SóProvas


ID
1428367
Banca
FCC
Órgão
SEFAZ-PI
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     “O povo não gosta de música clássica"

    Estudante de Letras, mal chegado à faculdade, comecei a dar aulas de Português numa escola pública da periferia da cidade. Estava feliz porque gostei do trabalho de professor, nessa escola estadual frequentada sobretudo por comerciários, office boys, aprendizes de ofício, feirantes etc. Éramos quase todos da mesma idade, havia camaradagem entre nós.
    Um dia convidei um grupinho dos mais chegados pra ir à minha casa ouvir música. “Música clássica", adverti. Preparei um programinha meio didático, dentro da sequência histórica, com peças mais ou menos breves que iam do canto gregoriano a Villa-Lobos. Comentava as diferenças de estilo, de sentimento, de complexidade. A sessão toda durou quase duas horas, incluindo minhas tagarelices. Gostaram muito.
    Dois ou três dias depois, um deles (pobre, como os outros) apareceu na aula com um embrulho na mão. “Professor, comprei hoje isso pra mim. O senhor acha que essa música é boa?" Era um LP de Tchaikovsky, talvez com sinfonias ou aberturas, não me lembro. Disse que sim, e ele saiu todo sorridente. Imaginei a cena do dia: ele entrando numa casa de disco do centro da cidade e pedindo um “disco de música clássica". Venderam-lhe uma gravação barata, nacional.
    Ao final do ano letivo despediu-se de mim (sairia da escola, concluído o primeiro grau) e me deixou na mão um bilhetinho. Não decorei as palavras, que eram poucas, mais ou menos estas: “Professor, muito obrigado por me fazer gostar de música clássica". Desmoronei um pouco, pensando em como este país poderia ser diferente. Não lhe disse, na hora, que a gente pode gostar naturalmente de qualquer música: é preciso que não obstruam nosso acesso a todos os gêneros musicais. E embora seja quase impossível que estas palavras cheguem ao meu antigo aluno, pergunto-lhe agora, com mais de quatro décadas de atraso: “Então, seu Carlos, gostou do Tchaikovsky?"


                                                                                                                         (Teotônio Ramires, inédito)

Há adequada correlação entre os tempos e modos verbais presentes na seguinte frase:

Alternativas
Comentários
  • Letra B.
    As outras alternativas são absurdas.Só irei analisar os verbos.O contexto , neste caso, é secundário (com exceção da D )

    A-) Havia + pudera = Imperfeito + pretérito mais que perfeito não combina. Pretérito mais que perfeito gosta de vir junto com o pretérito perfeito ( passado )

    C-) Pediu + tendo sido.  Dois verbos desnecessários.Retire os dois ou insira que + tinha sido.

    D-) Pudessem + haverão = Subjuntivo imperfeito + futuro.Haveria seria correto no lugar de haverão.Uma sutileza aqui.Inverta a frase : Se todos os jovens Brasileiros pudessem (...) e a frase será mais clara.



    E-) Chegara + decidia = pretérito mais que perfeito + imperfeito.Letra A invertida.


  • Pessoal! Vamos pedir o comentário do professor em todas as questões? Assim melhoraremos nosso conhecimento...beleza?

  • Na correlação a regra mais básica é correlacionar os mesmos tempos :
    Presente + presente
    Passado + passado 
    Na frase > SE DISPUSERA (+ q perfeito) = passado do passado (equivale a tinha disposto) <> havia feito (pret imperfeito). Ambos no passado. Quando há verbo conjugado no + q perfeito deve-se observar sa lógica das ações, pois como é passado do passado deve ser ação anterior. Ex. Quando cheguei, a reunão já começara (antes de eu chegar). 

  • Damos o nome de correlação verbal à coerência que, em uma frase ou sequência de frases, deve haver entre as formas verbais utilizadas. Ou seja, é preciso que haja articulação temporal entre os verbos, que eles se correspondam, de maneira a expressar as ideias com lógica. Tempos e modos verbais devem, portanto, combinar entre si.

    a) Como bom professor, já havia (PRETÉRITO IMPERFEITO do indicativo, exprime fato passado não concluído) se programado para que pudera (PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO do indicativo, fato passado concluído em relação a outra fato passado) bem informar aos alunos que terão ouvido músicas clássicas. (errado)

    b) O aluno Carlos se dispusera (PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO do indicativo, fato passado concluído em relação a outra fato passado) a comprar um disco de Tchaikovsky, vindo (a principal função do particípio é  expressar uma ação concluída, terminada) em seguida perguntar ao professor se havia feito uma boa escolha. (correta)

    c) Como ele pediu (PRETÉRITO PERFEITO do indicativo, fato passado concluído) um disco de música clássica não tendo sido (a principal função do particípio é  expressar uma ação concluída, terminada) muito caro, vender-lhe-iam (FUTURO DO PRETÉRITO, exprime uma incerteza) uma gravação nacional das mais baratas. (errado)

    d) Pudessem (PRETÉRITO IMPERFEITO do subjuntivo, fato passado não concluído) todos os jovens brasileiros ter oportunidade de ouvir música clássica, compositores como Tchaikovsky haverão (FUTURO DO PRESENTE do indicativo, fato posterior ao momento em que se fala) de encantar a muitos. (errado)

    e) Apesar de não ser provável que a pergunta chegara (PRETÉRITO MAIS-QUE-PERFEITO do indicativo) ao seu antigo aluno, o professor decidia (PRETÉRITO IMPERFEITO do indicativo) formulá-la para expressar uma curiosidade ainda viva. (errado)

  • a) ERRADO. Como bom professor, já havia se programado para que pudesse bem informar aos alunos que teriam ouvido músicas clássicas.

     

    b) CERTO. O aluno Carlos se dispusera a comprar um disco de Tchaikovsky, vindo em seguida perguntar ao professor se havia feito uma boa escolha.

     

    c) ERRADO. Como ele pediu um disco de música clássica não tinha sido muito caro, vender-lhe-iam uma gravação nacional das mais baratas.

     

    d) ERRADO. Pudessem todos os jovens brasileiros terem oportunidade de ouvir música clássica, compositores como Tchaikovsky haveriam de encantar a muitos.

     

    e) ERRADO. Apesar de não ser provável que a pergunta chegaria ao seu antigo aluno, o professor decidiu formulá-la para expressar uma curiosidade ainda viva.

  • Arthur Camacho... vlw...objetividade!