SóProvas


ID
1774792
Banca
FUNCAB
Órgão
Faceli
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                    A língua que somos, a língua que podemos ser

                                             (Eliane Brum)

      A alemã Anja Saile é agente literária de autores de língua portuguesa há mais de uma década. Não é um trabalho muito fácil. Com vários brasileiros no catálogo, ela depara-se com frequência com a mesma resposta de editores europeus, variando apenas na forma. O discurso da negativa poderia ser resumido nesta frase: “O livro é bom, mas não é suficientemente brasileiro". O que seria “suficientemente brasileiro"? 

      Anja (pronuncia-se “Ânia") aprendeu a falar a língua durante os anos em que viveu em Portugal (e é impressionante como fala bem e escreve com correção). Quando vem ao Brasil, acaba caminhando demais porque o tamanho de São Paulo sempre a surpreende e ela suspira de saudades da bicicleta que a espera em Berlim. Anja assim interpreta a demanda: “O Brasil é interessante quando corresponde aos clichês europeus. É a Europa que define como a cultura dos outros países deve ser para ser interessante para ela. É muito irritante. As editoras europeias nunca teriam essas exigências em relação aos autores americanos, nunca".

      Anja refere-se ao fato de que os escritores americanos conquistaram o direito de ser universais para a velha Europa e seu ranço colonizador― já dos brasileiros exige-se uma espécie de selo de autenticidade que seria dado pela “temática brasileira". Como se sabe, não estamos sós nessa xaropada. O desabafo de Anja, que nos vê de fora e de dentro, ao mesmo tempo, me remeteu a uma intervenção sobre a língua feita pelo escritor moçambicano Mia Couto, na Conferência Internacional de Literatura, em Estocolmo, na Suécia. Ele disse: 

       — A África tem sido sujeita a sucessivos processos de essencialização e folclorização, e muito daquilo que se proclama como autenticamente africano resulta de invenções feitas fora do continente. Os escritores africanos sofreram durante décadas a chamada prova de autenticidade: pedia-se que seus textos traduzissem aquilo que se entendia como sua verdadeira etnicidade. Os jovens autores africanos estão se libertando da “africanidade". Eles são o que são sem que se necessite de proclamação. Os escritores africanos desejam ser tão universais como qualquer outro escritor do mundo. (...) Há tantas Áfricas quanto escritores, e todos eles estão reinventando continentes dentro de si mesmos.

[...]

       — O mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de contadores de histórias. (...) O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. Os autores africanos que não escrevem em inglês – e em especial os que escrevem em língua portuguesa – moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio.

[...] 

        Talvez os indígenas sejam a melhor forma de ilustrar essa miopia, forjada às vezes por ignorância, em outras por interesses econômicos localizados em suas terras. Parte da população e, o que é mais chocante, dos governantes, espera que os indígenas – todos eles – se comportem como aquilo que acredita ser um índio. Portanto, com todos os clichês do gênero. Neste caso, para muitos os índios não seriam “suficientemente índios" para merecer um lugar e para serem escutados como alguém que tem algo a dizer.

       Outra parte, que também inclui gente que está no poder em todas as instâncias, do executivo ao judiciário, finge que os indígenas não existem. Finge tanto que quase acredita. Como não conhecem e, pior que isso, nem mesmo percebem que é preciso conhecer, porque para isso seria necessário não só honestidade como inteligência, a extinção progressiva só confirmaria uma ausência que já construíram dentro de si.

[...] 

Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/ eliane-brum/noticia/2012/01/lingua-que-somos-lingua-que-podemos-ser.html>

A palavra EUROPEIAS, utilizada no texto, ilustra nova escrita, posterior ao Acordo Ortográfico da língua portuguesa. Também correspondem a novas grafias instauradas pelo acordo todas as palavras em:

Alternativas
Comentários
  • A letra B também apresenta todas as palavras  grafadas corretamente, de acordo com o novo acordo ortográfico. Ou estou enganada???????

  • Eu também não vejo erro na B, mas o pior é que a E realmente está correta! :/

  • pan é prefixo

     

  • INDIQUEM PARA COMENTÁRIO. A ALTERNATIVA B TAMBÉM ESTÁ CORRETA.

  • De acordo com a banca o gabarito é letra E

     

    Marquei a letra B e errei, então fui pesquisar e não há erro nessa alternativa. Indiquem para comentários para ver o que o professor irá falar. As pessoas reclamam das provas do Cespe, eu particularmente prefiro ela, pois  segue um padrão em suas provas, não estou dizendo que ela não erra ou que não coloca questões absurdas, mas o Cespe é mais coerente. Funcab tem muitas questões que têm duas alternativas ou respostas absurdas. aff... 

