SóProvas


ID
1711168
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A CHAVE
Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo
IVAN MARTINS
    Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou.
    O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio. 
   Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de confiança.
    Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase.
    Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que uma porta. Abre um novo tempo.
    O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.
    [...]
    Você tem certeza de que a outra pessoa ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais estarão sozinhos.
    Se as chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.
    [...]
    A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito. 
   Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.
  Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo". E, assim como a outra, dispensa “eu também". Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca, oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.

Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html

Em “... aceita a chave quem a deseja...", o termo destacado exerce função sintática de

Alternativas
Comentários
  • O "A" ESTÁ RELACIONADO A PALAVRA 'CHAVE'


    -> QUEM DESEJA...DESEJA ALGO --> A CHAVE = ''A" ( OBJETO DIRETO )


    GABARITO "B"


  • Falta de atenção aff realmente é OD

  • OBJETO DIRETO PLEONÁSTICO.

  • Objeto direto Pleonástico ... 

  • Objeto Direto PLEONÁSTICO:

    Quando se quer chamar a atenção para o objeto direto que precede o verbo costuma-se repeti-lo, geralmente usando um pronome pessoal átono. É o que se chama objeto direto pleonástico.

    EX: Aquela criança aprendi amá-la e educá-la.

  • o segundo "a" destacado é pronome, que se refere a "chave". O verbo desejar não exige preposição

  • a sempre será objeto direto,sempre.

  • Pronome oblíquo átono: A sempre será OD  
                                       LHE sempre será OI

  • Pronomes Oblícos desempenham as funções de Complementos Verbais (OD e OI) e Complemento Nominal.

    "...deseja-a" que por próclise foi atraido pelo pronome relativo "quem", ficando " ...a deseja"

    Se o "a" fosse preposição, deveria ficar na frente do "quem", obdecendo a regra da regência para pronomes relaivos: "....a quem deseja", mas ficaria estranho no contexto.

  • O sujeito é 'quem". O "a" é O.D.

  • "Quem" exerce função de sujeito nas orações em que está presente.

    Gabarito B

  • aceita a chave quem deseja ela > OD.