SóProvas


ID
1275148
Banca
FCC
Órgão
AL-PE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Considere o texto abaixo para responder a questão.


                Vitalino


        A mãe de Vitalino era louceira. E foi vendo-a moldar os tourinhos de cachaço crivado de furos para neles se espetarem os palitos de dentes, que Vitalino sentiu aos seis anos vontade de plasmar* aqueles outros bichos, como os via no terreiro da casa – galos, cachorros, calangos. Depois feras – onças, jacarés. Depois gente ... 

        Também a arte de Vitalino veio se complicando. Já não se limita ele aos simples bichinhos de plástica* tão ingenuamente pura. Atira-se a composições de grupos, com meio metro de comprido e uns vinte centímetros de altura. Cenas da terra: casamentos, confissões na igreja, o soldado pegando o ladrão de galinhas ou o bêbado, a moenda, a casa de farinha etc. 

        Aliás, nesse delicioso ainda que humilde gênero de escultura, Vitalino não está sozinho, não. Outras cidadezinhas do interior de Pernambuco (em todo o Nordeste, creio eu, não sou entendido no assunto, esta crônica devia ter sido encomendada à mestra Cecília Meireles) têm o seu Vitalino. Por exemplo, Sirinhaém tem o seu Severino. Naturalmente, quando se trata de saber quem entre os dois é o tal, os colecionadores se dividem. E, naturalmente, também os [irmãos] Condé torcem para o Vitalino, que é de Caruaru.

        Já tive muitas dessas figurinhas em minha casa. Não sei se alguma era de Vitalino ou de Severino. Sei que eram realmente obras de arte, especialmente certo papagaiozinho naquela atitude jururu de quem (quem papagaio) está bolando para acertar uma digna do anedotário da espécie. Acabei dando o meu papagaio. Sempre acabo dando os meus calungas de barro. Não há coisa quese dê com mais prazer. 

        Mesmo porque, quando não se dá, elas se quebram. Se quebram com a maior facilidade. E isso, na minha idade, é de uma melancolia que me põe doente. Não quero mais saber de coisas efêmeras*. Deus me livre de ganhar afeição a passarinho: eles morrem à toa. Flor mesmo dei para só gostar de ver onde nasceu, a rosa na roseira etc. Uma flor que murcha num vaso está acima de minhas forças


*plasmar = moldar, modelar 

*plástica = arte de plasmar; forma do corpo 

*efêmero = que dura um dia; passageiro, temporário, transitório 

(Adaptado de: BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, v. único, 1993, p. 479-481) 


(em todo o Nordeste, creio eu, não sou entendido no assunto, esta crônica devia ter sido encomendada à mestra Cecília Meireles)

O segmento acima, isolado por parênteses no 3º parágrafo, deve ser entendido como

Alternativas
Comentários
  • Estas questões de Compreensão e interpretação de textos da FCC,sinceramente viu!!!

  • O que Cecilia Meireles tem a ver com o assunto? Ave Maria, para mim seria a letra: B)interferência de um interlocutor distante do assunto que se desenvolve. 
    Uma vez que o ele cita a reconhecida autora, talvez pela falta de domínio no conteúdo do contexto tratado.

  • É um comentário pessoal. O que justifica a resposta é a parte que diz "creio eu".

  • Letra C

    Parênteses são usados quando se quer explicar melhor algo que foi dito ou para fazer indicações/comentários.

    Ex: Foi o homem que cometeu o crime ( o assassinato do irmão )


  • vi que tem gente confundindo "LOCUTOR" com "INTERLOCUTOR"

    Pessoal, a resposta não pode ser a letra "b", porque o comentário foi do autor(locutor) do texto, um comentário pessoal, e não de uma pessoa distante do texto(interlocutor), ou seja, alguém a quem a enunciação é dirigida.

  • "creio eu" só nessa parte você já mata muito a questão, pois emprega o individualismo na frase.