Muito além do ridículo  (fragmento)
     "Certa vez,  ante o espanto da opinião pública  com a violência  de  uma  rebelião  de  presos,  o  memorável  jurista  Evandro  Lins  e  Silva  saiu-se  com  esta:  espantoso,  mesmo,  é  que  os  detentos  enjaulados  em  condições  subumanas  não  estejam  realizando  mais motins pelo país afora.
     Lins  era  um  humanista  por  excelência  e  sempre  achou  equivocada a política penitenciária. Não havia  ironia no que disse.  Com mais de 500 mil  presos, o sistema atual  tem capacidade para  receber pouco mais de  300 mil.  O  que  sobra  fica  amontoado  em  celas fétidas,  sujeito à disseminação de doenças e, o que é pior,  a  mais violência.  Como  é  possível  imaginar que  um  ser humano  se  adapte a tais condições?
     Do  outro  lado  dos muros das  prisões,  uma  sociedade  acuada  pela  escalada  da  violência  urbana  prefere  imaginar que  lugar de  bandido  é  na  cadeia,  deixando  o  Estado  à  vontade  para  varrer a  sujeira  tapete  abaixo.  Construir presídios e dar tratamento digno  ao preso não  rendem votos.  Punir,  sim.
     Daí  porque  se  discute  tanto  um  novo  Código  Penal,  como  se  fossem  frouxas  as  117  leis  penais  especiais  e  os  1.170  crimes  tipificados de  que  dispomos.  Inclusive  trazendo de volta  a  ideia  da  maioridade  penal,  que  na  prática  significa  transformar menino  em  delinquente  e  sujeitá-lo  à  crueldade  das  prisões.  Nada  mais  autoritário.  O  que  a  juventude  precisa  é  de  amparo,  de  oportunidade, de educação, e não de medidas que visem a puni-la.
     A  sociedade  não  pode  virar  as  costas  ao  drama  dos  presídios".
                                                                                                      (Marcus Vinicius Furtado)
"...espantoso, mesmo, é que os detentos enjaulados...".
O vocábulo "mesmo" foi colocado entre vírgulas com a  intenção de