SóProvas


ID
1484548
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                O verão em que aprendi a boiar
                            Quando achamos que tudo já aconteceu, novas capacidades
                                       fazem de nós pessoas diferentes do que éramos

                                                                                                                             IVAN MARTINS

            Sei que a palavra da moda é precocidade, mas eu acredito em conquistas tardias. Elas têm na minha vida um gosto especial.
            Quando aprendi a guiar, aos 34 anos, tudo se transformou. De repente, ganhei mobilidade e autonomia. A cidade, minha cidade, mudou de tamanho e de fisionomia. Descer a Avenida Rebouças num táxi, de madrugada, era diferente - e pior - do que descer a mesma avenida com as mãos ao volante, ouvindo rock and roll no rádio. Pegar a estrada com os filhos pequenos revelou-se uma delícia insuspeitada.
            Talvez porque eu tenha começado tarde, guiar me parece, ainda hoje, uma experiência incomum. É um ato que, mesmo repetido de forma diária, nunca se banalizou inteiramente.
            Na véspera do Ano Novo, em Ubatuba, eu fiz outra descoberta temporã.
            Depois de décadas de tentativas inúteis e frustrantes, num final de tarde ensolarado eu conquistei o dom da flutuação. Nas águas cálidas e translúcidas da praia Brava, sob o olhar risonho da minha mulher, finalmente consegui boiar.
            Não riam, por favor. Vocês que fazem isso desde os oito anos, vocês que já enjoaram da ausência de peso e esforço, vocês que não mais se surpreendem com a sensação de balançar ao ritmo da água - sinto dizer, mas vocês se esqueceram de como tudo isso é bom.
            Nadar é uma forma de sobrepujar a água e impor-se a ela. Boiar é fazer parte dela - assim como do sol e das montanhas ao redor, dos sons que chegam filtrados ao ouvido submerso, do vento que ergue a onda e lança água em nosso rosto. Boiar é ser feliz sem fazer força, e isso, curiosamente, não é fácil.
            Essa experiência me sugeriu algumas considerações sobre a vida em geral.
            Uma delas, óbvia, é que a gente nunca para de aprender ou de avançar. Intelectualmente e emocionalmente, de um jeito prático ou subjetivo, estamos sempre incorporando novidades que nos transformam. Somos geneticamente elaborados para lidar com o novo, mas não só. Também somos profundamente modificados por ele. A cada momento da vida, quando achamos que tudo já aconteceu, novas capacidades irrompem e fazem de nós uma pessoa diferente do que éramos. Uma pessoa capaz de boiar é diferente daquelas que afundam como pedras.
            Suspeito que isso tenha importância também para os relacionamentos.
            Se a gente não congela ou enferruja - e tem gente que já está assim aos 30 anos - nosso repertório íntimo tende a se ampliar, a cada ano que passa e a cada nova relação. Penso em aprender a escutar e a falar, em olhar o outro, em tocar o corpo do outro com propriedade e deixar-se tocar sem susto. Penso em conter a nossa própria frustração e a nossa fúria, em permitir que o parceiro floresça, em dar atenção aos detalhes dele. Penso, sobretudo, em conquistar, aos poucos, a ansiedade e insegurança que nos bloqueiam o caminho do prazer, não apenas no sentido sexual. Penso em estar mais tranquilo na companhia do outro e de si mesmo, no mundo.
            Assim como boiar, essas coisas são simples, mas precisam ser aprendidas.
            Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você boia, de vez em quando, morto de medo, sente que pode afundar. É uma experiência que exige, ao mesmo tempo, relaxamento e atenção, e nem sempre essas coisas se combinam. Se a gente se põe muito tenso e cerebral, a relação perde a espontaneidade. Afunda. Mas, largada apenas ao sabor das ondas, sem atenção ao equilíbrio, a relação também naufraga. Há uma ciência sem cálculos que tem de ser assimilada a cada novo amor, por cada um de nós. Ela fornece a combinação exata de atenção e relaxamento que permite boiar. Quer dizer, viver de forma relaxada e consciente um grande amor.
            Na minha experiência, esse aprendizado não se fez rapidamente. Demorou anos e ainda se faz. Talvez porque eu seja homem, talvez porque seja obtuso para as coisas do afeto. Provavelmente, porque sofro das limitações emocionais que muitos sofrem e que tornam as relações afetivas mais tensas e trabalhosas do que deveriam ser. Sabemos nadar, mas nos custa relaxar e ser felizes nas águas do amor e do sexo. Nos custa boiar.
            A boa notícia, que eu redescobri na praia, é que tudo se aprende, mesmo as coisas simples que pareciam impossíveis.
            Enquanto se está vivo e relação existe, há chance de melhorar. Mesmo se ela acabou, é certo que haverá outra no futuro, no qual faremos melhor: com mais calma, com mais prazer, com mais intensidade e menos medo.
            O verão, afinal, está apenas começando. Todos os dias se pode tentar boiar.

                                                                      http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martin...
                                                                                                   verao-em-que-aprendi-boiar.html

Assinale a alternativa correta em relação à ortografa dos pares.

Alternativas
Comentários
  • atencioso 

    aprendizagem

    simplicidade

    furioso

  • Nossa, dá até um ruim ler essas respostas, HAHA.

  • GAB.E

    Sensação – sensacional.

  • Fácil!

     

  • Espero que na minha prova venha assim...

  • Doeu minhas vistas lendo as opções.

  • Se depois de DITONGO há som de Z, então aplica-se S

  • "Por fora parece que eu tô bem, por fora parece tá legal, mas se você me perguntar como eu tô por dentro???". Por dentro eu tô é desanimada com essa banca que só faz questão besta!!! AOCP melhore!

  • GAB E SENSAÇÃO SENSACIONAL

  • a) Atenção – atenciozo. ATENCIOSO
    b) Aprender – aprendizajem. APRENDIZAGEM
    c) Simples – simplissidade. SIMPLICIDADE
    d) Fúria – furiozo. FURIOSO
    e) Sensaçãosensacional.

  • a) o sufixo para substantivo é com -oso = atencioso.

    b) O sufixo para tornar um verbo um subst. é -agem. Na duvida, lembre-se q palavras com 'je' ou ji' geralmente sao de origem africana ou indigena, sendo p/ nomes de frutas, animais etc

    c) sufixo: -cidade.

    d) vide 'a'

    e) ok

  • GABARITO: LETRA D

    Uso do “G”

    a) nas palavras terminadas em -ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio:

    pedágio, colégio, litígio, relógio, refúgio.

    b) nas palavras femininas terminadas em ​-gem: garagem, viagem, escalagem, vagem.

    Uso do “Ç”

    a) nas palavras de origem árabe, tupi ou africana: açafrão, açúcar,

    muçulmano, araçá, Paiçandu, miçanga, caçula.

    b) após ditongo: louça, feição, traição.

    c) na relação ter — tenção: abster — abstenção, reter — retenção.

    FONTE:  Português Esquematizado (2018) - Agnaldo Martino.  

  • atencioso 

    aprendizagem

    simplicidade

    furioso

  • DJONGADOR VOCE LEMBROU QUE EU SEI!!!

  • Eu juro que eu n vi esse "J"