SóProvas


ID
1371232
Banca
FUNCAB
Órgão
SEFAZ-BA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas. Acho inadmissível e mesmo chocante (no sentido antigo) um coroa não ser reacionário. Somos uma força histórica de grande valor. Se não agíssemos com o vigor necessário - evidentemente o condizente com a nossa condição provecta tudo sairia fora de controle, mais do que já está. O vestibular, é claro, jamais voltará ao que era outrora e talvez até desapareça, mas julgo necessário falar do antigo às novas gerações e lembrá-lo às minhas coevas (ao dicionário outra vez; domingo, dia de exercício).

O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito tão ruybarbosianamente quanto possível, com citações decoradas , preferivelmente . Os textos em latim eram As Catilinárias ou a Eneida, e das quais até hoje sei o comecinho.

Havia provas escritas e orais. A escrita já dava nervosismo, da oral muitos não se recuperaram inteiramente, pela vida afora. Tirava-se o ponto (sorteava-se o assunto) e partia-se para o martírio, insuperável por qualquer esporte radical desta juventude de hoje. A oral de latim era particularmente espetacular, porque se juntava uma multidão, para assistir à performance do saudoso mestre de Direito Romano Evandro Baltazar de Silveira. Franzino, sempre de colete e olhar vulpino (dicionário, dicionário), o mestre não perdoava.
- Traduza aí “quousque tandem, Catilina, [abutere] patientia nostra” - dizia ele ao entanguido vestibulando.

- Catilina,quanta paciência tens?" - retrucava o infeliz.

Era o bastante para o mestre se levantar, pôr as mãos sobre o estômago, olhar para a platéia como quem pede solidariedade e dar uma carreirinha em direção à porta da sala.

-Ai, minha barriga! - exclamava ele. - Deus, ó Deus, que fiz eu para ouvir tamanha asnice? Que pecados cometi, que ofensas Vos dirigi? Salvai essa alma de alimária, Senhor meu Pai!

Pode-se imaginar o resto do exame. [...] Comigo, a coisa foi um pouco melhor, eu falava um latinzinho e ele me deu seis, nota do mais alto coturno em seu elenco.

O maior público das provas orais era o que já tinha ouvido falar alguma coisa do candidato e vinha vê-lo “dar um show” . Eu dei show de português e inglês. O de português até que foi moleza, em certo sentido. O professor José Lima, de pé e tomando um cafezinho, me dirigiu as seguintes palavras aladas:
- Dou-lhe dez, se o senhor me disser qual é o sujeito da primeira oração do Hino Nacional!

- " As margens plácidas'' - respondi

instantaneamente e o mestre quase deixa cair a xícara.

- Por que não é indeterminado “ouviram,etc''?

- Porque o “as” de “as margens plácidas” não é craseado. Quem ouviu foram as margens plácidas. É uma anástrofe, entre as muitas que existem no Hino. “Nem teme quem te adora a própria morte” : sujeito: “quem te adora” . Se pusermos na ordem direta...

- Chega! - berrou ele. - Dez! Vá para a glória!
A Bahia será sempre a Bahia!

RIBEIRO, João Ubaldo. Jornal Grande Bahia-, 12 jun. 2013

Na hipótese de reescrita do termo destacado em: “O vestibular de Direito AQUE ME SUBMETI...” (§ 2), a gramática do português padrão condenaria a regência do verbo usado na alternativa:

Alternativas
Comentários
  • A - CERTA >>> deixar o(s)/a(s)

    B - CERTA >>> estudar para (finalidade)

    C - ERRADA >>> lembrar-se de algo

    D - CERTA >>> passar em (vestibular) / passar com (louvor)

    E - CERTA >>> falar à alguém / falar de alguém ou de alguma coisa


  • A regência do verbo "lembrar" é bem parecida com a do verbo "esquecer".

    "- Lembrar algo – esquecer algo
    - Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)"

  • nao entendi muito bem....alguem poderia explicar melhor ou novamente...obrigado(a).

  • Quem lembra, lembra DE alguma coisa

    DE que eu ainda me lembro 

  • C - que eu ainda me lembro. 

    O verbo lembrar pode se apresentar de duas formas, quanto a transitividade: uma, direta, quando ele não vem acompanhado pelo pronome e a outra indireta acompanhado da preposição "de", caso ele seja pronominal. E no caso da questão o verbo está acompanhado do pronome "me", por isso deveria aparecer também a preposição "de".  Memorizei da seguinte forma, com pronome, com tudo, sem pronome, sem nada.

  • LEMBRAR E ESQUECER

    VTI (OI, COM PRONOME): ... EU ME LEMBREI DA INFORMACAO

    VTD (OD, SEM PRONOME) ... EU LEMBREI A INFORMACAO

  • Gabarito C.

    O correto seria: de que eu ainda lembro.

  • Os verbos LEMBRAR e ESQUECER quando pronominais são VTI e quando não pronominais são VTD.

    Lembrei o fato.

    Lembrei-me do fato.

    OBS: Quando a "coisa"cai no esquecimento ou vem á lembrança (neste caso "a coisa" será sujeito).

    Lembrou-me aquele dia trágico.      Esqueceram-me tais promessas.

  • VERBO PRONMINAL , PRONOME OBLÍQUO PEDE PREPOSIÇÃO

  • Ok, que voce pode escrever "falar à alguém" e "falar de alguém", mas nao eh errado colocar as duas preposicoes na mesma oracao?

  • DE QUE ME LEMBRO.

  • QUEM LEMBRA - lembra "DE" algo ou alguma coisa.

    LEMBRO-ME DE você

    aprova DE QUE ME LEMBRO