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ID
1392124
Banca
FCC
Órgão
Câmara Municipal de São Paulo - SP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Reféns da palavra

Durante muito tempo, os gregos desconfiaram da palavra escrita como a linguagem cifrada de um mundo obscuro que só levava à danação, diferentemente do que se aprende “de cor”, ou com o coração, como está na etimologia. Homero, o inventor da literatura ocidental, era maior porque também nunca escrevera nada e suas estrofes inaugurais tinham sido transmitidas oralmente, de coração em coração.

Meu convívio forçado com o computador, sua conveniência, seus mistérios e seus perigos, me faz pensar muito sobre a precariedade da palavra. Pois um pré-eletrônico como eu está sempre na iminência de ver textos inteiros desaparecerem sem deixar vestígio na tela. O computador nos transforma todos em reféns sem fuga possível da palavra e pode acabar, num segundo, com um dia inteiro de trabalho da pobre musa dos cronistas em trânsito. Ao mesmo tempo, nos transformou na primeira geração da História que tem toda a memória do mundo ao alcance de um dedo.

O computador resgata a memória como mestre da História ou, ao contrário, nos exime de ter memória própria, e decreta o domínio definitivo da escrita sobre quem a pratica? Sei lá. É melhor acabar aqui antes que este texto desapareça.

(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. Diálogos impossíveis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. 58)

Atente para as seguintes afirmações:

I. No 2o parágrafo, o autor se vale da expressão precariedade da palavra para referir a indeterminação semântica que ela assume por conta da multiplicidade de sentidos que pode abrigar.

II. No 2o parágrafo, a expressão reféns sem fuga possível sugere a condição daqueles que, uma vez contando com os serviços de um computador, não conseguem mais dispensá-los.

III. No 3o parágrafo, o autor considera indiscutível o fato de que nossa confiança na prodigiosa memória de um computador acabará acarretando o negligente esquecimento de nossa própria História.

Em relação ao texto está correto o que se afirma APENAS em

Alternativas
Comentários
  • Na minha humilde opinião o erro está no item III porque o 3o parágrafo não afirma com exatidão a opinião do autor e sim ele faz uma pergunta a si mesmo e responde sem precisão! 

    "O computador resgata a memória como mestre da História ou, ao contrário, nos exime de ter memória própria, e decreta o domínio definitivo da escrita sobre quem a pratica? Sei lá".

  • Conforme meu entendimento, o erro na assertiva I está no fato de que o termo "precariedade" está empregado como algo que possui fim (mortal), ou seja, precaridade da palavra no sentindo que a palavra poderá não existir mais. Na assertiva III, há um nítido questionamento entre o papel do compuatador na preservação (ou não) da memória.

  • discordo da assertiva indicada como correta: no item II não entendo que somos reféns do computador, mas sim da palavra escrita.