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ID
1556995
Banca
Quadrix
Órgão
CRP - MG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                       Para onde vamos com o autismo?


      É preciso que façamos uma reflexão acerca dos caminhos do autismo. Dos rumos que tomaremos socialmente diante de uma epidemia diagnostica que tem assolado a infância com números estarrecedores.

      Isso porque, diante de tal epidemia, o princípio preventivo embasado na relação entre causas únicas e soluções gerais, que tantas vezes é eficaz em problemas epidemiológicos de saúde pública (como a vacinação contra doenças infectocontagiosas, ou a eliminação do mosquito Aedes para evitar a dengue, para trazer alguns exemplos de domínio geral), torna-se inoperante diante do autismo.

      Tentar fazer o autismo encaixar-se em esquemas de relações unívocas causa-efeito é uma tentação recorrente, seja em organizações sociais, discursos pseudocientíficos, blogs ou mídias - afinal a relação causa efeito é um esquema conhecido e eficaz diante de muitas dificuldades e, convenhamos, quem não gostaria de poder estabelecer soluções simples e gerais?

      No entanto, procurar forjar causas únicas e soluções fáceis diante de questões complexas como o autismo faz com que se caia em perigosos reducionismos, que, seja pelo viés organicista, seja pelo viés psicologizante, produzem conseqüências extremamente danosas para as pessoas com autismos e seus familiares.

      O diagnóstico do autismo e sua terapêutica exigem considerar a complexidade. Complexo quer dizer aquilo que está tecido, que está em rede, e é na rede interdisciplinar que é preciso tratar dessa questão, articulando os campos de saúde mental, deficiência, educação, assistência social e judicial.

      No autismo, a causa não é única, mas uma combinação de fatores; o seu quadro não pode ser definido por um único indicador isolado, o que exige um olhar e uma escuta clínica acurados; sua evolução pode apresentar variações muito significativas, o que torna questionáveis os prognósticos; e, no que diz respeito à terapêutica, encontram-se documentadas evoluções clínicas de grande sucesso ou de permanência em uma gravidade nas mais diferentes abordagens.

      Longa é a discussão científica sobre a etiologia do autismo.Os fatos científicos encontrados até agora apontam que, se bem no autismo possa haver fatores genéticos implicados, a princípio, em 50% dos casos (como revela a pesquisa com metologia big data, ou seja, sobre o total dos nascimentos, realizada na Suécia entre 1982 e 2006 com 2.049.973 crianças, já comentada por Marcelo Leite em coluna intitulada "A outra face do autismo"), é certo que, mesmo quando há fatores genéticos implicados, não se trata de uma patologia monocausal, ou seja, não é causada por um único gene, depende de uma combinação de vários deles.

      A questão é ainda mais complexa, pois se sabe também que todos nascemos com um código genético  estabelecido, porém o modo como o mesmo irá se manifestar depende dos chamados fatores epigenéticos, ou seja, das experiências de vida, que incluem fatores ambientais. Tais fatores vão desde o ar que respiramos, a água que bebemos, até um fator que em nada é desprezível para a constituição do bebê humano: a relação com os outros.

      A principal característica do ser humano é a de não nascer pronto desde o ponto de vista orgânico. O cérebro depende de experiências para se formar e o código genético também se manifesta em função dessas experiências.

      Portanto, é absolutamente ultrapassado e reducionista o conceito de que, uma vez autista, sempre autista. Diagnóstico não é destino - como tantas vezes pessoas desinformadas acerca da complexidade da formação orgânica costumam afirmar. Por isso a intervenção psicanalítica aposta em produzir experiências de vida constituintes e, desde a sua prática, recolhe diversos exemplos de pequenas crianças que chegam com traços autísticos e deixam de tê-los por efeito da intervenção.

      Desde o ponto de vista psíquico, tampouco nascemos estruturados, e sim abertos a inscrições. Estas inscrições dependem de certas operações constituintes do sujeito, que podem ser sustentadas com estilos de cuidados muito diferentes. Portanto, também é absolutamente reducionista e anacrônico o conceito de que o autismo seria uma resposta a uma mãe fria ou pouco afetiva - "uma mãe geladeira" - como tantas vezes pessoas desinformadas acerca da concepção psicanalítica continuam a afirmar. A função materna pode ser exercida com estilos muito diferentes e depende de uma rede familiar e social para poder operar. A sustentação da função materna não ocorre de modo isolado ou individual e por isso é reducionista qualquer visão de culpabilização da mãe.

      Os acontecimentos de vida, as contingências que cercam o nascimento de uma criança, têm um fator determinante no estabelecimento da relação mãe-bebê, por isso o que está em jogo no estabelecimento dessa relação não pode jamais ser avaliado como fruto de uma competência inata da mãe ou do bebê.

      Quanto aos números assoladores que fazem do autismo uma epidemia na atualidade cabe interrogarmos do que ela é fruto.

      [...]

                                                                                                                                       (www. estadao. com.br)

Observe o termo destacado abaixo.


"Os fatos científicos encontrados até agora apontam que, se bem no autismo possa haver fatores genéticos implicados, a princípio, em 50% dos casos."


Sobre a expressão "possa haver", em destaque no texto pode-se afirmar corretamente que:

Alternativas
Comentários
  • "Haver", no sentido de existir, é o que se chama de verbo impessoal (não há sujeito para concordar com ele). Na prática, significa que o verbo fica sempre no singular: há políticos desonestos, haverá políticos desonestos, se houvesse políticos desonestos, havia políticos desonestos.

  • Verbo "haver" no sentido de existir é impessoal e no caso de locução verbal o verbo "haver" passa essa impessoalidade para o verbo auxiliar.

    letra c

  • Haver no sentido de existir é VERBO IMPESSOAL
    Nunca terá PLURAL!

    GABARITO: C
  • A questão não é o verbo "haver" estar no sentido de existir, mas sim o fato de ele ser o verbo principal, na locução verbal. Qualquer verbo principal será impessoal e ficará na forma nominal.

  • Na locução verbal, o primeiro verbo é o auxiliar, e o segundo é o verbo principal.

    EX:

    possa  haver

       |            |  

    V.aux.   V. princ.



  • alguém pode explicar o erro da "e"?

     

  • LETRA C

    O verbo principal haver transmite sua impessoalidade ao verbo auxiliar possa. Portanto, os dois verbos ficam no singular.

    Thalita, a letra E está errada porque o verbo haver, no sentido de existir, é impessoal e, portanto o sujeito é inexistente. Porém, o verbo haver vai admitir objeto direto (fatores genéticos implicados).
    Só lembrando que quem flexiona o verbo é o sujeito e não o objeto.

  • (...) possa haver fatores genéticos implicados, a princípio, em 50% dos caso

     

    Trata-se de uma locução formada pelo verbo HAVER (verbo principal) e POSSA (verbo auxiliar). O verbo principal é impessoal, não varia em número. A grmática diz que o verbo auxiliar absorve as características do verbo impessoal e também não flexiona. A concordância está correta.

     

    GAB: C

  • O verbo HAVER só poderá sofrer flexão para o plural quando este for um verbo auxiliar em uma locução verbal!

    Ele será pessoal, deverá concordar com o sujeito.

    Quando o verbo HAVER estiver no sentido de existir será impessoal, logo não pode ir para o plural!