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ID
1331071
Banca
CETRO
Órgão
Ministério das Cidades
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                  Sem ódio

      Ao término de laboriosas pesquisas, mesas-redondas, simpósios, inquéritos e análises em laboratórios de psicologia,descobriu-se que os motoristas guiavam com ódio. Agora que isto ficou esclarecido, a solução, fácil e independente do Código Nacional de Trânsito, que por ser código não costuma ser cumprido, está na frase: GUIE SEM ÓDIO.
      — Como é que eu vou fazer daqui por diante — bramia aquele agraciado com a grã-cruz da Ordem do Mérito dos Atropeladores da Guanabara e do Grande Rio —, se não sei guiar com outro aditivo?
      Diversos motoristas, aspiran+tes ao mesmo galardão,cogitam de substituir o ódio, que está proibido, por sucedâneos mais ou menos eficazes, e verificam as propriedades estimulantes do rancor (esse ódio de segunda categoria), da aversão, da raiva, da antipatia generalizada. Mas a impressão comum é esta:
      — Se ao menos recomendassem “Guie com pouco ódio”,a gente procurava maneirar. Assim não dá.
      Todo resultado científico pode ser contestado. Por isso, começam a aparecer os que negam validade aos estudos feitos.Garantem não nutrir ódio algum ao pedestre. Se acabam com este, não é por detestarem a espécie, que lhes é indiferente.Como também não odeiam os muros, paredes, árvores e postes que derrubam. É porque eles atravessam o caminho. Portanto,se alguma recomendação deve ser feita, a melhor seria esta,inclusive aos postes: FOGE QUE ELE VEM LÁ.
      Ouvi dizer que a Companhia Telefônica pensa em lançar uma variante, dirigida aos usuários que tiveram suas contas aumentadas com impulsos fantasmas: PAGUE SEM ÓDIO.
      O filme não presta? Assista sem ódio. Bife de pedra no restaurante? Coma sem ódio. O livro é chatíssimo? Leia sem ódio. O conferencista dá sono? Durma sem ódio. Se tiver de brigar, brigue sem ódio. Se possível. Se de todo for impossível,odeie sem ódio, tá?

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Sem ódio”.
In: Os dias lindos. Rio de Janeiro: Record,
2008 (Adaptado).


Considerando o 2º e o 3º parágrafos do texto e as orientações da prescrição gramatical no que se refere a textos escritos na modalidade padrão da Língua Portuguesa, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO A

     

    Mudar a virgúla quase sempre muda sentido

    “verificam-as”. -> correto: “verificam-nas”.

    agraciado não é agradecido . --> agraciado: adj. Que conseguiu ou alcançou graça

     

  • A alternativa "A" é a correta.

     

    A alternativa "A" está correta, visto que a substituição de "aspirantes ao mesmo galardão" por "que aspiram ao mesmo galardão" mão implica prejuízo semântico ou gramatical.

     

    A alternativa "B" está incorreta, pois a omissão das vírgulas que isolam a oração "que está proibido" tornaria a oração adjetiva explicativa em oração adjetiva restritiva, alterando, portanto, o sentido original.

     

    A alternativa "C" está incorreta, pois a substituição do termo "as propriedades estimulantes" deveria ser procedida da seguinte forma: "verificam-nas", pois o termo a ser substituído é objeto direto do verbo "verificam" (terminado em M).

     

    A alternativa "D" está incorreta, pois a substituição do termo "diversos motoristas" por "um motorista" implica a alteração de TRÊS termos, vejamos:

     

    FRASE ALTERADA: Um motoristaaspirante ao mesmo galardão, cogita de substituir o ódio, que está proibido, por sucedâneos mais ou menos eficazes, e verifica as propriedades estimulantes do rancor (esse ódio de segunda categoria), da aversão, da raiva, da antipatia generalizada.

     

    A alternativa "E" está incorreta, pois "bramia", no contexto, significa "gritava", enquanto "clamava" significa "pedia misericórdia". Já o termo "agraciado", no contexto, tem sentido de "condecorado", de "aquele que recebeu graça ou favor", diferente de "agradecido" que tem sentido de "gratidão".