A criança irá
construir imaginariamente sua realidade psíquica que pressupõe que ali onde não
tem, falta alguma coisa. A noção de falta de um objeto é, pois, fruto de uma
elaboração psíquica da criança diante da diferença anatômica entre os sexos. O
falo é, portanto, o objeto que falta.
A leitura lacaniana deixa claro que o falo não designa uma fase, e sim um
ponto de articulação. Trata-se de um significante ordenador. O falo é um
significante2 (Lacan, 1958, p, 693). Ele permite ao sujeito o acesso a um ponto
para o qual não há qualquer significante, ponto este em que o sexual como tal é
representado no inconsciente. Não foi à toa que “Freud chamou de castração, o
ponto em que o próprio falo, como significante, incide como faltoso” (Elia, 2004,
p. 66).
Segundo Lacan, o complexo da castração inconsciente, em sua vinculação
fundamental com o falo, tem uma função de nó. Esta está ligada na estruturação
dos sintomas quanto ao que é analisável nas neuroses, perversões e psicoses, e na
regulação que “instala no sujeito uma posição no inconsciente sem a qual ele não
poderia identificar-se com o tipo ideal de seu sexo, nem como responder às
necessidades de seu parceiro na relação sexual” (1958, p. 692).
Lacan esclarece essa questão justamente por situar o falo não como um
mero órgão do corpo, tampouco como um objeto imaginário, nem mesmo como
uma fantasia, mas como um significante, um operador simbólico que possibilita o
sujeito se situar frente a seu desejo. “E de saída, porque falar de falo e não de
pênis? É que não se trata de uma forma ou de uma imagem ou de uma fantasia,
mas de um significante, o significante do desejo” (Lacan, 1958, p. 696).