SóProvas


ID
1357573
Banca
IBFC
Órgão
PC-SE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Eficiência militar
(Historieta Chinesa)

LI-HU ANG-PÔ, vice-rei de Cantão, Império da China, Celeste Império, Império do Meio, nome que lhe vai a calhar, notava que o seu exército provincial não apresentava nem garbo marcial, nem tampouco, nas últimas manobras, tinha demonstrado grandes aptidões guerreiras.

Como toda a gente sabe, o vice-rei da província de Cantão, na China, tem atribuições quase soberanas. Ele governa a província como reino seu que houvesse herdado de seus pais, tendo unicamente por lei a sua vontade.

Convém não esquecer que isto se passou, durante o antigo regime chinês, na vigência do qual, esse vice-rei tinha todos os poderes de monarca absoluto, obrigando-se unicamente a contribuir com um avultado tributo anual, para o Erário do Filho do Céu, que vivia refestelado em Pequim, na misteriosa cidade imperial, invisível para o grosso do seu povo e cercado por dezenas de mulheres e centenas de concubinas. Bem.

Verificado esse estado miserável do seu exército, o vice- rei Li-Huang-Pô começou a meditar nos remédios que devia aplicar para levantar-lhe o moral e tirar de sua força armada maior rendimento militar. Mandou dobrar a ração de arroz e carne de cachorro, que os soldados venciam. Isto, entretanto, aumentou em muito a despesa feita com a força militar do vice-reinado; e, no intuito de fazer face a esse aumento, ele se lembrou, ou alguém lhe lembrou, o simples alvitre de duplicar os impostos que pagavam os pescadores, os fabricantes de porcelana e os carregadores de adubo humano - tipo dos mais característicos daquela babilônica cidade de Cantão.

Ao fim de alguns meses, ele tratou de verificar os resultados do remédio que havia aplicado nos seus fiéis soldados, a fim de dar-lhes garbo, entusiasmo e vigor marcial.

Determinou que se realizassem manobras gerais, na próxima primavera, por ocasião de florirem as cerejeiras, e elas tivessem lugar na planície de Chu-Wei-Hu - o que quer dizer na nossa língua: “planície dos dias felizes”. As suas ordens foram obedecidas e cerca de cinqüenta mil chineses, soldados das três armas, acamparam em Chu-Wei-Hu, debaixo de barracas de seda. Na China, seda é como metim aqui.

Comandava em chefe esse portentoso exército, o general Fu-Shi-Tô que tinha começado a sua carreira militar como puxador de tílburi* em Hong-Kong. Fizera-se tão destro nesse mister que o governador inglês o tomara para o seu serviço exclusivo.

Este fato deu-lhe um excepcional prestígio entre os seus patrícios, porque, embora os chineses detestem os estrangeiros, em geral, sobretudo os ingleses, não deixam, entretanto, de ter um respeito temeroso por eles, de sentir o prestígio sobre­ humano dos “diabos vermelhos”, como os chinas chamam os europeus e os de raça europeia.

Deixando a famulagem do governador britânico de Hong- Kong,Fu-Shi-Tô não podia ter outro cargo, na sua própria pátria, senão o de general no exército do vice-rei de Cantão. E assim foi ele feito, mostrando-se desde logo um inovador, introduzindo melhoramentos na tropa e no material bélico, merecendo por isso ser condecorado, com o dragão imperial de ouro maciço. Foi ele quem substituiu, na força armada cantonesa, os canhões de papelão, pelos do Krupp; e, com isto, ganhou de comissão alguns bilhões de taels* que repartiu com o vice-rei. Os franceses do Canet queriam lhe dar um pouco menos, por isso ele julgou mais perfeitos os canhões do Krupp, em comparação com os do Canet. Entendia, a fundo, de artilharia, o ex-fâmulo do governador de Hong-Kong.

O exército de Li-Huang-Pô estava acampado havia um mês, nas “planícies dos dias felizes”, quando ele se resolveu a ir assistir-lhe as manobras, antes de passar-lhe a revista final.

O vice-rei, acompanhado do seu séquito, do qual fazia parte o seu exímio cabeleireiro Pi-Nu, lá foi para a linda planície, esperando assistir a manobras de um verdadeiro exército germânico. Antegozava isso como uma vítima sua e, também, como constituindo o penhor de sua eternidade no lugar rendoso de quase rei da rica província de Cantão. Com um forte exército à mão, ninguém se atreveria a demiti-lo dele. Foi.

