SóProvas


ID
1617499
Banca
ZAMBINI
Órgão
PRODESP
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                        CAPÍTULO XXVII / VIRGÍLIA?


      Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muita preguiça e alguma devoção, – devoção, ou talvez medo; creio que medo.

       Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa que devia influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. Tu que me lês, se ainda fores viva, quando estas páginas vierem à luz, – tu que me lês, Virgília amada, não reparas na diferença entre a linguagem de hoje e a que primeiro empreguei quando te vi? Crê que era tão sincero então como agora; a morte não me tornou rabugento, nem injusto.

      – Mas, dirás tu, como é que podes assim discernir a verdade daquele tempo, e exprimi-la depois de tantos anos?

      Ah! indiscreta! ah! ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da Terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impressões e a vaidade dos nossos afetos. Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.


(MACHADO DE ASSIS, J. M. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Ediouro, s. d.)

Transpondo-se para a voz passiva analítica a oração “o editor dá a edição definitiva de graça aos vermes”, obtém-se a forma verbal

Alternativas
Comentários
  • Gab. D

    A edição definitiva É DADA de graça aos vermes pelo editor.

    A voz passiva analítica tem que ter: verbo de ligação + verbo no particípio + preposição + substantivo

    Ex. Um país inteiro não pode ser destruído por um mosquito.

    Já a voz passiva sintética ocorre quando o SE acompanha verbos transitivos diretos ou transitivos direto e indireto.

    Ex. *Comentava-se esses casos.         
         *Vende-se sorvete.
  • é dada”.

  • Lembrando que quando formos passar para o voz passiva temos que respeitar o tempo verbal da oração original.

    O verbo "Dá" está no presente do indicativo, então a voz passiva também deverá estar.

  • A edição definitiva é dada de graça aos vermes pelo editor.

  • Alternativa D

    Para quem tem dificuldade com o assunto, recomendo as aulas do professor Rodrigo Sales. Me ajudou muito, e por ser de muita valia, compartilho.

    Vozes Verbais: ativa, passiva, reflexiva; voz neutra.

    https://www.youtube.com/watch?v=pyhPu_pkvrM

     Lembre-se, tudo que fazemos retorna!

    Abraços

    Sucesso na sua jornada!