SóProvas


ID
1627492
Banca
FUNDEP (Gestão de Concursos)
Órgão
CORECON - MG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Obrigado por ligar. Sua ligação é muito importante para nós. Se desejar serviços de instalação, tecle 1. Para reagendamento de visita, tecle 2. Para verificação de dados cadastrais, tecle 3. Para informações sobre plano de pagamento, tecle 4. Para falar com um de nossos atendentes...

Não, você não conseguirá falar com um de nossos atendentes. Mas poderá ouvir, durante 25 minutos ou mais, sucessos como “Moonlight Serenade” e o tema de “Golpe de Mestre”.

Também, quem mandou você não ter em mãos o número de seu cartão eletrônico, de sua matrícula no SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente), de seu cadastro na Comunidade NetLig?

Muitas coisas mudam de forma e de nome, mas no fundo permanecem iguais. A peregrinação que temos de fazer de tecla em tecla é a mesma que, antigamente, nos levava a passar horas nas filas de uma repartição burocrática.

Cada tecla, afinal de contas, não passa de um guichê, e o cartão que devemos ter por perto ou a senha que se impõe saber de cor equivale ao papel, à guia, ao documento que nos exigem e que nunca está a contento do funcionário.

É a burocracia sem papel, a burocracia dos impulsos eletrônicos. Claro, há vantagens: não é preciso sair de casa e, enquanto você espera atendimento, com o telefone encaixado entre o ombro e a bochecha, sempre poderá fazer alguma outra coisa. Sugestões: pôr os papéis em ordem na gaveta (você poderá encontrar o cartão de crédito cujo desaparecimento tentava comunicar); teclar alguma outra senha de acesso no computador, se tiver internet banda larga (se não tem, disque para nós hoje mesmo); alongar os músculos do pescoço e da nuca; ou entregar-se a outras atividades corporais cujo nome não seria conveniente declinar aqui.

De todo modo, a burocracia eletrônica segue os princípios da antiga. Quanto mais a instituição ou a empresa economizam, mais o usuário perde tempo. No hospital público ou na assistência técnica da máquina de lavar, sempre vigora a lei da seleção natural: eliminam-se os fracos, para que só os mais fortes, ou os mais desesperados, cheguem até o fim do processo.

Claro que, quanto mais procurado o serviço, maior a fila. Se notamos tanta burocracia nas instituições públicas, é porque seu acesso é universal. Em inúmeras entidades privadas vemos a burocracia aumentar, justamente porque passaram a ser procuradas pelo grosso da população. Os planos de saúde particulares constituem o maior exemplo disso, mas bancos e cartões de crédito, cujo universo de clientes se ampliou muito, não ficam atrás.

Experimento reações contraditórias quando vou a um caixa eletrônico. Em comparação com a fila tradicional, sem dúvida ganho tempo. Mas sinto que estou também “trabalhando” para o banco. Passo a senha, digito, confirmo, conto o dinheiro: eis que sou um novo funcionário do caixa, trabalhando de graça, enquanto algum bancário foi despedido em troca.

Tudo bem. Gasto menos tempo no banco. Mas diminuiu também a minha impressão de perder tempo. Todo trabalho, por mais mecânico que seja, faz o tempo passar mais depressa do que a pura espera. Fala-se de democracia participativa, mas a “burocracia participativa” também deveria merecer os seus filósofos.

À medida que um serviço se generaliza, crescem as possibilidades de fraude. Quando uma empresa, pública ou privada, passa do âmbito de uma distinta clientela para o universo multitudinário e turvo da humanidade em seu conjunto, torna-se inevitável multiplicar as precauções contra os indivíduos de má-fé; isso significa mais burocracia.

O que é um antivírus, um firewall ou um anti-spam, a não ser a burocratização do nosso computador? Eu costumava usar um antivírus que tinha rigores de fiscal de alfândega, parecia usar carimbos de Polícia Federal em dia de operação-tartaruga toda vez que se punha a examinar a mensagem que entrava e a mensagem que saía do meu Outlook.

Acontece que o computador, como tudo o que tem telinha (um caça-níqueis, uma TV, um videogame, um caixa eletrônico) sempre oferece ao usuário algo de lúdico, de viciante, de hipnótico.

Já a burocracia telefônica (volto a ela) é muito pior. Seu maior pecado, a meu ver, está na confusão que estabelece entre as categorias de tempo e de espaço. Entre num desses sistemas de “tecle 5 se deseja isto, tecle 6 se deseja aquilo...” e tente corrigir uma decisão errada.

Os sistemas mais extensos e irritantes usam a famigerada tecla 9 -”para mais opções”-, abrindo-se em alternativas que, para serem conhecidas integralmente, exigiriam a vida inteira. Tudo ficaria mais fácil, se o sistema fosse visualizado no espaço, num esquema em árvore, num organograma, num menu de website -ou mesmo num mapa de repartição, com suas ramificações em corredores, departamentos e guichês. No máximo, ficaremos andando de um lado para outro.

