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ID
1282516
Banca
FCC
Órgão
TRF - 4ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Quando se olha para o que aconteceu no cenário cultural brasileiro durante a última década e meia, não há como escapar do impacto da tecnologia. Ela possibilitou a reorganização dos universos da música, dos filmes e dos livros. Motivou igualmente o surgimento das mídias sociais e das megaempresas que as gerenciam, além de democratizar e ampliar a produção em todas as áreas. Nunca se produziu tanto como agora.

As inovações tecnológicas modificaram completamente o debate sobre cultura, trazendo, para os próximos anos, ao menos três questões centrais. A primeira é a tensão entre as formas ampliadas de criatividade e os contornos cada vez mais restritos dos direitos autorais. Com a tecnologia, gerou-se um contingente maciço de novos produtores de conteúdo. Isso faz com que os limites do que chamamos “cultura” fiquem permanentemente sujeitos a contínuas “invasões bárbaras”, vindas dos recantos mais inusitados. Vez por outra, alguns casos simbólicos extraem essas tensões do cotidiano no qual elas ocorrem e as colocam num contexto jurídico, em que uma decisão precisa ser tomada.

O outro tema é o permanente conflito entre passado e futuro, exacerbado pela atual revolução tecnológica. Em seu livro mais recente, Retromania, o escritor e crítico inglês Simon Reynolds afirma que nosso atual uso da tecnologia, em vez de apontar novos caminhos estéticos, está criando um generalizado pastiche do passado. Vivemos num mundo onde todo legado cultural está acessível a apenas um clique. Uma das respostas inteligentes à provocação de Reynolds vem dos proponentes da chamada “nova estética”, como o designer inglês James Bridle: para eles, mesmo sem perceber com clareza, estamos desenvolvendo novos modos de representar a realidade, em que o “real” mistura-se cada vez mais a sucessivas camadas virtuais. O mundo está cheio de novidades. É só reeducar o olhar para enxergá-las, algo que Reynolds ainda não teria feito.

A tese de Reynolds abre caminho para o terceiro ponto. Na medida em que “terceirizamos” nossa memória para as redes em que estamos conectados (a nuvem), ignoramos o quanto o suporte digital é efêmero. Não existe museu nem arquivo para conservar essas memórias coletivas. Artefatos digitais culturais se evaporam o tempo todo e se perdem para sempre: são deletados, ficam obsoletos ou tornam-se simplesmente inacessíveis. Apesar de muita gente torcer o nariz à menção do Orkut, a “velha” rede social é talvez o mais rico e detalhado documento do período 2004-2011 no Brasil, já que registrou em suas infinitas comunidades a ascensão da classe C e a progressão da inclusão digital. No entanto, basta uma decisão do Google para tudo ficar inalcançável.

(Adaptado de Ronaldo Lemos. Bravo! outubro de 2012, edição especial de aniversário, p. 26)

Afirma-se corretamente, de acordo com o texto:

Alternativas
Comentários
  • " Apesar de muita gente torcer o nariz à menção do Orkut, a “velha” rede social é talvez o mais rico e detalhado documento do período 2004-2011 no Brasil, já que registrou em suas infinitas comunidades a ascensão da classe C e a progressão da inclusão digital. No entanto, basta uma decisão do Google para tudo ficar inalcançável."

    quem diria que um texto de 2012, caiu numa prova em 2014, realmente previu o que viria a acontecer com o orkut meses depois, impressionante, rip orkut

  • Allan Costa, se você não concorda com o gabarito, compre a banca. Ou então senta e chora ! As bancas estão acima do STF e abaixo de Deus

  • Gab. E

    Algumas formas de vc encontrar base na resposta é que o texto fala de como o avanço tecnológico impulsionou o país a crescer e não só isso, mas levou a um debate sobre três questões centrais que ele retrata no texto.
    Exatamente como está na letra E.

    Os avanços da tecnologia permitiram maior amplitude à produção cultural brasileira, expondo, no entanto, algumas questões a serem debatidas e, eventualmente, regulamentadas.

  • Um dos trechos do texto que também justificam a resposta: letra E
    2º parágrafo > Vez por outra, alguns casos simbólicos extraem essas tensões do cotidiano no qual elas ocorrem e as colocam num contexto jurídico, em que uma decisão precisa ser tomada.

  • ERRO EM NEGRITO

    a) As questões que envolvem a evolução tecnológica atual se apresentam como obstáculos para a divulgação de obras culturais, ainda que se considere a importância do impacto virtual nas mídias sociais.

    b) O avanço da tecnologia é uma das garantias de que as obras apresentadas na mídia virtual sejam realmente criações originais de seus autores.

    c) A exposição de obras culturais por meio virtual, possibilitada pelo extraordinário avanço tecnológico, é consequência da qualidade intrínseca dessas obras.

    d) A divulgação maciça de obras nos meios virtuais prejudica o equilíbrio entre as conquistas do passado e a realidade presente, no sentido de que, apesar da quantidade, é raro haver criatividade em tais obras.