SóProvas


ID
1844722
Banca
FCC
Órgão
TRT - 23ª REGIÃO (MT)
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Nasci na Rua Faro, a poucos metros do Bar Joia, e, muito antes de ir morar no Leblon, o Jardim Botânico foi meu quintal. Era ali, por suas aleias de areia cor de creme, que eu caminhava todas as manhãs de mãos dadas com minha avó. Entrávamos pelo portão principal e seguíamos primeiro pela aleia imponente que vai dar no chafariz. Depois, íamos passear à beira do lago, ver as vitórias-régias, subir as escadarias de pedra, observar o relógio de sol. Mas íamos, sobretudo, catar mulungu.

      Mulungu é uma semente vermelha com a pontinha preta, bem pequena, menor do que um grão de ervilha. Tem a casca lisa, encerada, e em contraste com a pontinha preta seu vermelho é um vermelho vivo, tão vivo que parece quase estranho à natureza. É bonita. Era um verdadeiro prêmio conseguir encontrar um mulungu em meio à vegetação, descobrir de repente a casca vermelha e viva cintilando por entre as lâminas de grama ou no seio úmido de uma bromélia. Lembro bem com que alegria eu me abaixava e estendia a mão para tocar o pequeno grão, que por causa da ponta preta tinha uma aparência que a mim lembrava vagamente um olho.

      Disse isso à minha avó e ela riu, comentando que eu era como meu pai, sempre prestava atenção nos detalhes das coisas. Acho que já nessa época eu olhava em torno com olhos mínimos. Mas a grandeza das manhãs se media pela quantidade de mulungus que me restava na palma da mão na hora de ir para casa. Conseguia às vezes juntar um punhado, outras vezes apenas dois ou três. E é curioso que nunca tenha sabido ao certo de onde eles vinham, de que árvore ou arbusto caíam aquelas sementes vermelhas. Apenas sabíamos que surgiam no chão ou por entre as folhas e sempre numa determinada região do Jardim Botânico.

      Mas eu jamais seria capaz de reconhecer uma árvore de mulungu. Um dia, procurei no dicionário e descobri que mulungu é o mesmo que corticeira e que também é conhecido pelo nome de flor-de-coral. ''Árvore regular, ornamental, da família das leguminosas, originária da Amazônia e de Mato Grosso, de flores vermelhas, dispostas em racimos multifloros, sendo as sementes do fruto do tamanho de um feijão (mentira!), e vermelhas com mácula preta (isto, sim)'', dizia.

      Mas há ainda um outro detalhe estranho – é que não me lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa. De algum modo, depois de catadas elas desapareciam e hoje me pergunto se não era minha avó que as guardava e tornava a despejá-las nas folhagens todas as manhãs, sempre que não estávamos olhando, só para que tivéssemos o prazer de encontrá-las. O fato é que não me sobrou nenhuma e elas ganharam, talvez por isso, uma aura de magia, uma natureza impalpável. Dos mulungus, só me ficou a memória − essa memória mínima.

(Adaptado de: SEIXAS, Heloísa. Semente da Memória. Disponível em: http://heloisaseixas.com.br) 

O segmento sublinhado que introduz uma explicação encontra-se em:

Alternativas
Comentários
  • não entendi!!!


  • Mas há ainda um outro detalhe estranho – é que não me lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa.


    OUTRO DETALHE ESTRANHO = não me lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa.

  • Quem nunca passou por isso ( é claro, estou dando um exemplo que vai ajudar vc a acertar a questão) :  Eliellllll, minha mãe chamando, vc comeu o último pedaço de bolo? - É que estava com fome mãe.



    Viu como há a ideia de explicação. Logo, opta-se pelo Gabarito ''E"
  • Não costumo usar frases prontas para minhas exposições, aliás, não costumo comentar muita coisa - só observo e aprendo.
    No entanto, quando acontece, gosto de colocar tudo com minhas palavras. Creio que aprendo mais assim do que no "copia e cola". 
    Então, se não ficar muito claro, recomendo buscar auxílio de um professor.

    Bem, quanto à questão em si, acredito que seja algo mais simples do que se parece.
     
    1º O verbo "ser" - flexionado no presente do indicativo - só está na frase pra confundir.
    2º O hífen pode ser substituído por vírgulas.