  • Eu entendi , mas errei. Ele quer as palavras que sofreram alteração com o NOVO ACORDO. Provavelmente antes do novo acordo era: panamericano mini-saia(este de certeza ERA com hífen) e parachoque
  • Na letra E -  para-choque segundo novo acordo ortográfico agora é escroito junto parachoque - não se usa hífen quando o primeiro elemento termina com vogal e o segundo elemento inicia com consoante - ex: paraquedista - estou erradada?

  • Gabarito dado pela banca letra E, porém a letra B também está correta .

     

    REGRA GERAL DO HÍFEN !

    - Préfixo + palavra com vogal  IGUAIS : separa . Anti-inflamatório , micro-ondas.

    - Préfixo + palavra com vogal  DIFERENTES: junta. Autoescola.

     

    Atenção à reforma ortográfica : LEEM , DEEM , CREEM , VEEM , ( não tem circunflexo)

     

    Utiliza-se o hífen quando o prefixo termina com a mesma letra que começa a segunda palavra ou quando a segunda palavra começa com h.

    Exemplos: sobre-humano, sobre-exaltar, sobre-erguer, sobre-humanizar

     

    Em princípio não se deve utilizar hífen em palavras começadas por estes elementos (e outros): mini-, maxi-, micro-, macro-.

    Assim, minissaia, minissubmarino, maxissaia, microempresa, microrregião, microssistema, macroeconomia, macrorregião... Isto é verdade sobretudo para a norma ortográfica brasileira.

    Quando a unidade seguinte começa por h, alguns autores, contudo, sugerem também a utilização de hífen: por exemplo, o dicionário Aurélio apresenta micro-hábitat e o Houaiss micro-habitat.

  • A verdade é que essa questão deveria ser anulada. Não tem fundamento.
  • gente, to até com vergonha de perguntar isso, mas qual o problema da letra A?

    micro-ondas passou a se separar com hífen;

    voo perdeu o acento circunflexo;

    o acento diferencial de pôde foi mantido.

    Ou eu to muito doida já hahaha. Agradeço a quem puder me ajudar :)

  • Não vejo erro na letra B, gostaria de uma explicação do professor.

  • Pedem as palavras que sofreram alteração após o novo acordo ortográfico e não as incorretas.

  • A letra (A) também está correta.

  • "Perdem o acento as palavras compostas com o verbo PARAR: Para-raios, para-choque". Portanto, a alternativa correta é a letra "e". 

  • Creio que a banca considerou a letra A incorreta por conta do enunciado que pergunta: "novas grafias instauradas pelo acordo todas as palavras em". O acento diferencial de pôde e pode não são novos, apenas foram mantidos. Enfim, maldade da banca.

  • Letra B absolutamente correta... 

  • Pensei comigo,uma questão dessa só para professor de língua portuguesa mesmo.aí fui olhar ela e  é justamente para ele mesmo.kkk

  • Quem erro, preste atenção no enunciado..... Palavras que sofreram mudança no novo acordo, na letra B as palavras não sofreram mudanças... 

  • O que eu me pergunto é o porquê da banca te fazer perder um baita tempo lendo um texto quilométrico para depois fazer uma pergunta que dispensa 100% a leitura do texto.

  • O texto, ,na verdade, não pede o conhecimento ortográfico do candidato, mas quer saber em qual opção todas as palavras tiveram as suas grafias modificadas pelo acordo ortográfico.

    Eu errei essa questão, mas depois vi que temos que interpretar a questão antes mesmo de sairmos afoitos a responde-la.

    Bons estudos a todos.

  • Mariana Salomão, acredito que a a) esteja errada justamente porque o acento diferencial de pôde foi mantido -- não foi uma mudança.

  • antes do acordo não era "lêem"?

  • Usa-se hífen

    Prefixo

    Circum / Pan quando o segundo elemento iniciar por vogal, H, M ou N

    Ex:

    circum-escolar, circum-navegação, pan-americano

  • Elcio Thenorio, vc não tem muita experiência em concursos, né? O ¨textão¨ está ali pq sobre ele serão formuladas várias questões, não só essa em tela; a banca dá um texto e aí faz perguntas, algumas são de interpretação, outras de gramática, mesmo q a pergunta não precise do texto, como nesse caso, mas o texto era necessário p a prova de português como um todo.

  • É muita graça viu, para-choque receber hífen e paraquedas não. Deus é mais!