SóProvas


ID
1275142
Banca
FCC
Órgão
AL-PE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Considere o texto abaixo para responder a questão.


                Vitalino


        A mãe de Vitalino era louceira. E foi vendo-a moldar os tourinhos de cachaço crivado de furos para neles se espetarem os palitos de dentes, que Vitalino sentiu aos seis anos vontade de plasmar* aqueles outros bichos, como os via no terreiro da casa – galos, cachorros, calangos. Depois feras – onças, jacarés. Depois gente ... 

        Também a arte de Vitalino veio se complicando. Já não se limita ele aos simples bichinhos de plástica* tão ingenuamente pura. Atira-se a composições de grupos, com meio metro de comprido e uns vinte centímetros de altura. Cenas da terra: casamentos, confissões na igreja, o soldado pegando o ladrão de galinhas ou o bêbado, a moenda, a casa de farinha etc. 

        Aliás, nesse delicioso ainda que humilde gênero de escultura, Vitalino não está sozinho, não. Outras cidadezinhas do interior de Pernambuco (em todo o Nordeste, creio eu, não sou entendido no assunto, esta crônica devia ter sido encomendada à mestra Cecília Meireles) têm o seu Vitalino. Por exemplo, Sirinhaém tem o seu Severino. Naturalmente, quando se trata de saber quem entre os dois é o tal, os colecionadores se dividem. E, naturalmente, também os [irmãos] Condé torcem para o Vitalino, que é de Caruaru.

        Já tive muitas dessas figurinhas em minha casa. Não sei se alguma era de Vitalino ou de Severino. Sei que eram realmente obras de arte, especialmente certo papagaiozinho naquela atitude jururu de quem (quem papagaio) está bolando para acertar uma digna do anedotário da espécie. Acabei dando o meu papagaio. Sempre acabo dando os meus calungas de barro. Não há coisa quese dê com mais prazer. 

        Mesmo porque, quando não se dá, elas se quebram. Se quebram com a maior facilidade. E isso, na minha idade, é de uma melancolia que me põe doente. Não quero mais saber de coisas efêmeras*. Deus me livre de ganhar afeição a passarinho: eles morrem à toa. Flor mesmo dei para só gostar de ver onde nasceu, a rosa na roseira etc. Uma flor que murcha num vaso está acima de minhas forças


*plasmar = moldar, modelar 

*plástica = arte de plasmar; forma do corpo 

*efêmero = que dura um dia; passageiro, temporário, transitório 

(Adaptado de: BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, v. único, 1993, p. 479-481) 


Considere o que se afirma em relação ao emprego de sinais de pontuação no texto. Está correto o que consta em:

Alternativas
Comentários
    •  a) Na frase Também a arte de Vitalino veio se complicando, no 2º parágrafo, estaria correta a colocação de uma vírgula em seguida ao nome do artesão.
    •         Também a arte de Vitalino, veio se complicando.  Errado separa sujeito do verbo


    •  b) Os dois segmentos isolados pelos travessões no 1º parágrafo apresentam função semelhante à do que vem introduzido por dois pontos no 2º parágrafo. (correto)
    •  c) A presença dos dois-pontos antes do segmento eles morrem à toa, no último parágrafo, indica uma condição, que vai justificar o pessimismo do autor em relação às figuras de barro.
    •        ...Deus me livre de ganhar afeição a passarinho: eles morrem à toa. Flor mesmo dei para só gostar de ver onde nasceu, a rosa na roseira etc.... 



  • GAB: B

    Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem para compor a coesão e a coerência textual  além de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas. Veremos aqui as principais funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo uso da língua portuguesa.

    Ponto
    1- Indica o término do discurso ou de parte dele.

    - Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em que se encontra.
    - Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite.
    - Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava.

    2- Usa-se nas abreviações

    V. Exª.
    - Sr.

    Ponto e Vírgula ( ; )
    1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma importância.

    “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão pelo pão a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; os de nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)

    2- Separa partes de frases que já estão separadas por vírgulas.

    Alguns quiseram verão, praia e calor; outros montanhas, frio e cobertor.

    3- Separa itens de uma enumeração, exposição de motivos, decreto de lei, etc.

    - Ir ao supermercado;
    - Pegar as crianças na escola;
    - Caminhada na praia;
    - Reunião com amigos.

    Dois pontos

    1- Antes de uma citação

    Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:

    2- Antes de um aposto

    Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite.

    3- Antes de uma explicação ou esclarecimento

    Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a rotina de sempre.

    4- Em frases de estilo direto

    Maria perguntou: - Por que você não toma uma decisão?

    Ponto de Exclamação
    1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto, súplica, etc.

    Sim! Claro que eu quero me casar com você!

    2- Depois de interjeições ou vocativos

    - Ai! Que susto!
    - João! Há quanto tempo!

    Ponto de Interrogação
    Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.

    “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)

    Reticências
    1- Indica que palavras foram suprimidas.

    - Comprei lápis, canetas, cadernos...

    2- Indica interrupção violenta da frase.

    “- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”

    3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida

    - Este mal... pega doutor?

    4- Indica que o sentido vai além do que foi dito

    Deixa, depois, o coração falar...

    Vírgula

    É usada para vários objetivos, mas em geral usamos a vírgula para dar pausa à leitura ou para indicar que algum elemento da frase foi deslocado da sua posição canônica.

    Fonte: InfoEscola

  • a) Na frase Também a arte de Vitalino veio se complicando, no 2º parágrafo, estaria correta a colocação de uma vírgula em seguida ao nome do artesão.
    Errado. Não se separa sujeito e predicado por vírgulas.

    b) Os dois segmentos isolados pelos travessões no 1º parágrafo apresentam função semelhante à do que vem introduzido por dois pontos no 2º parágrafo.
    Correto. Os segmentos posteriores ao travessão e aos dois pontos são enumerações.

    c)A presença dos dois-pontos antes do segmento eles morrem à toa, no último parágrafo, indica uma condição, que vai justificar o pessimismo do autor em relação às figuras de barro.
    Errado. Indica uma consequência. Os dois pontos poderiam ser substituído por: já que, visto que, pois, porque, etc.

    d) Os segmentos introduzidos pelos dois pontos – no 2º e no 5º parágrafos – apresentam idêntica função, ou seja, a de enumeração.
    Errado. No 2 parágrafo os dois pontos apresentam a ideia de enumeração, contudo, no 5 parágrafo, concluem uma ideia apresentada anteriormente introduzindo uma oração subordinada substantiva causal.

    e) O uso das reticências no final do 1º parágrafo coloca em dúvida o acerto de Vitalino, ao substituir os modelos de alguns bichos por representações de pessoas feitas em barro.
    Errado. Não coloca em dúvida, apenas que há uma continuidade da ação de modelar.

  • A] Errado. Não se separa sujeito do verbo.

     

    B] GABARITO ----> APOSTO ENUMERATIVO

     

    C] causal (já que, uma vez que, pois)

     

    D] ERRADO

    Cenas da terra: casamentos, confissões na igreja, o soldado pegando o ladrão de galinhas ou o bêbado, a moenda, a casa de farinha etc.    (enumeração)

     

    Deus me livre de ganhar afeição a passarinho: eles morrem à toa. (causal); pode ser substituído por UMA VEZ QUE, JÁ QUE, VISTO QUE, POIS

     

    E] Errado. Não coloca em dúvida.