SóProvas


ID
1477804
Banca
FCC
Órgão
MANAUSPREV
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

O primeiro... problema que as árvores parecem propor-nos é o de nos conformarmos com a sua mudez. Desejaríamos que falassem, como falam os animais, como falamos nós mesmos. Entretanto, elas e as pedras reservam-se o privilégio do silêncio, num mundo em que todos os seres têm pressa de se desnudar. Fiéis a si mesmas, decididas a guardar um silêncio que não está à mercê dos botânicos, procuram as árvores ignorar tudo de uma composição social que talvez se lhes afigure monstruosamente indiscreta, fundada que está na linguagem articulada, no jogo de transmissão do mais íntimo pelo mais coletivo.

Grave e solitário, o tronco vive num estado de impermeabilidade ao som, a que os humanos só atingem por alguns instantes e através da tragédia clássica. Não logramos comovê-lo, comunicar-lhe nossa intemperança. Então, incapazes de trazê-lo à nossa domesticidade, consideramo-lo um elemento da paisagem, e pintamo-lo. Ele pende, lápis ou óleo, de nossa parede, mas esse artifício não nos ilude, não incorpora a árvore à atmosfera de nossos cuidados. O fumo dos cigarros, subindo até o quadro, parece vagamente aborrecê-la, e certas árvores de Van Gogh, na sua crispação, têm algo de protesto.

De resto, o homem vai renunciando a esse processo de captura da árvore através da arte. Uma revista de vanguarda reúne algumas dessas representações, desde uma tapeçaria persa do século IV, onde aparece a palmeira heráldica, até Chirico, o criador da árvore genealógica do sonho, e dá a tudo isso o título: Decadência da Árvore. Vemos através desse documentário que num Claude Lorrain da Pinacoteca de Munique, Paisagem com Caça, a árvore colossal domina todo o quadro, e a confusão de homens, cães e animal acuado constitui um incidente mínimo, decorativo. Já em Picasso a árvore se torna raríssima, e a aventura humana seduz mais o pintor do que o fundo natural em que ela se desenvolve.

O que será talvez um traço da arte moderna, assinala- do por Apollinaire, ao escrever: "Os pintores, se ainda observam a natureza, já não a imitam, evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais observadas ou reconstituídas pelo estudo... Se o fim da pintura continua a ser, como sempre foi, o prazer dos olhos, hoje pedimos ao amador que procure tirar dela um prazer diferente do proporcionado pelo espetáculo das coisas naturais". Renunciamos assim às árvores, ou nos permitimos fabricá-las à feição dos nossos sonhos, que elas, polidamente, se permitem ignorar.

(Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. "A árvore e o homem", em Passeios na Ilha, Rio de Janeiro: José Olympio, 1975, p. 7-8)

Uma redação alternativa para a frase Os pintores, se ainda observam a natureza, já não a imitam, evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais..., em que se mantém a correção e, em linhas gerais, o sentido, encontra-se em:

Alternativas
Comentários
  • Muito embora os pintores ainda a observem,
    Os pintores, se ainda observam a natureza,

    Embora tem mesmo sentido de ainda

    não mais imitam a natureza,
    já não a imitam

    de maneira que se acautelam da reprodução de cenas naturais...
    evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais...

    Acautelar e cuidadosamente tem mesmo sentido.


    Gabarito letra C

  • Discordo, ''se ainda'' não garante que eles de fato observem, já o ''embora'' deixa isso claro.

  • Gabarito C

    Os pintores, se ainda observam a natureza, já não a imitam, evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais...

    Acredito que a banca tenha considerado "se ainda" como conjunção concessiva. Para substituir, devemos trocar pela conjunção de mesmo sentido.


    a) se- conjunção condicional, uma vez que- conjunção causal

    b) por mais que- conjunção concessiva

    C) muito embora - conjunção concessiva, ainda- conjunção concessiva

    d) quando- conjunção condicional, de modo - conjunção consecultiva

    e) embora- conjunção concessiva, nem- conjunção aditiva

  • Em se ainda observam a natureza, o se não condiciona, mas sim constata/reconhece o foto de os pintores ainda observarem a natureza. Portanto, fica claro que o trecho se ainda observam a natureza exerce função de conjunção concessiva, à medida que primeiro constata/reconhece que os pintores observam a natureza e em seguida defende a tese de que: já não a imitam, evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais... Logo, mantém a correção gramatical e o sentido principal de uma ideia de concessão alterando para a frase da alternativa c, pois ela substitui a conjunção concessiva se ainda pela conjunção concessiva muito embora, além de substituir corretamente os demais trechos que não proporcionaram divergência de entendimento aos nobres colegas como o trecho da conjunção.

  • Minha duvida era justamente no acautelar. 

  • Minha dúvida foi quanto ao "se" ainda observam... Não entendi como saber ao certo que o sentido do "se ainda" é de "muito embora". Não caberia o sentido de que não se sabe "se" a natureza "ainda" é observada ou não pelos pintores? Alguém poderia dar uma luz?
  • Fui de concessiva, c:


  • Eu nao concordo com o gabarito, acho que não teria uma opção correta. 

    c) Muito embora os pintores ainda a observem, na minha interpretação esse trecho da resposta, de certa forma esta asegurando que os pintores observam a natureza, "muito embora" ha uma concessao mas ela e observada... no trecho original temos "se ainda observam a natureza" da ideia de hipótese, e o que interpreto.
  • - LETRA C - 


    "O muito embora" tentou reproduzir a noção de hipótese da conjunção "se". Não é comum isso!

    Questão como essa tem que valer 3 pontos! Vou chamar esse examinador para um churrasco ainda! haha


    Avante!


  • a)Se a natureza é observada pelos pintores, não é por eles imitada, uma vez que ela se furta cuidadosamente à reprodução de suas cenas..(o erro desta questão é dizer que a própria natureza se furta à reprodução)


    b)Tendo observado a natureza, os pintores já não a imitam, por mais que evitem cuidadosamente a reprodução de cenas naturais...(Há um conflito aqui. Esse "por mais" cria uma contradição entre as orações)


    c)Muito embora os pintores ainda a observem, não mais imitam a natureza, de maneira que se acautelam da reprodução de cenas naturais...GABARITO.


    d)Os pintores, quando observam a natureza, não mais a imitam, de modo a resguardar-se cuidadosamente para a reprodução de cenas naturais...(eles não se resguardam para a reprodução, eles a evitam!)


    e)Embora ainda a observem, os pintores já não imitam a natureza, nem evitam a reprodução cuidadosa de cenas naturais...(sim, eles evitam sim a reprodução)

  • Juarez, também fiquei na dúvida no "acautelar", mas acertei.

  • acho que a banca deixa duas opções +ou- certas e depois escolhe aquela que teve menos escolha como gabarito oficial.- claro!

  • Concordo com o Tomas Spinelli, uma coisa é deixar na condicional "se ainda observam", outra é garantir que ela é observada através de um "embora ainda a observem". A letra C está mudando o sentido, ao invés de deixar na condicional a assertiva consta uma certeza de que isso ocorre. Logo, todas as letras estão erradas.

  • Essa alternativa é uma farsa! A conjunção "SE" deixa dúvida se o pintor ainda observa a natureza. A alternativa do examinador afirma certeza no sentido de que o pintor a observava. Portanto, em "linhas gerais" não mantém o sentido. 

  • Se ainda observam... como que dá certeza se foi observada? Nada a ver essa gabarito!