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ID
1557568
Banca
CETRO
Órgão
MDS
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Como diz o outro, preconceito é o diabo. Tanto mais quando as sociedades humanas até hoje não foram capazes de se estruturar nem de se organizar sem ele, isto é, sem alguma forma de negar o próximo. Daí a necessidade de combater o preconceito a cada instante e daí a sua persistência na História, sob formas sucessivas. Vai um, vem outro, muita gente vive dele e para ele, enquanto poucos lutam contra. Na pior hipótese admissível, ele deve ser pelo menos recalcado, disfarçado, porque disfarçando a pessoa acaba por atenuar o seu impacto e não deixa que ele se torne impedimento de relações mais ou menos normais. Por isso costumamos esperar e até exigir que os educadores, os chefes, os líderes, as pessoas que expressam grupos ou são investidas de alguma representação coletiva não manifestem preconceito, para poderem executar bem sua tarefa. Se os têm, que os escondam e não atuem em função deles. 
       Eis por que foi mesmo lamentável o pronunciamento do general Coelho Neto, para quem o cardeal Arns é mau brasileiro, e talvez nem seja brasileiro, por ser contrário à entrada do Brasil na indústria armamentista. Pensando no motivo que teria levado o general a simular dúvida sobre a nacionalidade óbvia de um eminente patrício seu, me ocorre que ele poderia estar exprimindo uma das formas mais arcaicas de preconceito que há no Brasil: a noção que o descendente de estrangeiros, portador de sobrenome não-português, é menos brasileiro. Menos brasileiro em relação a quem? 
       Quando eu era menino, há meio século e mais, ainda florescia este sentimento torto, partilhado automaticamente, quase sem malícia, nem prejuízo das relações do dia a dia, pela maior parte dos descendentes de famílias que eram velhas por aqui. Mas a coisa podia engrossar em certas circunstâncias, porque, como eles se achavam “mais brasileiros", achavam-se também mais donos do país, e quando o estrangeiro ou seu filho faziam qualquer coisa que desagradava — do tipo ganhar dinheiro demais, comprar terras do pessoal antigo, brilhar ou mostrar mais capacidade — havia quem se sentisse vagamente espoliado de um direito virtual. E que podia chegar a ver no caso um desaforo tácito, atentatório, à integridade e ao destino da Nação... 

CANDIDO, A. Preconceito arcaico. (Folha de S.Paulo, 7/4/1982). Texto com adaptações. In: Textos de Intervenção/ Antonio Candido; seleção, apresentação e notas de Vinicius Dantas. São Paulo: Duas Cidades; Ed.34, 2002

Considerando a leitura do segundo parágrafo do texto, bem como as orientações da prescrição gramatical no que se refere a textos escritos na modalidade padrão da Língua Portuguesa, assinale a alternativa correta.

Alternativas
Comentários
  • Alguém poderia explicar a letra E, por favor...

     

    a noção que o descendente de estrangeiros, portador de sobrenome não-português, é menos brasileiro.

     

    Seria porque o é é um verbo de ligação e não um verbo transitivo que pede complemento (OD ou OI)?

  • Alguem poderia explicar por que o "QUE" da alternativa E não é classificado como pronome relativo?

  • Gabarito C.

    Quanto a letra E,analisei da seguinte forma: o "que" é, de fato, pronome relativo, porém não poderia ser substituído por "o qual" em função da regência de "noção", isto é, quem tem noção, noção de que.... Logo, "o qual" tornaria a oração errada no ponto de vista da regência.

  • Povo,

     

    A palavra noção é regida pela preposição acerca dede ou sobre. sei que isso não agrega nada à letra E. Mas vejam que falta um verbinho nesse periodo, portanto, não teriamos como ser PR, pois faltaria a oração principal. sendo assim, ACREDITO que o termo exerce a função de complemento nominal.

    Se estiver falando bobage, peço chamar no inbox para que eu corrija o comentário.

     

    abs

  • Então, aparentemente, na "E" o "que" é conjunção integrante do complemento nominal.

  • Alexander, o "que" é pronome relativo. Veja a explicação de Jonathan :)