Assistiu às evoluções com curiosidade e atenção. A seu lado, Fu-Shi-Pô explicava os temas e os detalhes do respectivo desenvolvimento, com a abundância e o saber de quem havia estudado Arte da Guerra entre os varais de um cabriolet*.

O vice-rei, porém, não parecia satisfeito. Notava hesitações, falta de élan na tropa, rapidez e exatidão nas evoluções e pouca obediência ao comando em chefe e aos comandados particulares; enfim, pouca eficiência militar naquele exército que devia ser uma ameaça à China inteira, caso quisessem retirá-lo do cômodo e rendoso lugar de vice-rei de Cantão. Comunicou isto ao general, que lhe respondeu:

- É verdade o que Vossa Excelência Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima, Altíssima e Celestial diz; mas os defeitos são fáceis de remediar.
- Como? perguntou o vice-rei.
- É simples. O uniforme atual muito se parece com o alemão: mudemo-lo para uma imitação do francês e tudo estará sanado.

Li-Huang-Pô pôs-se a pensar, recordando a sua estadia em Berlim, as festas que os grandes dignatários da corte de Potsdam lhe fizeram, o acolhimento do Kaiser e, sobretudo, os taels que recebeu de sociedade com o seu general Fu-ShiPô... Seria uma ingratidão; mas... Pensou ainda um pouco; e, por fim, num repente, disse peremptoriamente:
- Mudemos o uniforme; e já!

(Lima Barreto)

*tael:unidade monetária e de peso da China;
*cabriolet:tipo de carruagem;
*tílburi: carro de duas rodas e dois assentos comandados por um animal.
*famulagem:grupo de criados

O trecho abaixo transcrito revela a insatisfação de LI-HU ANG-PÔ, vice-rei de Cantão, com o seu exército. Utilize-o para responder às questões de 10 a 13.

“O vice-rei, porém, não parecia satisfeito. Notava hesitações, falta de élan na tropa, rapidez e exatidão nas evoluções e pouca obediência ao comando em chefe e aos comandados particulares; enfim, pouca eficiência militar naquele exército que devia ser uma ameaça à China inteira, caso quisessem retirá-lo do cômodo e rendoso lugar de vice-rei de Cantão. 

Comunicou isto ao general, que lhe respondeu: 
 É verdade o que Vossa Excelência Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima, Altíssima e Celestial diz; mas os defeitos são fáceis de remediar.”

Em resposta ao vice-rei, o general do exército exagera na flexão dos adjetivos. Sobre o grau utilizado, leia as afirmações a seguir e julgue-as, assinalando a alternativa correta.

I. Nos adjetivos “Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima e Altíssima” foi utilizado o grau superlativo absoluto sintético.

II. A utilização desse grau revela uma tentativa exagerada do general de agradar o vice-rei.

III. A flexão utilizada pelo general está em desacordo com a norma culta, que apenas admite a flexão de grau do substantivo

Alternativas
Comentários
  • I. Nos adjetivos “Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima e Altíssima” foi utilizado o grau superlativo absoluto sintético. 

    CORRETA.

    O grau superlativo destaca, com vantagem ou desvantagem, a qualidade do ser em relação a outros seres; e ainda indica que a qualidade  do ser ultrapassa a noção comum que temos dessa mesma qualidade. Ele pode ser absoluto ou relativo.  O absoluto pode ser sintético ou analítico.  O relativo é de inferioridade ou de superioridade.

    Forma-se o analítico com a anteposição de palavraintensiva (muito, extremamente, extraordinariamente...). 

    Exemplo:

    Ele é muito inteligente. Ele é muito poderoso. Ele é muito educado.

    Forma-se o sintético pelo acréscimo do sufixo derivacional - íssimo (ou de outro valor intensivo) acrescido ao adjetivo na forma positivo, com a supressão da voga temática. 

    Exemplo:

    Ele é inteligentíssimo. Ele é poderosíssimo. Ele é educadíssimo. Ele é amabilíssimo.


    II. A utilização desse grau revela uma tentativa exagerada do general de agradar o vice-rei.

    CORRETA.


    III. A flexão utilizada pelo general está em desacordo com a norma culta, que apenas admite a flexão de grau do substantivo

    INCORRETA.

  • Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de um ser é intensificada em relação a um conjunto de seres. Essa relação pode ser:

    De Superioridade: Clara é a mais bela da sala.

    De Inferioridade: Clara é a menos bela da sala.

    Note bem:

    1) O superlativo absoluto analítico é expresso por meio dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, etc., antepostos ao adjetivo.

    2) O superlativo absoluto sintético se apresenta sob duas formas : uma erudita, de origem latina, outra popular, de origem vernácula. A forma erudita é constituída pelo radical do adjetivo latino +  um dos sufixos -íssimo, -imo ou érrimo. Por exemplo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo.

    A forma popular é constituída do radical do adjetivo português + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.

    Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf39.php

  • Apenas para responder a questão, na hora do desespero lembre que a III está errada. Por que?

    Ex.: "Bom" é um adjetivo que pode ser posto no superlativo (Boníssimo, ou Ótimo). Desta forma, não é só o substantivo que a norma culta admite a flexão no superlativo. Pensando assim, eliminaríamos B,C e D. 

    Gab A

  • # Flexão de Grau dos ADJETIVOS


    a) COMPARATIVO

    - Superioridade = maior do que 

    - Inferioridade = menor do que 

    - Igualdade = igual a isso/ como isso

     

    b) SUPERLATIVO


    1. Absoluto (independe do contexto)

    - Sintético = -íssimo/ -ilimo/ -erremo 

    - Analítico = mais bem / mais grande


    2. Relativo (depende do contexto)

    - Inferioridade = menos 

    - Superioridade = mais

  • os substantivos podem variar entre aumentativo e diminutivo. E são formados através de dois processos:

    a) sintético – acrescenta-se um sufixo ao grau normal.

    • cachorro + -inho = cachorrinho
    • cachorro + -ão = cachorrão

    b) analítico – ao substantivo é acrescentada uma outra palavra, geralmente adjetivo, que dá a mesma ideia do sufixo.

    • urso + grande = urso grande;
    • urso + pequeno = urso pequeno.

    Há três tipos de grau:

    Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho do ser.

    • boca/bocarra;
    • muro/muralha;
    • pedra/pedrona;

    Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho do ser.

    • gato/gatinho;
    • bigode/bigodinho;
    • vidro/vidrinho;

    Grau Neutro - Indica um ser de tamanho considerado natural.

    • rocha
    • papel
    • lápis
    • sapo

    Pode acontecer também de a variação de grau ser utilizada como uma forma de ironia ou para expressar algum tipo de afetividade.

    Ex:

    • Nossa que carrão! (o carro não é grande, expressa a admiração do interlocutor)
    • É, eu também tenho um carrinho... (nesse caso, desvaloriza ou menospreza o carro)
    • Ah, que emoção! Minha filhinha vai casar! (sentimento de carinho, afeição)
    fonte: http://www.infoescola.com/portugues/flexao-de-grau-nos-substantivos/

  • Nos adjetivos “Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima e Altíssima” foi utilizado o grau superlativo absoluto sintético.
    Resp.  Atribui-lhe qualidades em grau muito elevado.


    A utilização desse grau revela uma tentativa exagerada do general de agradar o vice-rei.                                                                                           Resp. Ele usou palavras que não são usadas para Rei. Foi exagerado o uso. 

  • O adjetivo apresenta três diferentes gradações: o positivo, o comparativo e o superlativo. O superlativo (que pode ser absoluto sintético, absoluto analítico ou relativo) é utilizado para ressaltar a qualidade do ser em relação a outros seres e também para indicar que a qualidade do ser ultrapassa a ideia que fazemos dessa mesma qualidade.

    O grau superlativo absoluto sintético, diferentemente do que acontece com o superlativo absoluto analítico, é expresso por meio de uma só palavra, que será formada pelo adjetivo acrescido de um sufixo. Ao receber o sufixo intensivo (-íssimo; -imo; -ílimo; -érrimo), o adjetivo pode sofrer modificações em sua forma, o que dificulta a flexão do nome e provoca desvios gramaticais na modalidade escrita.

     

    Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/grau-superlativo-absoluto-sintetico.htm

  • III. A flexão utilizada pelo general está em desacordo com a norma culta, que apenas admite a flexão de grau do substantivo

    APENAS ELIMINAR ESTA QUE JÁ MATA A QUESTÃO.

  • A língua portuguesa também permite flexão de grau de VERBO, não apenas SUBSTANTIVO, como afirma a opção III.