SóProvas


ID
1886608
Banca
FCC
Órgão
TRF - 3ª REGIÃO
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Estava mal chegando a São Paulo, quando um repórter me provocou: "Mas como, Chico, mais um samba? Você não acha que isso já está superado?" Não tive tempo de me defender ou de atacar os outros, coisa que anda muito em voga. Já era hora de enfrentar o dragão, como diz o Tom, enfrentar as luzes, os cartazes, e a plateia, onde distingui um caro colega regendo um coro pra frente, de franca oposição. Fiquei um pouco desconcertado pela atitude do meu amigo, um homem sabidamente isento de preconceitos. Foi-se o tempo em que ele me censurava amargamente, numa roda revolucionária, pelo meu desinteresse em participar de uma passeata cívica contra a guitarra elétrica. Nunca tive nada contra esse instrumento, como nada tenho contra o tamborim. O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.  

      Mas, como eu ia dizendo, estava voltando da Europa e de sua música estereotipada, onde samba, toada etc. são ritmos virgens para seus melhores músicos, indecifráveis para seus cérebros eletrônicos. "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião, entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, já traz dentro de si os elementos de renovação. Não se trata de defender a tradição, família ou propriedade de ninguém. Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação pra exportar coisa alguma.

      Quanto a festival, acho justo que estejam todos ansiosos por um primeiro prêmio. Mas não é bom usar de qualquer recurso, nem se deve correr com estrondo atrás do sucesso, senão ele se assusta e foge logo. E não precisa dar muito tempo para se perceber "que nem toda loucura é genial, como nem toda lucidez é velha".


(Adaptado de: HOLANDA, Chico Buarque de, apud Adélia B. de Menezes, Desenho Mágico: Poesia e Política em Chico Buarque, São Paulo, Ateliê, 2002, p. 28-29) 

De acordo com o texto,

Alternativas
Comentários
  • Linhas do texto que respondem a letra C:

     

    "Só tenho uma opção, confessou-me um italiano − sangue novo ou a antimúsica. Veja, os Beatles, foram à Índia..." Donde se conclui como precipitada a opinião, entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência. É certo que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, já traz dentro de si os elementos de renovação.

     

    Ou seja, estar aberto à inovação não quer dizer que rompemos com o que veio antes...

  •  "...Mas foi com o samba que João Gilberto rompeu as estruturas da nossa canção. E se o rompimento não foi universal, culpa é do brasileiro, que não tem vocação pra exportar coisa ..."

     

    de volta à luta.

  • Essas questões tem que ter o comentário dos profesossores o quanto antes. Esta questão em especial eu acertei por eliminação, mas não entendi muito bem.

  • Por que a E está errada?

     

  • Raquel Oliveira,

    O texto não traz a informação de que a música brasileira se caracteriza por uma ausência de diálogo com a tradição.

    Pelo contrário, diz que "precipitada a opinião, entre nós, de que estaria morto o nosso ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência."

  • DE ACORDO COOM O TEXTO, NÃO VÁ ALEÉM DO TEXTO!

    a) ...convívio harmônico > o texto contradiz quando: " ...um caro colega regendo um coro pra frente, de franca oposição".

    b)...influência externa> o texto: E se o rompimento não foi universal, a culpa é do brasileiro" ...  sempre esteve aqui mesmo no BR, náo relata que tenha saído.

    c) C

    d) ver b. Nada é relatado sobre exemplos seguidos por J.G, que rompeu...mas o rompimento não foi universal...

    e)...ausência...o texto relata: "... já traz dentro de si os elemtos de renovação.

  • Entendi Anaiara. Reendo o texto, ele realmente não traz a informação de que a música brasileira se caracteriza por uma ausência de diálogo com a tradição.

  • É certo que se deve romper com as estruturas...  - No texto: os elementos da música nova não devem ser descartados. 
    No texto : Mas a música brasileira já traz dentro de si... - a grande inovação não menospreza o que a precede. 

  • a C tá em português mesmo mas sequer consegui traduzir. então vou indicar pra comentário dos professores porque essa foi de lascar. 

  • Eu acertei. 

    O texto diz que a música brasileira preserva seus elementos tradicionais "ritmo, o lirismo e a malícia, a malemolência" e, ao mesmo tempo, "traz dentro de si os elementos da renovação", rompe com as estruturas com João Gilberto, por exemplo, sem perder sua essência.

    se os elementos novos na música não devem ser descartados peremptoriamente/categoricamente (renovação) tampouco a grande inovação menospreza o que a precede (inovação que preservação a tradição).

    malemolência = ausência de disposição; moleza, indisposição/calma excessiva; falta de empenho; fleuma, pachorra.

    Lirismo = o caráter subjetivo ou romântico da arte em geral.

    Não desistam nuca!

     

    Abraços.

  • Letra (e)

     

    Em consonância com o comentário da Caroline f, a questão pode ser elucidada no seguinte trecho:

     

    (...) O importante é Mutantes e Martinho da Vila no mesmo palco.

     

    Ou seja, os elementos novos (Mutantes) na música não devem ser descartados peremptoriamente, tampouco a grande inovação (Mutantes) menospreza o que a precede (Martinho da Vila).

  • a. ele erra ao afirmar que há tendências variadas na Europa. O autor diz que a música européia é esteriotipada.

    b. "muito embora o samba seja parte da nova música...". O autor diz que exatamente o contrário. 

    d. "foi a partir do exemplo estrangeiro que João Gilberto soube revolucionar a música brasileira". O autor diz que ele usou o samba para revolucionar a música brasileira.

    e. o erro está em afirmar que não há, a música brasileira, diálogo com a tradição. O autor diz o contrário na 4ª e 5ª linhas do 2º parágrafo.