SóProvas


ID
1357522
Banca
IBFC
Órgão
PC-SE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Eficiência militar
(Historieta Chinesa)

LI-HU ANG-PÔ, vice-rei de Cantão, Império da China, Celeste Império, Império do Meio, nome que lhe vai a calhar, notava que o seu exército provincial não apresentava nem garbo marcial, nem tampouco, nas últimas manobras, tinha demonstrado grandes aptidões guerreiras.

Como toda a gente sabe, o vice-rei da província de Cantão, na China, tem atribuições quase soberanas. Ele governa a província como reino seu que houvesse herdado de seus pais, tendo unicamente por lei a sua vontade.

Convém não esquecer que isto se passou, durante o antigo regime chinês, na vigência do qual, esse vice-rei tinha todos os poderes de monarca absoluto, obrigando-se unicamente a contribuir com um avultado tributo anual, para o Erário do Filho do Céu, que vivia refestelado em Pequim, na misteriosa cidade imperial, invisível para o grosso do seu povo e cercado por dezenas de mulheres e centenas de concubinas. Bem.

Verificado esse estado miserável do seu exército, o vice- rei Li-Huang-Pô começou a meditar nos remédios que devia aplicar para levantar-lhe o moral e tirar de sua força armada maior rendimento militar. Mandou dobrar a ração de arroz e carne de cachorro, que os soldados venciam. Isto, entretanto, aumentou em muito a despesa feita com a força militar do vice-reinado; e, no intuito de fazer face a esse aumento, ele se lembrou, ou alguém lhe lembrou, o simples alvitre de duplicar os impostos que pagavam os pescadores, os fabricantes de porcelana e os carregadores de adubo humano - tipo dos mais característicos daquela babilônica cidade de Cantão.

Ao fim de alguns meses, ele tratou de verificar os resultados do remédio que havia aplicado nos seus fiéis soldados, a fim de dar-lhes garbo, entusiasmo e vigor marcial.

Determinou que se realizassem manobras gerais, na próxima primavera, por ocasião de florirem as cerejeiras, e elas tivessem lugar na planície de Chu-Wei-Hu - o que quer dizer na nossa língua: “planície dos dias felizes”. As suas ordens foram obedecidas e cerca de cinqüenta mil chineses, soldados das três armas, acamparam em Chu-Wei-Hu, debaixo de barracas de seda. Na China, seda é como metim aqui.

Comandava em chefe esse portentoso exército, o general Fu-Shi-Tô que tinha começado a sua carreira militar como puxador de tílburi* em Hong-Kong. Fizera-se tão destro nesse mister que o governador inglês o tomara para o seu serviço exclusivo.

Este fato deu-lhe um excepcional prestígio entre os seus patrícios, porque, embora os chineses detestem os estrangeiros, em geral, sobretudo os ingleses, não deixam, entretanto, de ter um respeito temeroso por eles, de sentir o prestígio sobre­ humano dos “diabos vermelhos”, como os chinas chamam os europeus e os de raça europeia.

Deixando a famulagem do governador britânico de Hong- Kong,Fu-Shi-Tô não podia ter outro cargo, na sua própria pátria, senão o de general no exército do vice-rei de Cantão. E assim foi ele feito, mostrando-se desde logo um inovador, introduzindo melhoramentos na tropa e no material bélico, merecendo por isso ser condecorado, com o dragão imperial de ouro maciço. Foi ele quem substituiu, na força armada cantonesa, os canhões de papelão, pelos do Krupp; e, com isto, ganhou de comissão alguns bilhões de taels* que repartiu com o vice-rei. Os franceses do Canet queriam lhe dar um pouco menos, por isso ele julgou mais perfeitos os canhões do Krupp, em comparação com os do Canet. Entendia, a fundo, de artilharia, o ex-fâmulo do governador de Hong-Kong.

O exército de Li-Huang-Pô estava acampado havia um mês, nas “planícies dos dias felizes”, quando ele se resolveu a ir assistir-lhe as manobras, antes de passar-lhe a revista final.

