Para responder à questão, considere o texto abaixo.
A gerontologia, palavra cunhada em 1903, é a ciência que estuda a velhice. Como um campo de saber específico, cria
profissionais e instituições encarregados da formação de especialistas no envelhecimento. Assim, uma nova categoria cultural é
produzida: os idosos, como um conjunto autônomo e coerente que impõe outro recorte à geografia social. A preocupação da
sociedade com o processo de envelhecimento deve-se, sem dúvida, ao fato de os idosos corresponderem a uma parcela da população
cada vez maior.
Terceira idade é uma expressão que surge na década de 1970, quando foi criada na França a primeira universidade voltada
para pessoas com setenta anos ou mais. Essa expressão não é apenas uma forma de nomear os mais velhos sem uma conotação
pejorativa. Sinaliza, antes, mudanças no significado da velhice. Trata-se de celebrar a velhice como sendo um momento privilegiado
para o lazer. A invenção da terceira idade, ou "melhor idade", indicaria assim uma experiência inusitada de envelhecimento, em que o
prolongamento da vida nas sociedades contemporâneas ofereceria aos mais velhos a oportunidade de dispor de saúde,
independência financeira e outros meios apropriados para tornar reais as expectativas de que essa etapa da vida é propícia à
satisfação pessoal.
A visão da velhice como um processo contínuo de perdas e de dependência, responsável por um conjunto de imagens
negativas associadas a ela, tem sido substituída pela consideração de que esse é um momento fecundo para novas conquistas.
Proliferaram, na última década, programas voltados para a terceira idade, como as universidades e os grupos de convivência.
Contudo, o sucesso dessas iniciativas é proporcional à precariedade dos mecanismos de que dispomos para lidar com a
velhice avançada. A nova imagem do idoso não oferece instrumentos capazes de enfrentar a decadência de habilidades cognitivas e
controles físicos e emocionais que são fundamentais, na nossa sociedade, para que um indivíduo seja reconhecido como capaz do
exercício pleno dos direitos de cidadania. A dissolução desses problemas nas representações gratificantes da terceira idade fecha o
espaço para outras iniciativas voltadas para o atendimento das situações de abandono e dependência que marcam o avanço da
idade. As perdas próprias do envelhecimento passam, então, a ser vistas como consequência da falta de envolvimento dos mais
velhos em atividades motivadoras ou da adoção de formas de consumo e estilos de vida inadequados.
É, portanto, ilusório pensar que essas mudanças são acompanhadas de uma atitude mais tolerante em relação às idades. A
característica marcante desse processo é a valorização da juventude, que é associada a valores e a estilos de vida, e não
propriamente a um grupo etário específico.
(BOTELHO, S. & SCHWARCZ, L. H. Agenda Brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 544-553)
No texto, constituem uma causa e sua decorrência, respectivamente: