- ID
- 1341076
- Banca
- CONSULPLAN
- Órgão
- CBTU
- Ano
- 2014
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
    Todo  escritor  é  útil  ou  nocivo,  um  dos  dois.  É  nocivo  se  escreve  coisas  inúteis,  se  deforma  ou  falsifica  (mesmo  inconscientemente) para obter um efeito ou um escândalo;  se  se  conforma  sem  convicção  a opiniões nas quais não  acredita. É útil se acrescenta à lucidez do leitor, livra-o da timidez ou dos preconceitos, faz com que veja e sinta o que  não teria visto nem sentido sem ele. Se meus livros são lidos e atingem uma pessoa, uma única, e lhe trazem uma ajuda  qualquer,  ainda  que  por  um momento,  considero-me  útil.  E  como  acredito  na  duração  infinita  de  todas  as  pulsões,  como tudo prossegue e se reencontra sob uma outra forma, essa utilidade pode estender-se bastante longe no tempo.  Um  livro  pode  dormir  cinquenta  anos ou  dois mil  anos,  em  um  canto  de  biblioteca,  e  de  repente eu  o  abro,  e  nele  descubro maravilhas ou  abismos,  uma  linha  que me  parece  ter  sido escrita  apenas  para mim. O  escritor,  nisso,  não  difere do ser humano em geral:  tudo o que dizemos,  tudo o que  fazemos se conduz mais ou menos. É preciso  tentar  deixar atrás de nós um mundo um pouco mais  limpo, um pouco mais belo do que era, mesmo que esse mundo  seja  apenas um quintal ou uma cozinha.                
                              (Marguerite Yourcenar. De olhos abertos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.)   
Com base no trecho “[...] se conforma sem convicção a opiniões nas quais não acredita.”, é correto afirmar que