SóProvas


ID
1656493
Banca
FUNCAB
Órgão
MPOG
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Os laços de família

    A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e recontava as duas malas tentando convencer-se de que ambas estavam no carro. Afilha, com seus olhos escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.
 - Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe
-  Não, não, não esqueceu de nada, respondia a filha divertida, com paciência.

     Ainda estava sob a impressão da cena meio cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da despedida. Durante as duas semanas da visita da velha, os dois mal se haviam suportado; os bons-dias e as boas-tardes soavam a cada momento com uma delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi, a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer das malas nas mãos, a gaguejar - perturbado em ser o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas. “Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e Antônio aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé, observava com malícia o marido, cuja segurança se desvanecera para dar lugar a um homem moreno e miúdo, forçado a ser filho daquela mulherzinha grisalha... Foi então que a vontade de rir tornou-se mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato quando tinha vontade de rir: seus olhos tomavam uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais estrábicos - e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra: desde pequena rira pelos olhos, desde sempre fora  estrábica.
[...]
- Não esqueci de nada..., recomeçou a mãe, quando uma freada súbita do carro lançou-as uma contra a outra e fez despencarem as malas. — Ah! ah! - exclamou a mãe como a um desastre irremediável, ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de repente envelhecida e pobre. E Catarina?
     Catarina olhava a mãe, e a mãe olhava a filha, e também a Catarina acontecera um desastre? seus olhos piscaram surpreendidos, ela ajeitava depressa as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente possível remediar a catástrofe. Porque de fato sucedera alguma coisa, seria inútil esconder:
Catarina fora lançada contra Severina, numa intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca se haviam realmente abraçado ou beijado. Do pai, sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais, os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e depois de se ajeitarem, não tinham o que falar - por que não chegavam logo à Estação?
- Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.
Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe
Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão

    - Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas foram dispostas no trem, depois de trocados os beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.
Catarina viu então que sua mãe estava envelhecida e tinha os olhos brilhantes.
    O trem não partia e ambas esperavam sem ter o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e examinou-se no seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração por si mesma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos olhos ; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo.
LISPECTOR, Clarice. In: Os melhores contos de Clarice Lispector. Seleção de Walnice Nogueira Galvão. São Paulo:Global,1996.p 70-7.

A oração destacada em “Catarina, de pé, observava com malícia o marido, CUJA SEGURANÇA SE DESVANECERA para dar lugar a um homem moreno e miúdo" exerce a mesma função que o sintagma adjetivo é capaz de exercer, a saber:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: Alternativa B



    Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui valor e função de adjetivo. As orações vêm introduzidas por pronome relativo e exercem a função de adjunto adnominal do antecedente.



    Bons estudos!

  • é fácil excluir as opções de não ser: sujeito, OD e predicativo. a dúvida fica entre adjunto adnominal e complemento nominal.

    Dica!

    Para diferenciar o complemento nominal do adjunto adnominal é preciso reconhecer a que termo se relaciona. Será complemento nominal se o elemento se relacionar com adjetivo ou advérbio.

    ex.: A mãe está feliz com a aprovação da filha no vestibular.

    feliz: adjetivo

    coma  a aprovação da filha no vestibular: complemento nominal


    Sempre que se relacionar com um substantivo concreto, o elemento será adjunto adnominal.

    ex.: Os livros de minha avó são raros.

    livros: substantivo concreto

    de minha avó: adjunto adnominal

    Exemplos:

    Camisas de diversas cores foram usadas no desfile. (adjunto adnominal; refere-se ao termo camisas.)

    Todos tinham muito apreço pelo escritor. (complemento nominal; refere-se ao termo apreço.)

    Por: Miriã Lira.

    disponível em:http: //www. coladaweb. com/portugues/diferencas-entre-complemento-nominal-e-adjunto-adnominal

    acessado em 30/09/2015, as 10:9h. (OBS: coloquei espaços após os dois pontos e após os pontos para que o site não exclua o link. caso queiram acessar o site é só copiar e colar na barra de endereço e excluir os espaços antes de dar enter).

    "CUJA SEGURANÇA SE DESVANECERA" faz referência a "marido" que é substantivo concreto, portanto, gabarito letra "b".


  • Não consegui entender o enunciado. Se alguém puder clarear o objetivo da questão.

  • b)adjunto adnominal. O adjunto adnominal é usado quando adiciona sentido a um termo concreto, enquanto que CN completa o sentido de 1 termo abstrato

  • A dúvida sobre COMPLEMENTO E ADJUNTO é retirada na questão observando o pronome relativo CUJA, o qual tem sentido de POSSE. E quem tem sentido de posse? ADJUNTO ADNOMINAL.

    Complemento Nominal tem sentido passivo, ou seja, sofre a ação.