SóProvas


ID
1813318
Banca
FUNCAB
Órgão
Faceli
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Além do Bastidor

    Começou com linha verde. Não sabia o que bordar, mas tinha certeza do verde, verde brilhante.
    Capim. Foi isso que apareceu depois dos primeiros pontos. Um capim alto, com as pontas dobradas como se olhasse para alguma coisa.
   Olha para as flores, pensou ela, e escolheu uma meada vermelha.
    Assim, aos poucos, sem risco, um jardim foi aparecendo no bastidor. Obedecia às suas mãos, obedecia ao seu próprio jeito, e surgia como se no orvalho da noite se fizesse a brotação.
    Toda manhã a menina corria para o bastidor, olhava, sorria, e acrescentava mais um pássaro, uma abelha, um grilo escondido atrás de uma haste. O sol brilhava no bordado da menina. 
    E era tão lindo o jardim que ela começou a gostar dele mais do que de qualquer outra coisa. 
    Foi no dia da árvore. A árvore estava pronta, parecia não faltar nada. Mas a menina sabia que tinha chegado a hora de acrescentar os frutos. Bordou uma fruta roxa, brilhante, como ela mesma nunca tinha visto. E outra, e outra, até a árvore ficar carregada, até a árvore ficar rica, e sua boca se encher do desejo daquela fruta nunca provada.
    A menina não soube como aconteceu. Quando viu, já estava a cavalo do galho mais alto da árvore, catando as frutas e limpando o caldo que lhe escorria da boca.
    Na certa tinha sido pela linha, pensou na hora de voltar para casa. Olhou, a última fruta ainda não estava pronta, tocou no ponto que acabava em fio. E lá estava ela, de volta na sua casa.
    Agora que já tinha aprendido o caminho, todo dia a menina descia para o bordado. Escolhia primeiro aquilo que gostaria de ver, uma borboleta, um louva-deus. Bordava com cuidado, depois descia pela linha para as costas do inseto, e voava com ele, e pousava nas flores, e ria e brincava e deitava na grama. 
   O bordado já estava quase pronto. Pouco pano se via entre os fios coloridos. Breve, estaria terminado.
   Faltava uma garça, pensou ela. E escolheu uma meada branca matizada de rosa. Teceu seus pontos com cuidado, sabendo, enquanto lançava a agulha, como seriam macias as penas e doce o bico. Depois desceu ao encontro da nova amiga.
    Foi assim, de pé ao lado da garça, acariciando-lhe o pescoço, que a irmã mais velha a viu ao debruçar-se sobre o bastidor. Era só o que não estava bordado. E o risco era tão bonito, que a irmã pegou a agulha, a cesta de linhas, e começou a bordar.
    Bordou os cabelos, e o vento não mexeu mais neles. Bordou a saia, e as pregas se fixaram. Bordou as mãos, para sempre paradas no pescoço da garça. Quis bordar os pés mas estavam escondidos pela grama. Quis bordar o rosto mas estava escondido pela sombra. Então bordou a fita dos cabelos, arrematou o ponto, e com muito cuidado cortou a linha.

COLASANTI, Marina. Além do Bastidor. In: Uma ideia toda azul. 22ª ed. São Paulo: Global, 2003. p. 14-17. 

Tendo em vista o enunciado “Assim, aos poucos, sem risco, um jardim foi aparecendo no bastidor. Obedecia às suas mãos, obedecia ao seu próprio jeito, e surgia como se no orvalho da noite se fizesse a brotação.", analise as afirmativas a seguir.

I. Se apenas o ÀS da frase “Obedecia às suas mãos" fosse passada para o singular o uso do acento indicativo de crase seria inadequado.

II. A palavra SE, em todas as ocorrências, é índice de indeterminação do sujeito.

III. O verbo OBEDECER, quanto à regência, é transitivo indireto.

Está(ão) correta(s) somente a(s) afirmativa(s): 

Alternativas
Comentários
  • primeiro item da questão a crase seria facultativa e não inadequada como diz o item, "singular a sua" pronome possessivo crase facultativa 

     

    intem ERRADO.

  • Foi o que eu pensei também, Leonardo. :/ 

  • O item A está correto porque se trocasse apenas o às pelo seu singular, não seria possível o uso da crase, pois teriamos o a no singular e o suas no plural. (crase proibida).

    A crase seria facultativa se fosse, por exemplo, na expressão a sua (à sua).

  • Leonardo, na questão o examinador sugere à alteração apenas da palavra "AS" para "A' isso indica que a palavra que está à frente "SUAS" continuará no plural, nessa situação estamos diante de caso proíbido de crase. A no singular PALAVRA no plural= crase passa mal. Agora, se "suas" fosse também para o singular estariamos diante de um dos casos faculativos de crase.

    CRASE FACULTATIVA:

    ANTES DE PRONOME POSSSESSIVO FEMININO

    DEPOIS DA PREPOSIÇÃO ATÉ

    ANTES DE NOME PRÓPRIO FEMININO.

     

  • é isso mesmo, colegas, não me atentei e errei dessa vez, obrigado e bons estudos a todos.

    o item está correto =)

     

  • II - 

    Partícula apassivadora: acompanha verbo transitivo direto e serve para indicar que a frase está na voz passiva sintética. Para comprovar, pode-se colocar a frase na voz passiva analítica, como está feito abaixo.

    Fazem-se unhas. (voz passiva analítica: Unhas são feitas)
    Alugam-se casas e apartamentos. (casas e apartamentos são alugados)

    g) Índice de Indeterminação do Sujeito: vem acompanhando um verbo transitivo indireto, um verbo intransitivo (sem sujeito claro), um verbo de ligação ou um transitivo direto, em casos deobjeto direto preposicionado. Serve para indicar que o Sujeito da oração é indeterminado. A voz é ativa. Neste caso, caso seja feita a tentativa, não é possível pôr a oração na voz passiva analítica.

    - Necessita-se de voluntários para o hospital. (VTI)
    - Neste lugar se é tratado como um animal. (VL)
    - Ainda se corre o risco de perder o oxigênio. (VI)
    - Ama-se a Deus. (VTD)

  • Gabarito -> [E].

  • A no singular, PALAVRA no plura, crase passa mal !!!