SóProvas


ID
1545205
Banca
FCC
Órgão
MANAUSPREV
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

    O primeiro... problema que as árvores parecem propor-nos é o de nos conformarmos com a sua mudez. Desejaríamos que falassem, como falam os animais, como falamos nós mesmos. Entretanto, elas e as pedras reservam-se o privilégio do silêncio, num mundo em que todos os seres têm pressa de se desnudar. Fiéis a si mesmas, decididas a guardar um silêncio que não está à mercê dos botânicos, procuram as árvores ignorar tudo de uma composição social que talvez se lhes afigure monstruosamente indiscreta, fundada que está na linguagem articulada, no jogo de transmissão do mais íntimo pelo mais coletivo.
    Grave e solitário, o tronco vive num estado de impermeabilidade ao som, a que os humanos só atingem por alguns instantes e através da tragédia clássica. Não logramos comovê-lo, comunicar-lhe nossa intemperança. Então, incapazes de trazê-lo à nossa domesticidade, consideramo-lo um elemento da paisagem, e pintamo-lo. Ele pende, lápis ou óleo, de nossa parede, mas esse artifício não nos ilude, não incorpora a árvore à atmosfera de nossos cuidados. O fumo dos cigarros, subindo até o quadro, parece vagamente aborrecê-la, e certas árvores de Van Gogh, na sua crispação, têm algo de protesto.
    De resto, o homem vai renunciando a esse processo de captura da árvore através da arte. Uma revista de vanguarda reúne algumas dessas representações, desde uma tapeçaria persa do século IV, onde aparece a palmeira heráldica, até Chirico, o criador da árvore genealógica do sonho, e dá a tudo isso o título: Decadência da Árvore. Vemos através desse documentário que num Claude Lorrain da Pinacoteca de Munique, Paisagem com Caça, a árvore colossal domina todo o quadro, e a confusão de homens, cães e animal acuado constitui um incidente mínimo, decorativo. Já em Picasso a árvore se torna raríssima, e a aventura humana seduz mais o pintor do que o fundo natural em que ela se desenvolve.
    O que será talvez um traço da arte moderna, assinalado por Apollinaire, ao escrever: "Os pintores, se ainda observam a natureza, já não a imitam, evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais observadas ou reconstituídas pelo estudo... Se o fim da pintura continua a ser, como sempre foi, o prazer dos olhos, hoje pedimos ao amador que procure tirar dela um prazer diferente do proporcionado pelo espetáculo das coisas naturais". Renunciamos assim às árvores, ou nos permitimos fabricá-las à feição dos nossos sonhos, que elas, polidamente, se permitem ignorar.


                                                (Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. "A árvore e o homem", em
                                                                           Passeios na Ilha, Rio de Janeiro: José Olympio, 1975, p. 7-8)

No segmento ...hoje pedimos ao amador que procure tirar dela um prazer diferente..., a oração sublinhada complementa o sentido de um

Alternativas
Comentários
  • Comentário do professor referente a questão 

    Q492598

  • Pelo que entendi, o trecho grifado constitui Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta, completando o sentido do verbo pedir, que é transitivo direto e indireto. Logo pode ser trocada por um substantivo. ex: Hoje pedimos ao amador sossego.

    Posso estar equivocado, Minha ignorância nessa matéria é infinita.

  • Gab: D

     

    Analisando a oração em destaque, percebemos que ela é introduzida pela conjunção integrante  "que", a qual completa o sentido do verbo fazendo pepel de objeto direto. Orações que são introduzidas pela conjunção integrante são as chamadas "Orações Subordinadas SUBSTANTIVAS", logo, pela lógica, poderia ser substituida por um substantivo, pois ela é uma oração substantiva.

     

    ..hoje          pedimos                   ao amador                            que procure tirar dela um prazer diferente

                      VTD (pedimos o que?R: que se procure....)               Oração Subord. Subst. Obje. Direta.

  • Ô Luana, essa explicação do "ISTO" como substantivo ficou um tanto quanto estranha. É melhor se orientar pelo Dieggo Oliveira

    Em tempo, o gabarito é letra "d".

  • hoje pedimos ao amador (ISTO) que procure tirar dela um prazer diferente.

    Pedimos o quê? Objeto Direto.

    Que - conjunção integrante da oração sub. substantiva.

    Logo, completa o sentido do verbo e pode ser substituída por um substantivo, no caso ISTO.

  •  que procure tirar dela um prazer diferente... é uma oração subordinada substantiva objetiva direta, nessa situação ela vai completar o sentido do verbo "pedimos" e pode ser substituida por um substantivo. 

  • Quem pede, pede a alguém, alguma coisa => VTID. "Que" = conjunção integrante, não retoma nenhum termo anafórico, logo, Or.Sub.Subs.Obj.Direta
  • ao meu ver essa questão é sobre análise sintática, mas está na categoria "morfologia"

  • é uma oração subordinada SUBSTATIVA objetiva direta, logo, pode ser substituída por um substantivo