O vice-rei, acompanhado do seu séquito, do qual fazia parte o seu exímio cabeleireiro Pi-Nu, lá foi para a linda planície, esperando assistir a manobras de um verdadeiro exército germânico. Antegozava isso como uma vítima sua e, também, como constituindo o penhor de sua eternidade no lugar rendoso de quase rei da rica província de Cantão. Com um forte exército à mão, ninguém se atreveria a demiti-lo dele. Foi.

Assistiu às evoluções com curiosidade e atenção. A seu lado, Fu-Shi-Pô explicava os temas e os detalhes do respectivo desenvolvimento, com a abundância e o saber de quem havia estudado Arte da Guerra entre os varais de um cabriolet*.

O vice-rei, porém, não parecia satisfeito. Notava hesitações, falta de élan na tropa, rapidez e exatidão nas evoluções e pouca obediência ao comando em chefe e aos comandados particulares; enfim, pouca eficiência militar naquele exército que devia ser uma ameaça à China inteira, caso quisessem retirá-lo do cômodo e rendoso lugar de vice-rei de Cantão. Comunicou isto ao general, que lhe respondeu:

- É verdade o que Vossa Excelência Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima, Altíssima e Celestial diz; mas os defeitos são fáceis de remediar.
- Como? perguntou o vice-rei.
- É simples. O uniforme atual muito se parece com o alemão: mudemo-lo para uma imitação do francês e tudo estará sanado.

Li-Huang-Pô pôs-se a pensar, recordando a sua estadia em Berlim, as festas que os grandes dignatários da corte de Potsdam lhe fizeram, o acolhimento do Kaiser e, sobretudo, os taels que recebeu de sociedade com o seu general Fu-ShiPô... Seria uma ingratidão; mas... Pensou ainda um pouco; e, por fim, num repente, disse peremptoriamente:
- Mudemos o uniforme; e já!

(Lima Barreto)

*tael:unidade monetária e de peso da China;
*cabriolet:tipo de carruagem;
*tílburi: carro de duas rodas e dois assentos comandados por um animal.
*famulagem:grupo de criados

“LI-HU ANG-PÔ, vice-rei de Cantão, Império da China, Celeste Império, Império do Meio, nome que lhe vai a calhar, notava que o seu exército provincial não apresentava nem garbo marcial, nem tampouco, nas últimas manobras, tinha demonstrado grandes aptidões guerreiras." (1o §)

O sujeito da forma verbal “notava" tem sua correta classificação sintática indicada em:

Alternativas
Comentários
  • Vamos por eliminação:

    Alternativa D - Sujeito desinencial, elíptico ou oculto não pode ser, pois está claro que o sujeito está bem alí no início (LI-HU ANG-PÔ);Alternativa C - Também não poderá ser composto, pois existe apenas um núcleo e não temos o termo aditivo "E";Alternativa B - também não poderá ser, pois a indeterminação exige que o verbo esteja na terceira pessoa do plural e notava está no singular.Resta então a alternativa A.
  • Quem notava? LI-HU ANG-PÔ, ou seja, sujeito simples

  • Gabarito letra A

    Errei por falta de atenção. 

    Quem notava que o seu exército provincial não apresentava nem garbo marcial....? Resposta: ele (sujeito desinencial), mas a questão diz quem é ele, “LI-HU ANG-PÔ. Concluímos que o sujeito é simples.

    Espero ter ajudado.

  • Essa oração tem um sujeito explícito sendo assim só pode ser sujeito simples LI-HU-ANG-PÔ. Portanto o gabarito é letra: A

  • Todas as palavras grifadas só estão ali pra confundir. Na verdade é uma pessoa só e, sendo assim, sujeito simples.

  • Alexandre na verdade aposto serve para explicar ou especificâ-lo melhor,então não é para confundir,mas nesse caso pode-se ter um pouco

    de trabalho para resolver sim, entretanto os apostos não se refere apenas ao vice rei, então da trabalho mesmo.

