SóProvas


ID
1522759
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto: Fome de justiça

[...]
            Fui ao presídio feminino Nelson Hungria, convidado para dar uma pequena palestra sobre o livro e a liberdade. Uma biblioteca breve e bem escolhida foi a primeira surpresa, além das cores com que as alunas pintaram a escola da unidade. Depois, todos aqueles olhos, atravessados por uma fome de mudança, rostos variados, tantos, boa parte dos quais cheios de comoção. Olhos em que brilha a obstinada luz do “ainda-não”, que as faz seguir em frente, com a geografia particular de seus afetos. Chamam-se Marisa, Teresa, Maria. Mas que importam os nomes? Não quiseram saber de meu passado e eu tampouco me interessei pelo passado daquelas senhoras. Como disse Agostinho, o passado deixou de ser e o futuro não veio. Portanto, só há presente. E estávamos ali convocados pela duríssima beleza do agora.
            Lembrei a todas que sonhamos de olhos abertos, sobretudo de olhos abertos, como disse Ernst Bloch, e que o presente só faz sentido através da construção que se faça da matéria viscosa dos sonhos, do tempo que virá por antecipação. Disse-lhes que eram noivas de um belo e atraente senhor, a quem deveriam fazer a corte e conquistar com arrebatada decisão: o futuro. E tentamos avançar nessa direção.
            As perguntas nos aproximaram, quebrando um mundo aparentemente dividido, nas malhas processuais ou nas franjas do Código Penal. Somos a mesma porção de humanidade, regidos pela poética do encontro e da boa vontade. Eu indagava silencioso se a Justiça terá olhos suficientes para alcançar essas moças e senhoras, que ainda me emocionam de tal modo que até o momento não sei definir o que vivi. Mas será mesmo preciso definir o que quer que fosse nessa esfera?
            Fui almoçar depois com a diretora e as agentes penitenciárias. As cozinheiras são “moradoras” que preparam os pratos com suas próprias mãos. A fome silenciosa de justiça, no silêncio e no trabalho. Penso nas minhas mãos e nas suas, leitor. Penso nas mãos dos juízes e nas de nossas mães. Porque sem compaixão não há justiça.

                                                                                          Marco Lucchesi, publicado em O Globo, 27/11/13 - fragmento adaptado
                                                                                                disponível em: http://oglobo.globo.com/opiniao/fome-de-justica-
                                                                                                                                                      10891521#ixzz2oNk31UbC

No serviço público, o ambiente profissional requer uso formal da língua, mas isso não se exige na escrita de crônicas. Há distanciamento das regras relativas à correlação entre tempos verbais em “Mas será mesmo preciso definir o que quer que fosse nessa esfera?”, no 3º parágrafo do texto. Também se constata distanciamento das regras gramaticais em:

Alternativas
Comentários
  • Olá, pessoal, não consegui visualizar o "distanciamento das regras gramaticais" da alternativa b:

    “Eu indagava silencioso se a Justiça terá olhos suficientes...” – 3º parágrafo.
    Alguma sugestão?
    Seria o tempo verbal do verbo "terá"?
  • se a justiça teria....

  • Correlação entre o pretérito imperfeito (va,ia) com futuro do pretérito ( ria)....

  • Kaue, o certo seria “Eu indagava silencioso se a Justiça teria olhos suficientes...”

  • Gab. B

    “Eu indagava silencioso se a Justiça terá olhos suficientes...” – 3º parágrafo.


  • A autora do texto flexiona o verbo TER, que concorda com OLHOS, no singular. Toda a palavra que fizer regência com OLHOS (assim como ÓCULOS, LUVAS, SAPATOS, COSTAS, etc...) deverá contrair-se no plural.


    CORRETO: "...se a justiça terão olhos suficientes..."

  • Eu Indagava (pretérito imperfeito do indicativo) ----> Ela (a justiça)  teria (futuro do pretérito)

    Eu indago (presente do indicativo                      -----> Ela (a justiça) terá (futuro do presente do indicativo)

  • Se eu indagava eu gostaria de saber algo que acontecesse no passado

    Se eu indagar eu gostarei de saber algo que acontecerá no futuro.

    *Eu sei que há pleonasmo, mas se faz necessário para ficar bem claro.