Um dos argumentos centrais de Farson é de que não existe uma natureza da
infância, mas que esta se tornou relevante como resultado das mudanças
decorrentes da Reforma e do Renascimento. Esse argumento de que o
conceito de infância é uma invenção européia do século XVI, e
inexistente até então, se aproxima em muito das teses apresentadas por
Ariès no conhecido livro História Social da Criança e da Família, para o
qual o sentimento moderno de infância só surgiu a partir de
reformadores católicos e protestantes que, ligados às leis e ao Estado,
promoveram um verdadeiro chamado à razão, seja através da transformação
dos estabelecimentos medievais de ensino em instituições disciplinares
de educação e preparação moral da infância para a vida adulta, seja
através da modificação da família num lugar de afeição tanto entre
cônjuges quanto entre pais e filhos (ARIÈS, 1981).
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A escola substituiu a aprendizagem como meio de educação. Isso quer dizer que a criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a vida diretamente, através do contato com eles. A despeito das muitas reticências e retardamentos,a criança foi separada dos adultos e mantida à distância numa espécie de quarentena, antes de ser solta no mundo. Essa quarentena foi a escola, o colégio. Começou então um longo processo de enclausuramento das crianças (como dos loucos, dos pobres e das prostitutas) que se estenderia até nossos dias, e ao qual se dá o nome de escolarização. Essa separação e essa chamada à razão das crianças deve ser interpretada como uma das faces do grande movimento de moralização dos homens promovido pelos reformadores católicos ou protestantes ligados à Igreja, às leis ou ao Estado. Mas ela não teria sido realmente possível sem a cumplicidade sentimental das famílias, e esta é a segunda abordagem do fenômeno que eu gostaria de sublinhar. A familia tornou-se o lugar de uma afeição necessária entre os cônjuges e entre pais e filhos, algo que ela não era antes. Essa afeição se exprimiu sobretudo através da importância que se passou a atribuir a educação. Não se tratava mais apenas de estabelecer os filhos em função dos bens e da honra. Tratava-se de um sentimento inteiramente novo: os pais se interessavam pelos estudos de seus filhos e os acompanhavam com uma solicitude habitual nos séculos XIX e XX, mas outrora desconhecida.
fonte: http://files.grupo-educacional-vanguard8.webnode.com/200000024-07a9b08a40/Livro%20PHILIPPE-ARIES-Historia-social-da-crianca-e-da-familia.pdf