SóProvas


ID
1756084
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
EBSERH
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                A CHAVE

                    Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo

                                                                                                                   IVAN MARTINS

     Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou. O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.

      Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de confiança.

      Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase.

      Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que uma porta. Abre um novo tempo.

      O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.

      [...]

      Você tem certeza de que a outra pessoa ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais estarão sozinhos.

      Se as chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.

      [...]

      A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito.

      Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.

      Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo”. E, assim como a outra, dispensa “eu também”. Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca, oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.

Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html

Em “A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito.”, existe uma inadequação gramatical quanto à

Alternativas
Comentários
  • mas são tão bonitas

  • e pq "as vezes" craseado??

  • às vezes --> crase pq é locução adverbial.

  • - O que é "regência"? 

    "Regência" é a função subordinativa de um dos termos (regentes) sobre outros (regidos ou subordinados).

    - O que é "concordância"?

    A concordância é um princípio pelo qual certos termos determinantes ou dependentes se adaptam às categorias gramaticais de outros, determinados ou principais.

    http://redafacil.blogspot.com.br/2012/11/regencia-e-concordancia.html

  • mas são tão bonitas*

  • David Rafael, toda locução adverbial feminina recebe o acento grave indicativo da CRASE.

    Às vezes, vou à praia!

    locução adverbial feminina de tempo

    Vire à esquerda

               locução adverbial feminina de lugar

    Fique à vontade!

                   locução adverbial feminina de modo

    A EXCEÇÃO é para LOCUÇÕES ADVERBIAIS FEMININAS DE INSTRUMENTO. Neste caso, a CRASE É PROIBIDA!

    Maria pintou a tela A MÃO.

                                     loc. adv fem de instrumento = crase proibida

    O policial prendeu o ladrão A BALA.

                                     loc. adv fem de instrumento = crase proibida

  • d)concordância.

    “A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas são tão bonitas.”

  • Regência: É a exigência ou não de preposição; se Nominal é um nome que está exigindo ou não; se Verbal é um verbo que está exigindo ou não a preposição.

    Concordância: Circunstância de um adjetivo variar em gênero e número de acordo com o substantivo a que se refere (concordância nominal) e à de um verbo variar em número e pessoa de acordo com o seu sujeito (concordância verbal)

    No caso em comento o sujeito: "A gente" não está concordando com o Verbo "ser"

    Gabarito: Item D

  • GABARITO LETRA D.

     

    Para quem marcou a letra B, por achar que era erro de ortografia: O verbo "é" está correto quanto a sua ortografia, mas o que o torna inaquado é a sua CONCORDÂNCIA VERBAL.


    Forma correta: "SÃO", pois concorda com ==> ESSAS COISAS

  • Não concordo com essa ditadura de ter de ser "são tão bonitas" para tal frase estar gramaticalmente correta.
    Porque a li e reli e não detectei erro algum, por entender que "é tão bonito" está antecedido de um "isto" oculto.

    Aliás, ouso arriscar que foi exatamente esta a intenção do autor.

    Reescrevendo, para melhor clareza: “A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas isto é tão bonito."

    E quero crer que a língua Portuguesa aceitaria perfeitamente como correta esta construção, com o "isto" apenas subentendido.

  • “A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas são tão bonitas.”