SóProvas


ID
1511947
Banca
AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                               A ciência e o vazio espiritual
                                                                                                 Marcelo Gleiser

      Alguns anos atrás, fui convidado para dar uma entrevista  ao vivo para uma rádio AM de Brasília. A entrevista foi  marcada na estação rodoviária, bem na hora do rush,  quando trabalhadores mais humildes estão voltando para  suas casas na periferia. A ideia era que as pessoas dessem  uma parada e ouvissem o que eu dizia, possivelmente  fazendo perguntas.
      O entrevistador queria que falasse sobre a ciência do fim  do mundo, dado que havia apenas publicado meu livro “O  Fim da Terra e do Céu". O fim do mundo visto pela ciência  pode ser abordado de várias formas, desde as mais locais,  como no furacão que causou verdadeira devastação nas  Filipinas, até as mais abstratas, como na especulação do  futuro do universo como um todo.
      O foco da entrevista eram cataclismos celestes e como  inspiraram (e inspiram) tanto narrativas religiosas quanto  científicas. Por exemplo, no antigo testamento, no Livro  de Daniel ou na história de Sodoma e Gomorra, e no novo,  no Apocalipse de João, em que estrelas caem dos céus  (chuva de meteoros), o Sol fica preto (eclipse total), rochas  incandescentes caem sobre o solo (explosão de meteoro  ou de cometa na atmosfera) etc.
      Mencionei como a queda de um asteroide de 10  quilômetros de diâmetro na península de Yucatan, no  México, iniciou o processo que culminou na extinção  dos dinossauros 65 milhões de anos atrás. Enfatizei que  o evento mudou a história da vida na Terra, liberando os
mamíferos que então existiam -- de porte bem pequeno -- da  pressão de seus predadores reptilianos, e que estamos aqui  por isso. O ponto é que a ciência moderna explica essas
transformações na Terra e na história da vida sem qualquer  necessidade de intervenção divina. Os cataclismos que  definiram nossa história são, simplesmente, fenômenos  naturais.
      Foi então que um homem, ainda cheio de graxa no rosto,  de uniforme rasgado, levantou a mão e disse: “Então o doutor quer tirar até Deus da gente?"
      Congelei. O desespero na voz do homem era óbvio. Sentiu-se traído pelo conhecimento. Sua fé era a única coisa  a que se apegava, que o levava a retornar todos os dias  àquela estação e trabalhar por um mísero salário mínimo. Como que a ciência poderia ajudá-lo a lidar com uma vida  desprovida da mágica que fé no sobrenatural inspira?
      Percebi a enorme distância entre o discurso da ciência e  as necessidades da maioria das pessoas; percebi que para  tratar desse vão espiritual, temos que começar bem cedo,  trazendo o encantamento das descobertas científicas para  as crianças, transferindo a paixão que as pessoas devotam  à sua fé para um encantamento com o mundo natural. Temos que ensinar a dimensão espiritual da ciência -- não  como algo sobrenatural -- mas como uma conexão com
algo maior do que somos. Temos que fazer da educação  científica um processo de   transformação, e não meramente  informativo.
      Respondi ao homem, explicando que a ciência não  quer tirar Deus das pessoas, mesmo que alguns cientistas  queiram. Falei da paixão dos cientistas ao devotarem suas  vidas a explorar os mistérios do desconhecido. O homem  sorriu; acho que entendeu que existe algo em comum entre sua fé e a paixão dos cientistas pelo mundo natural.
      Após a entrevista, dei uma volta no lago Sul pensando  em Einstein, que dizia que a ciência era a verdadeira religião,  uma devoção à natureza alimentada pelo encantamento  com o mundo, que nos ensina uma profunda humildade  perante sua grandeza.

                                                  Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marceloglei
                                               ser/2013/11/1372253-a-ciencia-e-o-vazio-espiritual.shtml. Acesso 22 
                                                                                                                                           nov2013.

