SóProvas


ID
1371229
Banca
FUNCAB
Órgão
SEFAZ-BA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário - evidentemente o condizente com a nossa condição provecta tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).

O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas , preferivelmente . Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, e das quais até hoje sei o comecinho.

Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos não se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.
- Traduza aí “quousque tandem, Catilina, [abutere] patientia nostra” - dizia ele ao entanguido vestibulando.

- Catilina,quanta paciência tens?" - retrucava o infeliz.

Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.

-Ai, minha barriga! - exclamava ele. - Deus, ó Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária, Senhor meu Pai!

Pode-se imaginar o resto do exame. [...] Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.

O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo “dar um show” . Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
- Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!

- " As margens plácidas'' - respondi

instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.

- Por que não é indeterminado “ouviram,etc''?

- Porque o “as” de “as margens plácidas” não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no Hino. “Nem teme quem te adora a própria morte” : sujeito: “quem te adora” . Se pusermos na ordem direta...

- Chega! - berrou ele. - Dez! Vá para a glória!
A Bahia será sempre a Bahia!

RIBEIRO, João Ubaldo. Jornal Grande Bahia-, 12 jun. 2013

O verbo “haver” - empregado corretamente, como verbo impessoal, em “Havia provas escritas e orais.” (§ 3) - flexiona-se, para concordar com o sujeito, apenas no contexto da seguinte frase:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito A.

    A única frase que não apresenta o verbo "haver" com sentido de existir é a letra A.

  • Na alternativa A, o verbo haver está empregado no sentido de "lidar", então flexiona.

    Nas demais alternativas, é impessoal, no sentido de existir. Não flexiona.

  • Na alternativa "a" o verbo haver foi empregado no sentido de "proceder", "comportar-se" e, portanto, concorda com o sujeito.


    Fé em Deus!

  • A única que não está em sentido de "tempo decorrido" ou "existir" é  letra A

  • Alguns candidatos se houveram bem na prova.

    Lidaram bem com a prova


  • Não se pode, no entanto, dizer que o verbo “haver” nunca vai para o plural, pois isso não é verdade. Ele pode, por exemplo, ser um verbo auxiliar (sinônimo de “ter” nos tempos compostos), situação em que pode ir para o plural. Assim:

    Eles haviam chegado cedo.

    Eles tinham chegado cedo.

    Como verbo pessoal (com sujeito), pode assumir o sentido de “obter”:

    Houveram do juiz a comutação da pena.

    Como sinônimo de “considerar”, também tem sujeito:

    Nós o havemos por honesto.

    O mesmo comportamento se observa quando empregado na acepção de “comportar-se”:

    Eles se houveram com elegância diante das críticas.

    O plural também pode aparecer quando usado com o sentido de “lidar”. Assim:

    Os alunos houveram-se muito bem nos exames.

    Fique claro, portanto, que é no sentido de “existir” e de “ocorrer”, bem como na indicação de tempo decorrido (Há dois anos...), que o verbo “haver” permanece invariável. Assim:

    Haverá mudanças, mas creio que serão pequenas

  • o verbo HAVER na primeira frase flexiona, pois ele não está no sentido de existir.

  • Acertei o gabarito (letra A) por eliminação.

  • Assim como respondeu nossa amiga Karine Reis, devemos nos atentar sempre ao que se pede nas questões, pois se você souber todo o conteúdo gramatical mais não sabe o que se pede nas questões de concurso, com certeza vai errar.

    Não existe isso de eliminação para acertar, a verdade é identificar a única que se encaixa no que pediu a questão:
    Obs.: Vamos substituir as palavras de cada alternativa para entender, lembrando que a questão pede flexibilidade (variação de sentido) da palavra.
    a) Alguns candidatos se houveram bem na prova. (saíram, lidaram, etc.)

    b) Haviam até candidatos que desmaiavam. (Existiam)

    c) Haveriam candidatos melhores em São Paulo? (Existiriam)

    d) Mestres como aqueles nunca mais houveram. (Existiram)

    e) Era uma anástrofe, como muitas que haviam no Hino (Existiam).

    Só a letra A não tem o mesmo entendimento do verbo "Haver", mesmo um aluno que não entenda a conjugação mais que entende o perguntado se dará melhor em questão de prova, se atente sempre a isto em prova, pois é fundamental ter calma e confiança na hora da prova, não apenas técnica.

    Espero ter ajudado também.


  • O verbo HAVER no sentido de existir, ocorrer e acontecer. Sempre fica no singular.

  • questão impetuosa. só compreendi mesmo após ler os comentários.

  • Aos candidatos que resolveram por eliminação, desejo profundamente que façam um concurso com questões de certo ou errado elaborado pelo CESPE!

  • - Gente! Simples, era só trocar o verbo ''haver'' por ''existir''..

    A frase que não aceitar o ''existir'' é a frase que concordara com o sujeito 'sujeito'

    EX:  '' Alguns candidatos se 'existiram' bem na prova'' kkkkkkkk  NÃO DAR NÉ GENTE KKKKK

  • Essa banca tem mania de fazer enunciado confuso. Poderiam ter escrito:" A única em que a concordância está correta é".

    Entender o enunciado dela é mais difícil do que saber o assunto....bora pra frente

  • Gabarito: A.

    A funcab gosta do tal do verbo HAVER... Basta lembrar da regrinha básica: Verbo haver no sentido de existir, não se flexiona.

  • Em suma, o verbo HAVER somente flexionará se houver um sujeito que o represente.

  • O verbo haver no sentido de existir, ocorrer, acontecer, será impessoal, e portanto, não terá sujeito para concordar, só terá sujeito no verbo haver se ele estiver fora desses 3 sentidos, o que seria sujeito no uso do verbo existir, é Objeto Direto no uso verbo haver, ficando sempre na terceira pessoa do singular.

    Ex.: Havia cartas na gaveta (haver no sentido de existir, fica no singular 3° pessoa do singular, Objeto Direto: "cartas na gaveta")

    Ex.: Existiam cartas na gaveta (concordância de número entre verbo existir e o Sujeito: "cartas na gaveta")