O problema do “tecle isto, tecle aquilo” é que ele se desenvolve no tempo, não no espaço. Somos forçados a prosseguir em alternativas que será sempre mais custoso reverter; avançamos em decisões tomadas no escuro, como se navegássemos num fluxo betuminoso, por rios e córregos cada vez mais estreitos, cada vez mais espessos, carregados de todas as opções já feitas, de todo o tempo acumulado e perdido naquela ligação, sem muita esperança de que, na extrema ponta do percurso, uma voz humana venha afinal falar conosco.

É assim que o sistema de ramais automáticos guarda incômoda semelhança com nossa própria vida adulta; tem algo de anacrônico, de auditivo, de analógico. Já as telas da internet, organizadas espacialmente, com seus cliques de mouse, seus compartimentos de todas as cores, seus guichês planificados e seus pop-ups imprevistos e festivos, são um modelo bem alegre em que mirar. Desde que a conexão não caia de repente.

COELHO, Marcelo. Disponível em:< http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1703200416.htm>.Acesso em: 12 abr. 2015. (Adaptado)


Assinale a alternativa em que o termo destacado foi classificado CORRETAMENTE nos parênteses.

Alternativas
Comentários
  • Também, quem mandou          ISSO. ( ISSO = Substantivas).

    Objetiva direta, pois quem manda, manda alguma coisa 

  • Resposta: Letra B

    Erro da letra A

    Complemento nominal vem sempre preposicionado

    Erro da letra C

    O termo destacado é Predicativo do Sujeito

    Erro da letra D

    O termo destacado é Objeto Indireto


    Se estiver equivocada comentem, por favor!

  • A assertiva A está errada, porque o termo está completando o sentido de um substantivo concreto. Assim, trata-se de adjunto adnominal.

  • No meu entender " problema" da letra A é substantivo abstrato. O problema só existe enquanto ocorre. O termo destacado é adjunto adnominal pois tem natureza ativa, isto é, é agente. "Tecle isto, tecle aquilo tem problema."

  • Cadê a conjunção integrante na letra B para ser uma oração subordinada substantiva? Não entendi. Alguém me explica?

  • Na letra A, o termo destacado é o sujeito.  O problema do “tecle isto, tecle aquilo” é que ele se desenvolve no tempo, não no espaço.” 

  • a) “O problema do “tecle isto, tecle aquilo” é que ele se desenvolve no tempo, não no espaço.” (COMPLEMENTO NOMINAL)

    ERRADO, pois o termo “tecle isto, tecle aquilo” está restringindo o substantivo “problema”, mantendo com ele uma relação de posse (esta é a regra que uso para verficar quando o caso é de adjunto adnominal). Logo, trata-se de adjunto adnominal, não de complemento nominal.

     

    b) “Também, quem mandou você não ter em mãos o número de seu cartão eletrônico, de sua matrícula no SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente), de seu cadastro na Comunidade NetLig?” (ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA OBJETIVA DIRETA)

    CORRETO, pois a oração “você não ter (...)” está complementando o verbo “mandou”, exercendo a função sintática de objeto direto.

     

    c) “Passo a senha, digito, confirmo, conto o dinheiro: eis que sou um novo funcionário do caixa, trabalhando de graça, enquanto algum bancário foi despedido em troca.” (PREDICATIVO DO OBJETO)

    ERRADO, pois a expressão “um novo funcionário” está caracterizando o sujeito oculto “eu”. Logo, trata-se de predicativo do sujeito, não de predicativo do objeto.

     

    d) “A peregrinação que temos de fazer de tecla em tecla é a mesma que, antigamente, nos levava a passar horas nas filas de uma repartição burocrática.” (OBJETO DIRETO)

    ERRADO, pois a expressão “a passar” está complementando o verbo “levava” com o uso da preposição “a”. Logo, trata-se de oração subordinada substantiva objetiva indireta, não de objeto direto.

  • Eu forcei a letra A porque não enxerguei a conjunção integrante iniciando a oração subordinada na letra B. Porém, revisando minhas anotações, nem sempre uma oração subordinada será iniciada por conjunção. É o caso da alternativa B, que, embora não tenha conjunção integrante, pode perfeitamente ser substituída por ISSO.

  • Josmar, é exatamente isso. A oração substantiva só vai ser iniciada por uma conjunção integrante quando ela for desenvolvida. Observe que na oração da alternativa "b", o verbo encontra-se na forma nominal (infinitivo). Portanto, trata-se de uma oração reduzida e, sendo assim, não tem conjunção. Apesar disso, continua sendo uma oração subordinada substantiva objetiva direta

     

    a) trata-se de um adjunto adnominal;

    c) trata-se de um predicativo do sujeito;

    d) trata-se de um objeto indireto oracional;

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

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    Gabarito: B