SóProvas


ID
1768372
Banca
FUNCAB
Órgão
ANS
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                Arquimedes, o bom repórter

      Faz parte do meu ofício inventar. Mentir, sem qualquer consideração teológica. Preencher as páginas em branco, esforçando-me por criar heróis mesquinhos e sublimes. Um ofício que se funde com as adversidades do cotidiano e que, pautado por uma estética insubordinada, comporta todas as escalas morais, afugenta os ideários uniformizadores.

      A literatura brota de todos os homens, de todas as épocas. Sua ambígua natureza determina que os escritores integrem uma raça fadada a exceder-se. Seus membros, como uma seita, vivem na franja e no âmago da realidade, que constrange e ilumina ao mesmo tempo. E sem a qual a criação fenece. A arte dos escritores arregimenta a sucata e o sublime, o que se oxida em meio aos horrores, o que se regenera sob o impulso dos suspiros de amor. Apalpa a matéria secreta que sangra e aloja-se nos porões da alma.

      Há muito sei que a escrita não poupa o escritor. E que, ao ser um martírio diário, coloca-o a serviço do real. E enquanto este mero exercício de acumular palavras, de dar-lhes sentido, for um ato de fé no humano, a literatura seguirá sendo protagonista do enigma que envolve vida e morte. Uma arte que geme, emite sinais, desenha signos, e que constitui uma salvaguarda civilizadora perante a barbárie. Em cujas páginas batalha-se pelo provável entendimento entre seres e situações intoleráveis. Como se por meio de certos recursos estéticos fosse possível conciliar antagonismos, praticar a tolerância, ativar sentimentos, testar os limites da linguagem e da ambiguidade da solidão humana. Salvar, enfim, os seres trágicos que somos.

    Não sei ser outra coisa que escritora. Já pelas manhãs, enquanto crio, apalpo emoções benfazejas, sentimentos instáveis, a substância sob o abrigo do sinistro e da esperança. Tudo o que a realidade abusiva refuta. É mister, contudo, combater os expurgos estéticos para narrara história jamais contada.

      A criação literária, porém, que se faz à sombra da comunidade humana, aproximou-me sempre daqueles cujas experiências pessoais eram vizinhas no ato de escrever. Por isso, desde a infância, senti-me irmanada aos jornalistas no uso das palavras e na maneira de captar o mundo. E a tal ponto vinculada aos jornais que nos vinham a casa, já pelas manhãs, que disputava com o pai o privilégio de lê-los antes dele. De aproximar-me destas páginas vivazes que, arrancando-me da sonolência, proclamavam que a vida despertara antes de mim. O drama humano não tinha instante para começar, precedera-me há horas, há milênios.

PINON, Nélida. Aprendiz de Homero. Rio de Janeiro: Editora Record,2008,p.81-82,fragmento.

Nos fragmentos transcritos a seguir foram dadas informações a respeito da coesão referencial entre partes do texto. Está INADEQUADA, de acordo com texto, a referência do termo destacado feita em:

Alternativas
Comentários
  • Fiquei em dúvida entre a letra C e E.

    Na letra C: se são membros são membros de alguma coisa, então seria "da literatura" mesmo!

    E na letra E a autora faz referência à literatura e não à salvaguarda civilizadora.

    Então a letra E é mesmo a questão errada.

  • Seria bom a banca indicar as linhas do texto onde se encontram os termos


  • Concordo Angélica. Também fiquei em dúvida entre as letras C e E. É razoável dizer que "seus membros" pode fazer referência tanto a literatura quanto à raça fada.


  • A frase inteira está se referindo à literatura: ...a literatura seguirá sendo protagonista do enigma que envolve vida e morte. Uma arte que geme, emite sinais, desenha signos, e que constitui uma salvaguarda civilizadora perante a barbárie. EM seguida há o ponto final, então a quem pertence as páginas em: " em cujas páginas batalha-se pelo provável..." À literatura. A literatura constitui uma salvaguarda civilizadora perante a barbárie e em suas páginas batalha-se pelo provável entendimento entre seres e situações intoleráveis.

  • COMPLEMENTANDO
    GABARITO E
    que faz, que come , que se funde, que comparta.
    Alguém está sendo representado pelo "que" .

     Um ofício que se funde com as adversidades do cotidiano e que, pautado por uma estética insubordinada, comporta todas as escalas morais, afugenta os ideários uniformizadores.
    "Um ofício que comporta todas as escalas morais"
  • Gabarito LETRA E -  Está inadequada: “Em CUJAS páginas batalha-se pelo provável entendimento entre seres e situações intoleráveis.” / salvaguarda civilizadora. <--- esse é o erro.


    (3º PARÁGRAFO) Há muito sei que a escrita não poupa o escritor. E que, ao ser um martírio diário, coloca-o a serviço do real. E enquanto este mero exercício de acumular palavras, de dar-lhes sentido, for um ato de fé no humano, a literatura seguirá sendo protagonista do enigma que envolve vida e morte. Uma arte (a literatura) que geme, emite sinais, desenha signos, e que (uma arte, que é a literatura) constitui uma salvaguarda civilizadora perante a barbárie. Em cujas páginas (páginas da literatura) batalha-se pelo provável entendimento entre seres e situações intoleráveis.


    Então o referente de cujas páginas é a literatura, não a salvaguarda civilizadora como disse a questão, por isso ela está errada :D
  • O pronome CUJO deve concordar em gênero e número com o substantivo subsequente. PORTANTO, refere-se a PÁGINAS! 

  • O pronome relativo cujo e variações, ao contrário dos outros relativos, refere-se a um termo posterior. Portanto, "cujas" faz referência a "páginas".