SóProvas


ID
1263625
Banca
FUNCAB
Órgão
PRF
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1

Inauguração da Avenida

      [...]
      Já lá se vão cinco dias. E ainda não houve aclamações, ainda não houve delírio. O choque foi rude demais. Acalma ainda não renasceu.
      Mas o que há de mais interessante na vida dessa mó de povo que se está comprimindo e revoluteando na Avenida, entre a Prainha e o Boqueirão, é o tom das conversas, que o ouvido de um observador apanha aqui e ali, neste ou naquele grupo.
      Não falo das conversas da gente culta, dos “doutores” que se julgam doutos.
Falo das conversas do povo - do povo rude, que contempla e critica a arquitetura dos prédios: “Não gosto deste... Gosto mais daquele... Este é mais rico... Aquele tem mais arte... Este é pesado... Aquele é mais elegante...”.
      Ainda nesta sexta-feira, à noite, entremeti-me num grupo e fiquei saboreando uma dessas discussões. Os conversadores, à luz rebrilhante do gás e da eletricidade, iam apontando os prédios: e - cousa consoladora - eu, que acompanhava com os ouvidos e com os olhos a discussão, nem uma só vez deixei de concordar com a opinião do grupo. Com um instintivo bom gosto subitamente nascido, como por um desses milagres a que os teólogos dão o nome de “mistérios da Graça revelada” - aquela simples e rude gente, que nunca vira palácios, que nunca recebera a noção mais rudimentar da arte da arquitetura, estava ali discernindo entre o bom e o mau, e discernindo com clarividência e precisão, separando o trigo do joio, e distinguindo do vidro ordinário o diamante puro.
      É que o nosso povo - nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade, que tanto beneficia as plantas como os homens - tem uma inteligência nativa, exuberante e pronta, que é feita de sobressaltos e relâmpagos, e que apanha e fixa na confusão as ideias, como a placa sensibilizada de uma máquina fotográfica apanha e fixa, ao clarão instantâneo de uma faísca de luz oxídrica, todos os objetos mergulhados na penumbra de uma sala...
      E, pela Avenida em fora, acotovelando outros grupos, fui pensando na revolução moral e intelectual que se vai operar na população, em virtude da reforma material da cidade.
      A melhor educação é a que entra pelos olhos. Bastou que, deste solo coberto de baiucas e taperas, surgissem alguns palácios, para que imediatamente nas almas mais incultas brotasse de súbito a fina flor do bom gosto: olhos, que só haviam contemplado até então betesgas, compreenderam logo o que é a arquitetura. Que não será quando da velha cidade colonial, estupidamente conservada até agora como um pesadelo do passado, apenas restar a lembrança?
      [...]
      E quando cheguei ao Boqueirão do Passeio, voltei-me, e contemplei mais uma vez a Avenida, em toda sua gloriosa e luminosa extensão. [...]

Gazeta de Notícias - 19 nov.1905. Bilac, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. São Paulo: Companhia de Letras, 1996, p. 264-267.

Vocabulário:
baiuca: local de última categoria, malfrequentado.
betesga: rua estreita, sem saída,
: do latim “mole” , multidão; grande quantidade,
revolutear: agitar-se em várias direções,
tapera: lugar malconservado e de mau aspecto

A língua escrita não dispõe dos inumeráveis recursos rítmicos e melódicos da língua falada. Para reconstituir aproximadamente o movimento vivo da elocução oral, serve-se da pontuação.

Nessa perspectiva, assinale a alternativa correta quanto à justificativa do uso dos travessões em: “É que o nosso povo - nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade, que tanto beneficia as plantas como os homens — tem uma inteligência nativa...” (texto 1 — § 6)

Alternativas
Comentários
  • Alguém poderia me explicar o por que de ser a letra C?

  • O que está dentro dos travessões é uma "informação extra", um "complemento". Ou seja, um adendo. E essa é uma das funções da vírgula, ou nesse caso, uma das funções do travessão também. Aquilo que está delimitado pelos travessões não é mais que uma mera explicação sobre "nosso povo" que aparece escrito na frase.

  • Só para complementar:


    Adendo significa aquele que é somadoadicionado, acrescido em algo que já havia sido feito anteriormente, por exemplo, um texto. É uma palavra de origem no latim (addenda). Adendo é um complemento de um livro, contrato, docies etc.

    Adendo significa aquilo que se ajunta a uma obra para complementá-la. É o mesmo que aditamento, complemento, apêndice, cuja finalidade é acrescentar informações ou retificar dados.

    Adendo é algo que deve ser acrescentado.

    Fonte: http://www.significados.com.br/adendo/

  • a letra "A" está errada porque quem faz o papel de destacar e enfatizar é o sinal de Aspas

  • Gente, como é difícil estudar português viu! 

  • Essa banca é marota! 

  • "Adendo" quer dizer explicação. Errei a questão por desconhecer a palavra apesar de saber que, na oração, os travessões estão isolando uma explicação. :\


  • Adendo = Acréscimo (Aposto)

  • A alternativa "C" é a CORRETA.

     

     

    Devemos indicar a justificativa do uso dos travessões no trecho seguinte:

     

    "É que o nosso povo — nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade, que tanto beneficia as plantas como os homens — tem uma inteligência nativa..."

     

    O segmento entre travessões traz uma explicação sobre o "nosso povo". Temos, portanto, uma informação adicional intercalada no período, por isso foram utilizados os travessões. Também poderiam ter sido utilizados os parênteses ou as vírgulas.

    Assim, a letra "C" é a CORRETA: os travessões delimitam um adendo que se intercala no discurso.

     

    Um adendo é um acréscimo, uma informação adicional.

    No segmento "nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade", temos oração subordinada adjetiva explicativa reduzida de particípio ("nascido" / "criado") que se refere a "nosso povo".

    No segmento "que tanto beneficia as plantas como os homens", temos oração subordinada adjetiva explicativa que refere a "clima de calor e umidade". São, portanto, dois segmentos explicativos que estão intercalados (estão no interior do período).

     

    Vejamos as opções incorretas:

     

    a) Destacam, enfaticamente, o que representa a síntese conclusiva do que se diz anteriormente.

    Um síntese é um resumo. O segmento entre travessões não resume, mas sim explica a expressão "nosso povo". Ele traz uma informação adicional, e não uma síntese.

    b) Ligam palavras ou grupos de palavras que se encadeiam em sintagmas verbais.

    Essa ideia de "palavras ou grupos de palavras que se encadeiam em sintagmas verbais" é uma definição de oração.

    Os travessões têm a finalidade de isolar todo esse segmento intercalado, que é formado por orações adjetiva explicativas, como vimos. Não existe aqui essa função de ligar orações, mas sim de separá-las do restante do período.

    d) Indicam a mudança de interlocutor.

    Gente, os travessões são utilizados para marcar a mudança de interlocutor em diálogos, normalmente em textos narrativos. Não é a situação que temos aqui.

    e) Introduzem uma sequência declarativa de sentido completo, interrompendo a sequência frasal.

    Vimos que o segmento traz orações subordinadas adjetivas explicativas. Essas orações não possuem um sentido completo justamente porque são SUBORDINATIVAS, ou seja, dependem das orações principais nos aspectos semântico e sintático. O segmento "nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade" se refere a "nosso povo", portanto depende da oração antecedente para que seja compreendido completamente

  • por desconhecer o significado de "adendo" , cai na pegadinha, pensei que era a letra A. questão confusa.