  • Entre simples e composto, só pode ser simples, pois o verbo está conjugado no singular.

  • Pessoal, tudo que vem depois do sujeito (LI-HU ANG-PÔ) são apostos, que especificam cada sílaba do nome. Vejam:


    LI- vice-rei de Cantão

    HU- Império da China

    ANG- Celeste Império

    - Império do Meio


    E como já foi explicado pelos colegas, o verbo "notava" concorda com o sujeito simples LI-HU ANG-PÔ. Outra coisa que ajuda também é observar se o verbo está no plural ou no singular, pois o verbo sempre concorda com o sujeito.

  • Letra A.


    Quem notava ? LI-HU-ANG-PÔ.

  • Eita! Um aposto tão grande que fiquei confuso com sujeito oculto.

  • Sujeito simples , porque  

    Quem notava ? LI-HU-ANG-PÔ 

    Tu pergunta pro verbo e ele te responde com o Sujeito!!! Não tinha me tocado nessa separação silábica! 

  • Quem notava ? LI-HU-ANG-PÔ 

  • O aposto foi colocado propositalmente para confundir, boa questão!

  • boa noite,

      Pessoal estou vendo muitas pessoas comentarem que o verbo sempre concorda com o sujeito, tanto singular como plural, mas nem sempre é assim.
      Exemplo:
      Sujeito Oracional
      Sujeito Inexistente
      Sujeitos com a conjunção "COM" no sentido de adição

      Sujeitos com a disjunção "OU" no sentido de adição

    Fica a dica!
  • Na questão o aposto está separado por ponto, e no comentário do professor por vírgula! 

  • “LI-HU ANG-PÔ, vice-rei de CantãoImpério da China. Celeste ImpérioImpério do Meio

    SUJEITO SIMPLES       /                 APOSTO

     

    GABA  A

  • Armadilha

  • Concordo como TRICIO ES. Aquestão acima está separada por pontos, já a do professor, separada por vírgulas.Isso acabou me confundindo, pois o verbo notava está em outro período e neste caso acreditei que o pronome (ele) notava seria o sujeito, por  fazer referência ao sujeito LI-HU ANG-PÔ (do período anterior).

    Corrijam-me caso esteja equivocada. 

  • O primeiro comentário não está equivocado, assistam o vídeo que o professor explica o verdadeiro motivo de ser sujeito simples.

  • Entendo que "LI-HU ANG-PÔ" é o sujeito de notava. 

    E tudo que veio depois seriam qualificadores, adjetivos.

    Por isso é sujeito simples.

  • QUEM NOTAVA? --- > LI-HU ANG-PÔ

  • Gab: A

    " Notava " quem notava ? LI-HU ANG-PÔ

    #PMSE2018

  • Errei por causa de uma dúvida. O sujeito da forma verbal "notava" pode se desinencial se não estiver explicito no texto. Porém, como LI-HU ANG-PÔ está explicito, é sujeito simples. 

  • GABARITO A

     

    “LI-HU ANG-PÔvice-rei de Cantão, Império da China, Celeste Império, Império do Meio, nome que lhe vai a calhar, notava que o seu exército provincial [...]

     

    Quem notava que seu exército provincial ?   LI-HU ANG-PÔ - sujeito simples.

     

    Notem que o restante é APOSTO, apenas outros nomes dados ao tal Li-hu Ang-Pô.

     

    bons estudos.

     

     

  • Moleza essa!! rsrs

  • Se ainda te resta dúvidas se realmente o sujeito e esse Japonês estranho ai, então observe --> No inicio do 4º paragráfo diz :

    -Verificado esse estado miserável do seu exército, o vice- rei Li-Huang-Pô começou a meditar nos remédios que devia aplicar para levantar-lhe o moral e tirar de sua força armada maior rendimento militar.

    Quem começou a meditar nos remédios ? ----> o vice- rei Li-Huang-Pô