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ID
1259851
Banca
FCC
Órgão
TCE-RS
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  Nosso jeitinho

      Um amigo meu, estrangeiro, já há uns seis anos morando no Brasil, lembrava-me outro dia qual fora sua principal dificuldade - entre várias - de se adaptar aos nossos costumes. “Certamente foi lidar com o tal do jeitinho”, explicou. “Custei a entender que aqui no Brasil nada está perdido, nenhum impasse é definitivo: sempre haverá como se dar um jeitinho em tudo, desde fazer o motor do carro velho funcionar com um pedaço de arame até conseguir que o primo do amigo do chefe da seção regional da Secretaria de Alimentos convença este último a influenciar o Diretor no despacho de um processo”.
      Meu amigo estrangeiro estava, como se vê, reconhecendo a nossa “informalidade” - que é o nome chique do tal do jeitinho. O sistema - também batizado pelos sociólogos como o do “favor” - não deixa de ser simpático, embora esteja longe de ser justo. Os beneficiados nunca reclamam, e os que jamais foram morrem de inveja e mantêm esperanças. Até o poeta Drummond tratou da questão no poema “Explicação”, em que diz a certa altura: “E no fim dá certo”. Essa conclusão aponta para uma espécie de providencialismo místico, contrapartida divina do jeitinho: tudo se há de arranjar, porque Deus é brasileiro. Entre a piada e a seriedade, muita gente segue contando com nosso modo tão jeitoso de viver.
      É possível que os tempos modernos tenham começado a desfavorecer a solução do jeitinho: a informatização de tudo, a rapidez da mídia, a divulgação instantânea nas redes sociais, tudo se encaminha para alguma transparência, que é a inimiga mortal da informalidade. Tudo se documenta, se registra, se formaliza de algum modo - e o jeitinho passa a ser facilmente desmascarado, comprometido o seu anonimato e perdendo força aquela simpática clandestinidade que sempre o protegeu. Mas há ainda muita gente que acha que nós, os brasileiros, com nossa indiscutível criatividade, daremos um jeito de contornar esse problema. Meu amigo estrangeiro, por exemplo, não perdeu a esperança
.

                           (Abelardo Trabulsi, inédito)

Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

Alternativas
Comentários
    •  a) Nem todos os estrangeiros acabam se possibilitando tal análise, de entender nosso jeitinho, cuja a informalidade lhes parece com toda a razão incompreensível.
    •  b) Embora distintos entre si, os dois exemplos de jeitinho que(PR) o autor do texto cita(CITAM) do amigo estrangeiro, parece-nos de fato convincentes de como eles se aplicam no nosso dia-a-dia.
    •  c) Num de seus poemas, Drummond resume num ver- so a confiança que todo brasileiro parece alimentar quanto ao desfecho favorável de uma situação difícil. GABARITO

  • A - erro, não existe artigo após cujo, cuja ....

  • Na alternativa "b", de fato, o problema é concordância. Porém, é na palavra parecer: ela deveria ser grafada no plural, parecem-nos.

  • a) Nem todos os estrangeiros acabam se possibilitando tal análise, de entender nosso jeitinho, cuja a (apenas cuja) informalidade lhes parece com toda a razão incompreensível.

    b) Embora distintos entre si, os dois exemplos de jeitinho que o autor do texto cita do amigo estrangeiro, parece(m)-nos de fato convincentes de como eles se aplicam no nosso dia-a-dia.  Obs.: Os dois exemplos de jeitinho parecem ...

    d) Em nosso tempo não há muita vantagem de que a tecnologia se some ao nosso jeitinho, pois este se mantém e se supõe numa informalidade da qual (a qual) a nossa mídia já não permite. Obs.: o verbo permitir é VTD, desta forma, não há a necessidade da preposição de. ' A nossa mídia não permite a informalidade'

    e) Os sociólogos já vêm há tempos especulando do (sobre) nosso jeitinho, que preferem identificar-se(lo) como “sistema de favor”, embora o fenômeno seja o mesmo. Obs.: Os sociólogos preferem identificar o nosso jeitinho como ''sistema de favor''

  • Além do erro de concordância já apresentado pela colega acima, na alternativa B também podemos visualizar a presença de ambiguidade.


    Como a questão pede a redação clara e correta, acredito que esse tipo de análise também se faz importante aqui. Observe:


    b) Embora distintos entre si, os dois exemplos de jeitinho que o autor do texto cita do amigo estrangeiro, pareceM-nos de fato convincentes de como eles se aplicam no nosso dia-a-dia.


    "os dois exemplos de jeitinho que o autor do texto cita do amigo estrangeiro" - esse trecho pode ter dois tipos de interpretação:


    1 - o autor do texto cita dois exemplos de jeitinho comentados pelo amigo estrangeiro.  


    2 - o autor do texto cita dois exemplos de jeitinho do amigo estrangeiro - como se os jeitinhos fossem do amigo estrangeiro. 

  • Só para constar: na letra B o erro está em "parece-nos" mesmo e não em "cita", como disseram alguns. 

    "Os dois exemplos de jeitinho que o autor cita do amigo estrangeiro". É isso mesmo. O autor do texto cita. O verbo concorda com o sujeito e não com o objeto.

  • a.Nem todos os estrangeiros acabam se possibilitando tal análise, de entender nosso jeitinho, cuja a informalidade lhes parece com toda a razão incompreensível. (não existe artigo antes ou depois de cuja)

    b Embora distintos entre si, os dois exemplos de jeitinho (sujeito) que o autor do texto cita do amigo estrangeiro, pareceM-nos de fato convincentes de como eles se aplicam no nosso dia-a-dia. 
    dia a dia (sem hífen)

    c Num de seus poemas, Drummond resume num verso a confiança que todo brasileiro parece alimentar quanto ao desfecho favorável de uma situação difícil. (correta)

    d Em nosso tempo não há muita vantagem de que a tecnologia se some ao nosso jeitinho, pois este se mantém e se supõe numa informalidade da qual a nossa mídia já não permite. (permitir não exige preposição, da qual)

    e Os sociólogos já vêm há tempos especulando do nosso jeitinho, que preferem identificar-se como “sistema de favor”, embora o fenômeno seja o mesmo. 
    -->especulando o nosso jeitinho ou acerca do nosso jeitinho