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ID
1350622
Banca
FCC
Órgão
TCE-AM
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     Memórias de um avestruz literário

        Modéstia à parte, fui um menino bem esquisitinho. Depois, há quem diga, piorei. Não é verdade. Não daria conta de superar em bizarria - em chatice, vá lá - o frangote que fui na puberdade. O turbilhão de hormônios não explica tudo. Não me lembro de ter conhecido um ser que desfiasse o meu vocabulário de então. Talvez o Antônio Houaiss. Não era por acaso que lá no bairro volta e meia alguém me interpelava:
       - Ei, irmão do Rodrigo, vem falar difícil pra gente! 

      Não cheguei a topar provocações, mas certa vez deixei de queixo caído um tio que veio xeretar o que havia no meu prato.

     - O que temos aí? 
     - Lipídios, glicídios e protídeos. 
     Foi o que bastou para ganhar do tio Samuel o apelido, infelizmente efêmero, de Zé Lipídio.
    Ouvia entoar a ave galiforme da família dos fasianídeos - ou, se você prefere, ouvia o galo cantar - e tratava logo de utilizar o vocábulo recém-aprendido, sem o cuidado de saber o que estava dizendo. Arranquei gargalhadas de meu pai com um “diabo aquático” em vez de “diabo a quatro”. Escaldado, tratei de me tornar freguês do dicionário, que até então, como os outros garotos, folheava apenas para garimpar palavrões, com especial atenção aos que designassem acidentes geográficos da anatomia humana.
    Ao contrário dos companheiros, porém, mantive o hábito mesmo depois que pudemos encarar ao vivo o que conhecíamos apenas do dicionário. Só que agora os palavrões, digamos, eram outros: na minha insuportável chatice adolescente, o que eu buscava eram palavras estranhas - abstrusas, diria eu na época - que, jogadas na roda como granada verbal, tivessem o poder de silenciar a audiência ignara. Meu amigo Jaime e eu chegamos a inventar umas tantas, nenhuma delas mais impactante que “cripteriótico”, cujo significado, se é que tinha algum, variava conforme a circunstância em que era disparada. Devo ao Laudelino uma coleção de excentricidades vocabulares que tive o bom senso de jamais utilizar. Mas ainda sei o que é almadraque. Não, não vou traduzir. Vá catar no dicionário, seu alóbrogo.

                                             (Humberto Werneck. Esse inferno vai acabar. Porto Alegre: Arquipélago 
                                                                                                                      Editorial, 2011, pp. 123/124)

As normas de concordância verbal estão plenamente observadas na frase:

Alternativas
Comentários
  • Coloquei a A) por falta de opção, mas fiquei entre a D) e a A), mas não entendi por que a A) está correta. Alguém poderia ajudar?

  • A letra A está correta em relação a CONCORDÂNCIA, mas acredito que esteja errada em relação à regência. Observem:

    "que a muitos levou aos dicionários."

    "a muitos" seria um Objeto Indireto.

    "aos dicionários" seria também um Objeto Indireto.


    As formas corretas do trecho seriam:

    Que levou muitos aos dicionários; ou

    Que levou a muitos os dicionários.


    Ainda assim, pode-se perceber que as normas de CONCORDÂNCIA estão plenamente observadas nesta frase.

  • Marcelo Matta

    d) Galo ou ave galiforme constitui designações diversas de uma mesma referência, mas se aplicam em situações bastante distintas.

    Galo E ave galiforme são duas designações, ou seja, o verbo após o sujeito deveria ser "CONSTITUEM".

  • Continuo sem entender por quê a D foi considerada incorreta. 

  • ALTERNATIVA A

    Nenhuma das palavras inventadas pareceu-nos mais bizarra que “cripteriótico”, que (PRONOME RELATIVO - RETOMA CRIPTERIÓTICO) a muitos levou aos dicionários.

    R: Cripteriótico a muitos levou aos dicionários.
  • Essa regência da A tá muito esquisita. 

  • D) "Galo ou Ave galiforme" tratam-se da mesma coisa, ou seja, são sinônimos: X ou Y sendo sinônimos = PLURAL. X ou Y no sentido de um ou outro = SINGULAR.