SóProvas


ID
1428346
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-PI
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                         Filosofia de borracharia

     O borracheiro coçou a desmatada cabeça e proferiu a sentença tranquilizadora: nenhum problema com o nosso pneu, aliás quase tão calvo quanto ele. Estava apenas um bocado murcho.
     - Camminando si sgonfia* - explicou o camarada, com um sorriso de pouquíssimos dentes e enorme simpatia.
     O italiano vem a ser um dos muitos idiomas em que a minha abrangente ignorância é especializada, mas ainda assim compreendi que o pneu do nosso carro periclitante tinha se esvaziado ao longo da estrada. Não era para menos. Tendo saído de Paris, havíamos rodado muito antes de cair naquele emaranhado de fronteiras em que você corre o risco de não saber se está na Áustria, na Suíça ou na Itália. Soubemos que estávamos no norte, no sótão da Itália, vendo um providencial borracheiro dar nova carga a um pneu sgonfiato.
     Dali saímos - éramos dois jovens casais num distante verão europeu, embarcados numa aventura que, de camping em camping, nos levaria a Istambul - para dar carga nova a nossos estômagos, àquela altura não menos sgonfiati. O que pode a fome, em especial na juventude: à beira de um himalaia de sofrível espaguete fumegante, julguei ver fumaças filosóficas na sentença do tosco borracheiro. E, entre garfadas, sob o olhar zombeteiro dos companheiros de viagem, me pus a teorizar.
     Sim, camminando si sgonfia, e não apenas quando se é, nesta vida, um pneu. Também nós, de tanto rodar, vamos aos poucos desinflando. E por aí fui, inflado e inflamado num papo delirante. Fosse hoje, talvez tivesse dito, infelizmente com conhecimento de causa, que a partir de determinado ponto carecemos todos de alguma espécie de fortificante, de um novo alento para o corpo, quem sabe para a alma.

* Camminando si sgonfia = andando se esvazia. Sgonfiato é vazio; sgonfiati é a forma plural.

                                                  (Adaptado de: WERNECK, Humberto – Esse inferno vai acabar. Porto
                                                                                                          Alegre, Arquipélago, 2011, p. 85-86)

As normas de concordância verbal encontram-se plenamente observadas na frase:

Alternativas
Comentários
  • RESPOSTA: LETRA A a.Entre os muitos idiomas de que o autor se confessou ignorante estava o italiano, mas acabaram por lhe parecer inteligíveis as palavras ditas pelo borracheiro.  CORRETO as palavras ditas pelo borracheiro acabaram por parecer inteligíveis a ele. (ordem direta da 2º frase, só para verificarem que não existe erro nela)    

    b.É comum que, ao longo de uma viagem, a condição adversa das estradas descuidadas venham a desgastar os pneus de um carro já periclitante.ERRADO, a condição adversa das estradas VENHA ... (núcleo do sujeito condição, o verbo concorda com ele)

    c.Não ocorreram aos jovens viajantes que aquele emaranhado de estradas fronteiriças poderiam ser esclarecidas com um detalhado mapa daquela região.  ERRADA. ORDEM DIRETA : que aquele emaranhado de estradas fronteiriças PODERIA ser ESCLARECIDO com um detalhado mapa daquela região (ISSO)  não OCORREU aos jovens viajantes. 
    d.Não é incomum que se atribuam a palavras ditas inocentemente um sentido filosófico inteiramente fora do alcance e da previsão de quem as proferiram. ERRADA
    ORDEM DIRETA: que  um sentido filosófico inteiramente..  se ATRIBUA  a palavras ditas  ..Não é incomum  (quando o verbo vier com a partícula "se" é for TRANSITIVO DIRETO haverá sujeito)   
    NÃO EXISTE CRASE APÓS O VERBO ATRIBUIR porque palavras está no plural, assim estaria certa a crase se tivesse no plural: ATRIBUAM ÀS PALAVRAS.                   
    e. Muita gente gostaria de se aventurarem pelas estradas europeias, ainda que num carrinho periclitante e sem conhecimento das línguas que se fala nos diferentes países. ERRADO - MUITA GENTE GOSTARIA DE SE AVENTURAR 

  • RESPOSTA: LETRA A

    A - Entre os muitos idiomas de que o autor se confessou ignorante estava o italiano, mas acabaram por lhe parecer inteligíveis as palavras ditas pelo borracheiro.

     - (AS palavraS – acabaraM)

    B - É comum que, ao longo de uma viagem, a condição adversa das estradas descuidadas venham a desgastar os pneus de um carro já periclitante.

    - (A condição adversa – venhA)

    C - Não ocorreram aos jovens viajantes que aquele emaranhado de estradas fronteiriças poderiam ser esclarecidas com um detalhado mapa daquela região.

