SóProvas


ID
1869730
Banca
FUNCAB
Órgão
Prefeitura de Santa Maria de Jetibá - ES
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                      O encontro


      Maria da Piedade Lourenço era uma mulher miúda e nervosa, com uma cabeleira pardacenta, malcuidada, erguida, como uma crista, no alto da cabeça. Ludo não conseguia distinguir-lhe os pormenores do rosto. Todavia, deu pela crista. Parece uma galinha, pensou, e logo se arrepende por ter pensado aquilo. Andara nervosíssima nos dias que antecederam a chegada da filha. Quando esta lhe surgiu à frente, porém, veio-lhe uma grande calma. Mandou-a entrar. A sala estava agora pintada e arranjada, soalho novo, portas novas, tudo isso às custas do vizinho, Arnaldo Cruz, que também fizera questão de oferecer as mobílias. Comprara o apartamento a Ludo, concedendo-lhe o usufruto vitalício do mesmo, e comprometendo-se a pagar os estudos de Sabalu até este concluir a universidade.

      A mulher entrou. Sentou-se numa das cadeiras, tensa, agarrada à bolsa como a uma boia de salvação. Sabalu foi buscar chá e biscoitos.

      Não sei como a hei de chamar.

      Pode chamar-me Ludovica, é o meu nome.

      Um dia poderei chamá-la mãe?

     Ludo apertou as mãos de encontro ao ventre. Podia ver, através das janelas, os ramos mais altos da mulemba. Nenhuma brisa os inquietava.

      Sei que não tenho desculpa, murmurou: Era muito nova, e estava assustada. Isso não justifica o que fiz.

      Maria da Piedade arrastou a cadeira para junto dela. Pousou a mão direita no seu joelho:

      Não vim a Luanda para cobrar nada. Vim para a conhecer. Quero levá-la de volta para a nossa terra.

      Ludo segurou-lhe a mão:

      Filha, esta é a minha terra. Já não me resta outra.

      Apontou para a mulemba:

      Tenho visto crescer aquela árvore. Ela viu-me envelhecer a mim.

      Conversamos muito.

      A senhora há de ter família em Aveiro.

      Família?!

      Família, amigos, eu sei lá.

      Ludo sorriu para Sabalu, que assistia a tudo, muito atento, enterrado num dos sofás:

      A minha família é esse menino, a mulemba lá fora, o fantasma de um cão. Vejo cada vez pior. Um oftalmologista, amigo do meu vizinho, esteve aqui em casa, a observar-me. Disse-me que nunca perderei a vista por completo. Resta-me a visão periférica. Hei de sempre distinguir a luz, e a luz neste país é uma festa. Em todo o caso, não pretendo mais: A luz, Sabalu a ler para mim, e a alegria de uma romã todos os dias.


AGUALUSA, José Eduardo.Teoria Geral do Esquecimento. Rio de Janeiro: Foz, 2012. 

“Quando ESTA lhe surgiu à frente, porém, veio-lhe uma grande calma.”

O uso da forma destacada do demonstrativo, no contexto, se justifica em razão de:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito D

     

    Andara nervosíssima nos dias que antecederam a chegada DA FILHA. Quando ESTA lhe surgiu à frente, porém, veio-lhe uma grande calma...

  • Pode até fazer referência ao antecedente, mas está gramaticalmente errada essa forma....

    Deveria ser usado ESSA, que retoma o antecedente.

  • Para que possa ententer bem essa questão é preciso ler o começo do texto, pois sem ler, fica difícil interpretar.

     

    Gabarito (D)

     

    Tudo posso naquele que me fortalece!

  • Luana Vicentini, não esta errada a questão. O - ESTA-  ele é um catafórico mas tambem pode ser anafórico, as bancas estão cobrando muito este tipo de questão por causa dessa "lenda".

  • Valeu pelo alerta WESLEN MELO. Mandei uma mensagem in box pra ti. obrigado

  • Errei porque não recorri ao texto.

  • ESTA tem valor cataforico e anaforico? Errei pq pensei que fosse cataforico.
  • Atenção: se a informação já foi mencionada e está próxima, modernamente, costuma se utilizar Isto/Este/Esta.

    Professora Adriana Figueredo