SóProvas


ID
1348261
Banca
FGV
Órgão
COMPESA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Eu e ele

No vertiginoso mundo dos computadores o meu, que devo ter há uns quatro ou cinco anos, já pode ser definido como uma carroça. Nosso convívio não tem sido muito confortável. Ele produz um texto limpo, e é só o que lhe peço. Desde que literalmente metíamos a mão no barro e depois gravávamos nossos símbolos primitivos com cunhas em tabletes até as laudas arrancadas da máquina de escrever para serem revisadas com esferográfica, não havia processo de escrever que não deixasse vestígio nos dedos. Nem o abnegado monge copiando escrituras na sua cela asséptica estava livre do tinteiro virado. Agora, não. Damos ordens ao computador, que faz o trabalho sujo por nós. Deixamos de ser trabalhadores braçais e viramos gerentes de texto. Ficamos pós-industriais. Com os dedos limpos.

Mas com um custo. Nosso trabalho ficou menos respeitável. O que ganhamos em asseio perdemos em autoridade. A um computador não se olha de cima, como se olhava uma máquina de escrever. Ele nos olha na cara. Tela no olho. A máquina de escrever fazia o que você queria, mesmo que fosse a tapa. Já o computador impõe certas regras. Se erramos, ele nos avisa. Não diz “Burro!”, mas está implícito na sua correção. Ele é mais inteligente do que você. Sabe mais coisas, e está subentendido que você jamais aproveitará metade do que ele sabe. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando estiver sendo programado por um igual. Isto é, outro computador. A máquina de escrever podia ter recursos que você também nunca usaria (abandonei a minha sem saber para o que servia “tabulador”, por exemplo), mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguenta os humanos por falta de coisa melhor, no momento.

Eu e o computador jamais seríamos íntimos. Nosso relacionamento é puramente profissional. Mesmo porque, acho que ele não se rebaixaria ao ponto de ser meu amigo. E seu ar de reprovação cresce. Agora mesmo, pedi para ele enviar esta crônica para o jornal e ele perguntou: “Tem certeza?”

(Luís Fernando Veríssimo)

O computador do cronista “já pode ser definido como uma carroça” em função das seguintes características:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: C


    Lentidão = carroça.


    Anacronismo =  é a falta de cronologia. É um erro na data dos acontecimentos, consiste em atribuir a uma época, a um personagem da história, sentimentos, costumes que são de outra época. Falta de alinhamento, consonância com um determinado período de tempo, com uma época .
  • Significado de Anacrônico

    adj. Que contém ou expressa anacronismo; que se opõe ao que é cronológico.
    Que não se adequa aos usos ou aos hábitos característicos de uma determinada época.
    Que se opõe ao que é moderno; antiquado ou retrógrado.
    (Etm. anacronismo + ico)

  • 03. C

    No texto, o computador do cronista “já pode ser definido como uma carroça” em função das características de lentidão e anacronismo

    A carroça puxada por bestas é um veículo de transporte de cargas lento e superado. Daí a comparação feita pelo cronista: com apenas cinco anos, seu computador já pode ser classificado como lento e anacrônico – por se mostrar lento e defasado em relação aos modelos mais recentes

    O item (B) – antiguidade e lentidão – até pode gerar alguma dúvida, mas não é a resposta correta.

    O cronista não define o computador dele como carroça por causa da idade – cinco anos. Classifica-o dessa forma por ele já se tornar anacrônico, defasado, superado com esse pouco tempo de uso.

  • Questão inteligente. Fui seco na letra B sem saber o significado de Anacronismo.

  • Um amplo vocabulario faz a diferença. 

  • Discordo do gabarito. 

    O autor ao comparar o computador a uma CARROÇA quis fazê-lo de maneira ENFÁTICA (realçando uma ideia). Você pode chamar isso de chamar hipérbole.
    O computador não é APENAS anacrônico, é muito mais do que isso - é uma ANTIGUIDADE (carroça)

     

     

  • Como é pouco todo conteúdo para estudar-se para um concurso, acredito que deveria mencionar-se no edital, o DICIONÁRIO. Afinal, muitas questões trazem palavras incomuns para prova, sem sequer avaliar o conhecimento, de fato, do candidato, mas, quem sabe, sua erudição.

  • a C é a resposta mas a B também poderia ser, porque não deixa de estar correta

  • Precisa mesmo saber isso para ser analista?