SóProvas


ID
1263631
Banca
FUNCAB
Órgão
PRF
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1

Inauguração da Avenida

      [...]
      Já lá se vão cinco dias. E ainda não houve aclamações, ainda não houve delírio. O choque foi rude demais. Acalma ainda não renasceu.
      Mas o que há de mais interessante na vida dessa mó de povo que se está comprimindo e revoluteando na Avenida, entre a Prainha e o Boqueirão, é o tom das conversas, que o ouvido de um observador apanha aqui e ali, neste ou naquele grupo.
      Não falo das conversas da gente culta, dos “doutores” que se julgam doutos.
Falo das conversas do povo - do povo rude, que contempla e critica a arquitetura dos prédios: “Não gosto deste... Gosto mais daquele... Este é mais rico... Aquele tem mais arte... Este é pesado... Aquele é mais elegante...”.
      Ainda nesta sexta-feira, à noite, entremeti-me num grupo e fiquei saboreando uma dessas discussões. Os conversadores, à luz rebrilhante do gás e da eletricidade, iam apontando os prédios: e - cousa consoladora - eu, que acompanhava com os ouvidos e com os olhos a discussão, nem uma só vez deixei de concordar com a opinião do grupo. Com um instintivo bom gosto subitamente nascido, como por um desses milagres a que os teólogos dão o nome de “mistérios da Graça revelada” - aquela simples e rude gente, que nunca vira palácios, que nunca recebera a noção mais rudimentar da arte da arquitetura, estava ali discernindo entre o bom e o mau, e discernindo com clarividência e precisão, separando o trigo do joio, e distinguindo do vidro ordinário o diamante puro.
      É que o nosso povo - nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade, que tanto beneficia as plantas como os homens - tem uma inteligência nativa, exuberante e pronta, que é feita de sobressaltos e relâmpagos, e que apanha e fixa na confusão as ideias, como a placa sensibilizada de uma máquina fotográfica apanha e fixa, ao clarão instantâneo de uma faísca de luz oxídrica, todos os objetos mergulhados na penumbra de uma sala...
      E, pela Avenida em fora, acotovelando outros grupos, fui pensando na revolução moral e intelectual que se vai operar na população, em virtude da reforma material da cidade.
      A melhor educação é a que entra pelos olhos. Bastou que, deste solo coberto de baiucas e taperas, surgissem alguns palácios, para que imediatamente nas almas mais incultas brotasse de súbito a fina flor do bom gosto: olhos, que só haviam contemplado até então betesgas, compreenderam logo o que é a arquitetura. Que não será quando da velha cidade colonial, estupidamente conservada até agora como um pesadelo do passado, apenas restar a lembrança?
      [...]
      E quando cheguei ao Boqueirão do Passeio, voltei-me, e contemplei mais uma vez a Avenida, em toda sua gloriosa e luminosa extensão. [...]

Gazeta de Notícias - 19 nov.1905. Bilac, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. São Paulo: Companhia de Letras, 1996, p. 264-267.

Vocabulário:
baiuca: local de última categoria, malfrequentado.
betesga: rua estreita, sem saída,
: do latim “mole” , multidão; grande quantidade,
revolutear: agitar-se em várias direções,
tapera: lugar malconservado e de mau aspecto

Sobre a oração destacada em “Não falo das conversas da gente culta, dos ‘doutores’ QUE SE JULGAM DOUTOS.” (textol - § 3), é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • DELIMITANDO : "QUE SE JULGAM DOUTOS", ou seja, não são todos, mas sim parte de um conjunto.

  • As explicações da TAMILLY  são as melhores!!!

    Agora eu estou entendendo melhor o nosso Português!

  • Este sintagma adjetivo, significa que se dá uma característica a eles? Alguém sabe explicar?

  • Ŀ£Ø ©µЙП@ Que desnecessario esse comentáio sobre a resposta da colega.

    Pode não ajudar a entender melhor a gramática, mas ajuda muita gente que não tem assinatura e não tem como saber a resposta da questão, vendo apenas comentários.

  • Trata-se de uma ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA RESTRITIVA, introduzida pelo PRONOME RELATIVO "que", este representa o nome mencionado anteriormente.

    As ORAÇÕES SUBORDINADAS são: orações que possuem valor e função de adjetivo, em que se equivale a um adjetivo.

  • Sintagma é um segmento lingüístico que expressa uma relação de dependência.


    Nessa relação de dependência, diz-se que existe um elemento determinado e outro determinante (ou subordinado), estabelecendo um elo de subordinação entre ambos. Cada um desses elementos constitui umsintagma.


    Sintagma é comumente empregado para se referir às partes da sentença. Dessa forma, o sintagma se caracteriza conforme o tipo gramatical dos seus elementos nucleares:



    · sintagma nominal (SN): quando o núcleo do sintagma é um nome



    · sintagma adjetival (SAdj): quando o núcleo do sintagma é um adjetivo



    · sintagma verbal (SV): quando o núcleo do sintagma é um verbo



    · sintagma preposicional (SP): quando o núcleo do sintagma é uma preposição



    · sintagma adverbial (SAdv): quando o núcleo do sintagma é um advérbio




    Veja mais: http://www.nilc.icmc.usp.br/minigramatica/mini/sintagma.htm

  • Gab D

    É uma oração adjetiva restritiva (se refere a um grupo)

    Obs: se tivesse uma vírgula antes do termo QUE seria uma oração adjetiva explicativa.