Em “...que o levava a retornar todos os dias àquela estação...”, o emprego do sinal indicativo de crase ocorre porque se trata de uma expressão de base nominal que funciona como

Alternativas
Comentários
  • Retornar a aquela estação
    Retornar para aquela estação

    Esse ''para'' tem função de adjunto adverbial que indica direção, enquanto ''aquela estação'' indica lugar


  • retornar: verbo transitivo indireto quando seguido de adjunto adverbial indicando destino, como é o caso da questão.

    Gabarito: A

  • a)adjunto adverbial.

    Retornar é verbo intransitivo: o que vem apos são adjunto adverbiais (de local e tempo)

  • Discordo. Deveria ser anulada pois o objeto indireto esta presente ali

  • ADJ AVERBIAL - LUTENMOCAUDUINA

    LUgar

    TENmpo

    MOdo

    CAUsa

    DUvida

    Intensidade

    Negação

    Afirmação

  • a)

    adjunto adverbial.

  • àquela estação não é objeto indireto??? Se existe só adjunto ai, cadê o Objeto Indireto exigido pelo Verbo???

    Único adjunto adverbial que eu vejo ai é o de tempo "todos os dias" e só.   O seguemento "àquela estação", claramente é Objeto Indireto e é confirmado pela crase!

    Deveria ser anulada!!.

  • Explicação da questão: https://www.euvoupassar.com.br/artigos/detalhe?a=cuidado-com-o-dicionario

    Moral da história. O verbo retornar pode tanto ser INTRANSITIVO como também TRANSITIVO INDIRETO, o que irá depender do contexto. Porém, para a AOCP qualquer verbo de deslocamento (ir, voltar, chegar, retornar, regressar etc.) SEMPRE SERÁ INTRANSITIVO.

    Nos resta engolir.

  • Botei como objeto indireto tbm. Eu hein. Que banca estranha, o negócio é responder do jeito dela.
  • Vou colar o que está escrito no link que o Ítalo indicou:

     

    Pronto!!! A confusão começou!!! Como assim? É que a tradição gramatical (e não a dicionarista) classifica o verbo "retornar"  apenas como intransitivo. Daí, se você tomar como base o dicionário, marcará o item D (Objeto Indireto) como verdadeiro. Porém, o Instituto AOCP segue o que a tradição maior prescreve: os verbos que indicam deslocamento (ir, voltar, chegar, retornar, regressar etc.) são INTRANSITIVOS, e as estruturas preposicionadas (normalmente a preposição "a") que surgem ligadas ao verbo são Adjuntos Adverbiais de Lugar.  

    Portanto, a tradição não necessariamente estará de mãos dadas com os dicionários.

    A resposta correta da questão é A:

    - "...que o levava a retornar todos os dias  àquela estação..."

    Além de "todos os dias", que é um adjunto adverbial de tempo, "àquela estação" é o segundo adjunto adverbial, mas agora é de lugar.

  • Bom, entendi assim: Por que ocorre crase? "retornar a estação", "a estação" é adjunto adverbial de lugar +"a" de "aquela", ocorre o fenômeno.

  • Se é um adjunto adverbia de lugar, por que o "a" em "ÀQUELA" está craseado. De onde veio a preposição que deu causa à crase, já que o verbo é intransitivo?

  • Os verbos (Chegar, Voltar, Comparecer, Ir e RETORNAR= CVC IR) são verbos intransitivos e exigem a preposição {e não EM} aliados a adjunto adverbial de lugar.

    Se for destino temporário - prep. A = Retornou à França.

    Se for destino permanente - prep. PARA = Retornou para a França.

    Se for origem - prep. DE = Retornou da França.

  • Haja paciência para tentar adivinhar o que a banca quer. Deus me livre

  • "...classifica o verbo "retornar"  apenas como intransitivo. Daí, se você tomar como base o dicionário, marcará o item D (Objeto Indireto)..." Se o verbo é intransitivo como teria objeto indireto?

  • Aprendi com os colegas aqui do QC:

    90% das questões com crase são adjunto adverbial!

  • Bom, parece-me que se trata de uma locuação adverbial no feminino. Nesse caso, o sinal de crase é obrigatório.

  • Gente, eu errei, mas não optei pelas alternativas que afirmam se tratar de Ob.direto ou Ob. indireto, porque não há complemento de um verbo.

  • adjunto adverbial de lugar