- ID
- 1513627
- Banca
- AOCP
- Órgão
- Prefeitura de Paranavaí - PR
- Ano
- 2013
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
                                          Amores imperfeitos 
                A pessoa que você mais gosta é cheia de defeitos? 
                                         Existe uma explicação
                                                                                                                        Cristiane Segatto
1.§ Quantos dos seus amigos descrevem o parceiro  (ou parceira) de uma forma estranhamente dúbia? A  pessoa é o amor da vida dele e, ao mesmo, o ser que  mais o incomoda. É uma reclamação tão corriqueira que  começo a achar que estranha é a minoria que parece  satisfeita com o que tem em casa. 
2.§ Tolerar os defeitos do companheiro e entender que,  ao firmar uma parceria, compramos um pacote completo  (com tudo o que há de agradável e desagradável) parece,  cada vez mais, uma esquisita característica de uma  subespécie em extinção.
3.§ O grupo majoritário parece ser o dos apaixonados  intolerantes.
4.§ Há quem se dedique a tentar entendê-los. Li nesta  semana uma reportagem interessante sobre isso. Foi  publicada na revista Scientific American Mind. É baseada  no livro Annoying: The Science of What Bugs Us (algo  como Irritante: a ciência do que nos incomoda), dos  jornalistas Joe Palca e Flora Lichtman.
5.§ Uma das pesquisadoras citadas é a socióloga  Diane Felmlee, da Universidade da Califórnia. Ela conta  a história de uma amiga que vivia reclamando que o  marido trabalhava demais. Diane pediu que a mulher se  lembrasse das qualidades que enxergava nele quando o  conheceu na universidade. A resposta foi sensacional:  “A primeira coisa que chamou minha atenção foi o fato  de que ele era incrivelmente trabalhador. Logo percebi  que se tornaria um dos melhores alunos da classe"
6.§ Não é curioso? Por alguma razão, uma  característica que é vista como uma qualidade no início  do relacionamento se torna, com o passar do tempo,  um defeito. Exemplos disso estão por toda parte. No  início do namoro, o cara parece muito atraente porque é  desencanado, tranquilão. Não perde a chance de passar  o dia de bermuda e chinelo, ouvindo música e bebendo  com a namorada e os amigos. Quatro anos depois passa  a ser visto pela amada como um sujeito preguiçoso,  acomodado, que não tem objetivos claros na vida e veio  ao mundo a passeio.  
7.§ Em outra ocasião, a socióloga Diane perguntou  a um garoto por que ele gostava da última namorada.  A resposta foi uma lista de várias partes do corpo da  moça - incluindo as mais íntimas. Quando a professora  perguntou por que o relacionamento havia acabado, a  justificativa  foi:  “Era  uma  relação  baseada  somente  no  desejo. Não havia amor suficiente."  
8.§ Uma aluna disse que se sentiu atraída pelo ex  porque ele tinha um incrível senso de humor. Algum  tempo depois, passou a reclamar que “ele não levava  nada a sério". Nesse caso, também, o que era qualidade  virou defeito. Deve haver alguma explicação para isso.  Nas últimas décadas, Diane vem realizando estudos com  casais para tentar entender o fenômeno que ela chama de  atrações fatais.
9.§ Ela observou que quanto mais acentuada é a  qualidade reconhecida pelo parceiro no início da relação,  mais incômoda ela se torna ao longo dos anos. Até virar  um traço insuportável.
10.§ Diane acredita que a explicação está relacionada  à teoria da troca social. Essa teoria parte do pressuposto  de que as relações humanas são baseadas na escolha  racional e na análise de custo-benefício. Se os custos de  um dos parceiros superam seus benefícios, a outra parte  pode vir a abandonar a relação, especialmente se houver  boas alternativas disponíveis. “Traços extremos trazem  recompensas, mas também têm custos associados a  eles, principalmente numa relação".
11.§ Um exemplo é a independência. Ela pode ser  muito valorizada numa relação. Um marido independente  é capaz de cuidar de si próprio. Mas se ele for independente  demais, pode significar que não precisa da mulher. Isso  acarreta custos para a relação.
12.§ A receita para evitar que as relações naufraguem  é a boa e (cada vez mais) escassa tolerância. É preciso  aprender a relativizar os hábitos irritantes para continuar  convivendo com uma pessoa que tem muitas outras  qualidades.
13.§ Ninguém é totalmente desprovido de qualidades  e defeitos. Temos os nossos, aprendemos com eles e  com os deles. Além de tolerância, precisamos exercitar  a capacidade de apoiar o parceiro quando as coisas vão  mal e de celebrar quando ele tem alguma razão para isso.  Inventar programas novos e interessantes (zelar para que  isso aconteça com frequência) pode realçar as qualidades  de quem você gosta e amenizar as características e  manias irritantes. Irritante por irritante somos todos. Mas  também podemos ser incrivelmente interessantes.
                                               Adaptado de http://revistaepoca.globo.com/Saude-e-bem-estar/ cristiane-                                                               segatto/noticia/2012/01/amores-imperfeitos.html em  01/12/2012 
Em “A primeira coisa que chamou minha atenção foi o fato de que ele era incrivelmente trabalhador...”, a oração destacada