Expressão criada por Jacques Lacan, em 1936, para designar um momento
psíquico da evolução humana, situado entre os 6 e os 18 meses, durante o
qual a criança antecipa o domínio sobre a sua unidade corporal através
de uma identificação com a imagem do semelhante e da percepção da sua
própria imagem num espelho.
É uma experiência em que a criança
perceciona a imagem que vê no espelho. No início, a aparência é a de um
desconhecido, mas aos poucos ela vai intuindo como sendo a sua, já que
se apercebe que o espelho é uma superfície lisa e fria e, por isso, não
pode ser outro bebê, acabando por se reconhecer como sendo ela própria.
Em
1931, o psicólogo Henri Wallon chamou de "prova de espelho" a uma
experiência pela qual a criança, colocada diante de um espelho, passa
progressivamente a distinguir o seu próprio corpo da sua imagem
refletida, o que retrata uma compreensão simbólica do espaço imaginário.
Lacan,
em 1936, retoma esta terminologia, mas transformando a prova de espelho
num "estádio do espelho". Mais tarde, Lacan afasta-se da ideia de
Wallon ao colocar o estádio não como um processo consciente da criança
mas como um processo inconsciente e fazendo parte do imaginário da
criança.
Segundo Lacan, entre os 6 e os 18 meses, a criança ainda se
encontra num estado de impotência e de descoordenação motora, mas
antecipa imaginariamente a apreensão e o domínio da sua unidade
corporal. Esta unidade opera-se por identificação com a imagem do
semelhante como forma total. Ilustra-se e atualiza-se pela experiência
concreta em que a criança apercebe a sua própria imagem num espelho. A
fase do espelho constituiria a matriz e o esboço do que há de ser o ego,
ou seja, o esboço do ego.
Para Françoise Dolto, o estádio do espelho
é simbólico para a criança do seu estar no mundo como individuo
separado do outro, mas existindo no meio dos outros.
A criança vai-se
conhecendo a si mesma por quem lhe fala, através do outro, dia após
dia, e este encontro vai personalizando-a, sendo ela representada
auditivamente através do seu nome pronunciado pelo outro e pelas
perceções que ela reconhece e que fazem a especificidade daquela pessoa
(a mãe), repetidamente reencontrada. Tudo isto é importante e faz parte
do desenvolvimento, mas não individualiza a criança quanto ao seu corpo.
A criança tem de se ir separando da mãe, através do desmame, através
dos primeiros passos, etc.
A ligação sujeito/corpo, a individuação e
os limites do seu próprio corpo, decorre da experiência do espelho. Aí
descobre-se como individuo único e com um corpo separado e
individualizado.
http://www.infopedia.pt/$estadio-do-espelho