    O que não ocorreram aos jovens viajantes? = isso

    - (aquele emaranhado - poderiA ser esclarecidO)

    D - Não é incomum que se atribuam a palavras ditas inocentemente um sentido filosófico inteiramente fora do alcance e da previsão de quem as proferiram.

    E - Muita gente gostaria de se aventurarem pelas estradas europeias, ainda que num carrinho periclitante e sem conhecimento das línguas que se fala nos diferentes países.

     - Muita gente gostaria de se aventuraR

  • Nao estou entendendo na letra A  ( Entre os muitos idiomas de que o autor se confessou ignorante estava o italiano, mas acabaram por lhe parecer inteligíveis as palavras ditas pelo borracheiro.) .... O  verbo confessar é VTD. Pq existe  esse de que na frase?

  • Eu também não vejo justificativa para empregar a preposição de. Tanto o verbo confessou como o termo ignorante não regem tal preposição.

  • verbo confessar tem regência multipa  

  • O adjetivo "Ignorante" exige adjunto adnominal preposicionado. Afinal, quem é ignorante é ignorante DE algo. Para ficar mais claro, vejamos um antônimo de ignorante: conhecedor. Simetricamente, quem é conhecedor, é conhecedor de algo.

  • a) 
    b) "a condição adversa" = VENHA 
    c) "aquele emaranhado..." = NÃO OCORRE AOS JOVENS 
    d) "um sentido filosófico = SE ATRUBUI 
    e) "muita gente" = AVENTURAR

  • na letra a) "mas acabaram por lhe parecer inteligíveis as palavras ditas pelo borracheiro" o sujeito do verbo acabar nao seria oracional? "as palavras ditas pelo borracheiro" constituindo o sujeito oracional? alguém me ajuda?

  • Gabarito A.

    b) ... condição adversa das estradas descuidadas venha... (e não venham)

    c) ...aquele emaranhado de estradas fronteiriças poderia... (e não poderiam)

    d)... atribuam a palavras ditas... de quem as proferiu... (e não proferiram)

    e) Muita gente gostaria de se aventurar... (e não aventurarem)

  • Vamos em frente:

    a) Coloque em ordem direta. O autor se confessou ignorante de que? do idioma

    b) (...) a condição adversa venha a desgastar (...)

    c) Não ocorreu aos jovens viajantes isso (Oração Subordinada Substantiva Subjetiva). Sujeito oracional, não flexiona.

    d) (...) atribua (...) um sentido filosófico (...).

    e) Muita gente gostaria de se aventurar.

    Vivam como pessoas livres, mas não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de Deus (I Pe 2:16) 

  • B) 
    ...a condição adversa das estradas descuidadas venham... Concordância atrativa?

    ...a condição adversa das estradas descuidadas venha... Concordância lógica?
  • Concordo com a Mariana. Alguem poderia nos responder?

  • B)  Não pode haver o concordancia atrativa,pois o sujeito não é partitivo

  • Também fiquei na dúvida do Diego, em relação a letra D. E não compreendi a letra A.

  • Na letra A, "acabaram por parecer" forma uma locução verbal sendo o verbo acabaram o auxiliar e o verbo parecer o principal. inelegíveis concorda com o substantivo palavras. Na letra D o erro está no verbo atribuir no plural, já que o que vai ser atribuído é um sentido filosófico... por isso o verbo teria que ficar no singular.

  • a) Entre os muitos idiomas de que o autor se confessou ignorante estava o italiano, mas acabaram por lhe parecer inteligíveis as palavras ditas pelo borracheiro. 

    Inverta a oração, fica mais fácil para identificar a concordância: as palavras ditas pelo borracheiro acabaram por lhe parecer inteligíveis. CORRETA.

    d) Não é incomum que se atribuam (incorreto verbo no plural)  a palavras ditas inocentemente um sentido filosófico inteiramente fora do alcance e da previsão de quem as proferiram (incorreto o verbo no plural).  Ordem direta: ... quem proferira as "palavras"..... (um sentido filosófico se ATRIBUA)

  • na letra A não seria dos quais ao invés de "de que"?

  • Vanessa Silva,

    Acho que não, pois quem confessa, confessa "de alguma coisa à alguém"

  • a] gabarito

    b] a condição adversa das estradas descuidadas VENHA (verbo deve concordar com o sujeito)

    c] Não OCORREU aos jovens viajantes que aquele emaranhado de estradas fronteiriças PODERIA

    d] ATRIBUA a palavras inocentes um sentido filósofo 

    e] Muita gente gostaria de se AVENTURAR / sem conhecimento das línguas que se FALAM