    Agora, pergunto:
    "Você já estudou pronomes relativos? Sabe que sua função é básicamente funcionar como a palavra antecedente? Ou seja, seu referente?"

    Então, beleza! Começou bem! 

    Agora, pra matar a questão! 
    O pronome relativo introduz uma Oração Subordinada Adjetiva; Se vier antecedido de vírgula, é explicativo, do contrário, é restritivo. Cuidado apenas quando a oração vier reduzida.

    Gabarito, portanto, letra "e". Este é uma dos assuntos básicos da língua portuguesa. 

  • Mas há ainda um outro detalhe estranho – é que não me lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa. 

    é um aposto explicativo, explica qual é o detalhe estranho.

  • Letra (e)

     

    A expressão é que não se emprega apenas para realçar constituintes de frases interrogativas («Quem é que falou?») e declarativas («Ele é que falou»). Ocorre também em começo de frase como articulador com valor explicativo, remetendo para as frases anteriores, como nos exemplos seguintes:

     

    (1) (depois de declarativa) «Não é possível continuar assim. É que já são erros a mais.»

     

    (2) (depois de interrogativa dire{#c|}ta) «Posso usar o teu telemóvel? É que perdi o meu.»

    Não encontro atestado este uso de é que nem em dicionários nem em gramáticas, mas no Corpus do Português, de Mark Davies e Michael Ferreira, identifico ocorrências dessa expressão em textos portugueses e brasileiros; p.ex:

     

    (4) «Tudo fora do tempo também (..) não é bom. É que à altura de chover, costuma-se a dizer que: " a inverno inverna do Natal nunca faltou "; mas este ano faltou.»

     

    (5) «Até o Missionário da Alta Cruz, que padecia de cataratas e era um campeão em mistérios, até esse acabava por se perder na oração, perguntando se a estátua não teria realmente vida . É que lhe descobria certas expressões, de trazer episódios sagrados para animar o dia-a-dia dos mortais.» (José Cardoso Pires, A República dos Corvos, 1999)

     

    (6) «Não: foi o olhar, apenas o olhar seguro do dr. Fernandes, ao lembrar-lhe, assim abruptamente, que ele já fizera jus a um aumento de ordenado, a uma melhoria de situação. É que esse olhar insinuativo estava-se rindo, lá muito atrás, muito imperceptivelmente, sob a brenha espessa dos cenhos [...] (Urbano Tavares Rodrigues, Os Insubmissos, 1976)

     

    (7) «Não estou a lembrar-me.. — Compreendo a sua dúvida . É que se trata, na realidade, de uma figura cuja acção e grande prestígio se mantiveram restritos a certos meios e à região [...]» (Branquinho da Fonseca, Rio Turvo, 1945)

     

    (8) «Mesmo lutando com alguns anticorpos na comunidade científica  norte-americana, « dificilmente um investigador consegue resistir a um
    convite de Bill Gates», refere uma fonte da sede da Microsoft. É que,
    além das boas condições de trabalho oferecidas, junta-se um bom salário
    e um esquema aliciante de remuneração através de acções (texto jornalístico, 8/11/97)

     

    Nos exemplos (4)-(8), vemos que é que inicia sempre uma frase que explica a precedente.

     

    Fonte: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/e-que-explicativo/24537

  • Resolvi a questão trocando a expressão "é que" por uma conjunção explicativa (pois, porque, visto que) e na alternativa E deu certo.

    " (...) É que (porque, pois, visto que) não me lembro de jamais ter visto um dessas sementes lá em casa"

    Bons estudos! Bora ganhar 10 mil!!!

  • O comentário correto é o da Guerreira Concurseira, que apesar de ter dado a explicação certa, está com apenas 1 "joinha".

     

    GUERREIRA CONCURSEIRA

    10 de Fevereiro de 2017, às 10h00

    Útil (2)

    Mas há ainda um outro detalhe estranho – é que não me lembro de jamais ter visto uma dessas sementes lá em casa. 

    é um aposto explicativo, explica qual é o detalhe estranho.

     

    Portanto, introduz uma explicação por ser um aposto explicativo introduzido por hífen. O mesmo, poderia ter sido substitído por dois pontos.