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ID
1365871
Banca
FGV
Órgão
AL-MA
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto I

Cobrar responsabilidade

No início do mês, um assaltante matou um jovem em São Paulo com um tiro na cabeça, mesmo depois de a vítima ter lhe passado o celular. Identificado por câmeras do sistema de segurança do prédio do rapaz, o criminoso foi localizado pela polícia, mas - apesar de todos os registros que não deixam dúvidas sobre a autoria do assassinato - não ficará um dia preso. Menor de idade, foi "apreendido" e levado a um centro de recolhimento. O máximo de punição a que está sujeito é submeter-se, por três anos, à aplicação de medidas "socioeducativas".

Não é um caso isolado na crônica de crimes cometidos por menores de idade no país. Mas houve, nesse episódio de São Paulo, uma circunstância que o transformou em mais um exemplo emblemático do equivocado abrigo legal que o Estatuto da Criança e do Adolescente confere a criminosos que estão longe de poderem justificar suas ações com o argumento da imaturidade: ao disparar friamente contra o estudante paulista, a assaltante estava a três dias de completar 18 anos. Pela selvageria do assassinato, o caso remete à barbárie de que foi vítima, no Rio, o menino João Hélio, em 2007. Também nesse episódio, um dos bandidos que participaram do martírio do garoto estava a pouco tempo de atingir a maioridade.

Nos dois casos, convencionou-se, ao anteparo do ECA, que a diferença de alguns dias - ou, ainda que o fosse, de alguns meses -teria modificado os padrões de discernimento dos assassinos. Eles não saberiam o que estavam fazendo. É um tipo de interpretação que anaboliza espertezas da criminalidade, como o emprego de menores em ações - inclusive armadas - de quadrilhas organizadas, ou serve de salvo-conduto a jovens criminosos para afrontar a lei.

O raciocínio, nesses casos, é tão cristalino quanto perverso: colocam-se jovens, muitos dos quais mal entraram na adolescência, na linha de frente de ações criminosas porque, protegidos pelo ECA, e diante da generalizada ruína administrativa dos órgãos encarregados de aplicar as medidas socioeducativas, na prática eles são inimputáveis. Tornam-se, assim, personagens de vestibulares para a entrada em definitivo, sem chances de recuperação, numa vida de crimes.

É dever do Estado (em atendimento a um direito inalienável) prover crianças e adolescentes com cuidados, segurança, oportunidades, inclusive de recuperação diante de deslizes sociais. Neste sentido, o ECA mantém dispositivos importantes, que asseguram proteção a uma parcela da população em geral incapaz de discernir entre o certo e o errado à luz das regras sociais. Mas, se estes são aspectos consideráveis, por outro lado é condenável o viés paternalista de uma lei orgânica que mais contempla direitos do que cobra obrigações daqueles a quem pretende proteger.

O país precisa rever o ECA, principalmente no que tange ao limite de idade para efeitos de responsabilidade criminal. É uma atitude que implica coragem (de enfrentar tabus que não se sustentam no confronto com a realidade) e o abandono da hipocrisia (que tem cercado esse imprescindível debate).

(O Globo, 22/04/2013)

A função textual do primeiro parágrafo do texto é

Alternativas
Comentários
  • Como assim, o gabarito é D? Alguém entendeu essa?

  • Questão ridícula e absurda. Letra B e C poderiam ser a alternativas corretas. Se confundem na minha opinião.

  • Concordei com a resposta, por achar a letra B e C restritas. Pois, como na letra B diz: indicar a razão e na letra C: apresentar o fato. Ora, toda a discussão referente à diminuição da maioridade não se resumi a esse fato, mas sim a diversos fatos similares. Então, o texto é usado apenas como argumento inicial para convencer, com um exemplo, o leitor que existe a necessidade de diminuir a maioridade penal. 

  • A questão D , é bem clara, que o texto é argumentativo. Porém existem outras questões que tb responderia. Porém a letra D, enfatiza que o texto é argumentativo. A FGV é assim.... terrível

  • Fiquei em dúvida entre a C e a D, porém, levei em conta que o verbo "apresentar" da letra C lembra "informar" e a função do texto não é informar, mas argumentar, assim "argumentar" seria o verbo mais adequado para responder a questão. Resposta: letra D.

  • Eu fui na lógica, não foi apenas um fato, e sim vários, desse modo retirei a alternativa C, depois vi no parágrafo varias passagens "Não é um caso isolado" , "em mais um exemplo emblemático do equivocado abrigo legal que o Estatuto da Criança e do Adolescente confere a criminosos que estão longe de poderem justificar suas ações com o argumento da imaturidade"

    todas essas passagens, está tentando induzir nós leitores a ficar a favor da revisão da limitação da maioridade penal. Mas FGV é bem difícil

  • Gabarito: D

    Para compreender, é necessário atenção na leitura. O gabarito fica explícito no seguinte trecho do §1º:

    (...) não ficará um dia preso. Menor de idade, foi "apreendido" e levado a um centro de recolhimento. O máximo de punição a que está sujeito é submeter-se, por três anos, à aplicação de medidas "socioeducativas".