
Banca
FCC
Órgão
TCE-RS
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  Nosso jeitinho

      Um amigo meu, estrangeiro, já há uns seis anos morando no Brasil, lembrava-me outro dia qual fora sua principal dificuldade - entre várias - de se adaptar aos nossos costumes. “Certamente foi lidar com o tal do jeitinho”, explicou. “Custei a entender que aqui no Brasil nada está perdido, nenhum impasse é definitivo: sempre haverá como se dar um jeitinho em tudo, desde fazer o motor do carro velho funcionar com um pedaço de arame até conseguir que o primo do amigo do chefe da seção regional da Secretaria de Alimentos convença este último a influenciar o Diretor no despacho de um processo”.
      Meu amigo estrangeiro estava, como se vê, reconhecendo a nossa “informalidade” - que é o nome chique do tal do jeitinho. O sistema - também batizado pelos sociólogos como o do “favor” - não deixa de ser simpático, embora esteja longe de ser justo. Os beneficiados nunca reclamam, e os que jamais foram morrem de inveja e mantêm esperanças. Até o poeta Drummond tratou da questão no poema “Explicação”, em que diz a certa altura: “E no fim dá certo”. Essa conclusão aponta para uma espécie de providencialismo místico, contrapartida divina do jeitinho: tudo se há de arranjar, porque Deus é brasileiro. Entre a piada e a seriedade, muita gente segue contando com nosso modo tão jeitoso de viver.
      É possível que os tempos modernos tenham começado a desfavorecer a solução do jeitinho: a informatização de tudo, a rapidez da mídia, a divulgação instantânea nas redes sociais, tudo se encaminha para alguma transparência, que é a inimiga mortal da informalidade. Tudo se documenta, se registra, se formaliza de algum modo - e o jeitinho passa a ser facilmente desmascarado, comprometido o seu anonimato e perdendo força aquela simpática clandestinidade que sempre o protegeu. Mas há ainda muita gente que acha que nós, os brasileiros, com nossa indiscutível criatividade, daremos um jeito de contornar esse problema. Meu amigo estrangeiro, por exemplo, não perdeu a esperança
.

                           (Abelardo Trabulsi, inédito)

É correto inferir da leitura do texto que a prática do jeitinho, no Brasil,

Alternativas
Comentários
  • Para acertar a questão, devemos observar a última parte do último parágrafo: "Mas há ainda muita gente que acha que nós, os brasileiros, com nossa indiscutível criatividade, daremos um jeito de contornar esse problema." Meu amigo estrangeiro, por exemplo, não perdeu a esperança""
     P
    odemos perceber que o "estrangeiro" acredita que o brasileiro dará um jeitinho de contornar o problema de divulgação de informações, seja online, em jornais, mídias sociais, entre outros.
    Veja essa parte: " É possível que os tempos modernos tenham começado a desfavorecer a solução do jeitinho: a informatização de tudo, a rapidez da mídia, a divulgação instantânea nas redes sociais, tudo se encaminha para alguma transparência, que é a inimiga mortal da informalidade. Tudo se documenta, se registra, se formaliza de algum modo - e o jeitinho passa a ser facilmente desmascarado, comprometido o seu anonimato e perdendo força aquela simpática clandestinidade que sempre o protegeu."
    Correta letra E

  • Entendo que há dupla resposta para esta questão. Letras A e E.

    Assim como o texto ventila de forma indireta que o estrangeiro tem simpatia pelo jeitinho brasileiro, o texto também cita de forma até mais clara da condição folclórica do jeitinho brasileiro no fragmento de texto a seguir: "uma espécie de providencialismo místico, contrapartida divina do jeitinho".


    P.S.: É difícil entender as bancas; e aqui não tem jeitinho brasileiro.

  • Carlos Alberto, acredito que seja possível eliminar a alternativa a através do trecho: 

    ''Entre a piada e a seriedade, muita gente segue contando com nosso modo tão jeitoso de viver.''

    Em nenhum momento fala que a totalidade da população vê esse jeitinho brasileiro como piada mas sim que muita gente segue esse jeitinho. E ainda; alguns veem como piada e outros, seriedade.

  • A letra "E" me confundiu por causa da palavra tempos modernos, e o jeitinho brasileiro está sendo desmascarado e vem começando a desfavorecer o famoso jeitinho, e o estrangeiro ainda tem esperança de conseguir se adaptar sendo capaz de sobreviver ao jeitinho e não aos tempos modernos.

  • Mas é correto inferir que todo amigo estrangeiro vê o jeitinho brasileiro com simpatia? Não seria extrapolação?