SóProvas


ID
1900276
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Texto: Patíbulos virtuais


      Ainda não tinha doze anos quando assisti a um linchamento. Vi um rapaz a fugir de bicicleta. Um homem começou a persegui-lo, a pé, e de repente já eram cinco, dez, uma turba exaltada, correndo, gritando, jogando pedras. Lembro-me de estar inteiro, de coração, numa angústia enorme, com o rapaz que fugia. Não havia nada que pudesse fazer para o ajudar. Minutos antes eu lia, ao sol, numa varanda. Logo a seguir o rapaz pedalava para salvar a vida, lá embaixo, entre uma estradinha de terra vermelha e um vasto descampado coberto de capim.

      Desde então estou sempre do lado de quem, sozinho, se vê perseguido por uma multidão. Pouco me importa o que fez o rapaz que corre; o homem que ergue a mão para se proteger da pancada; a mulher que enfrenta, chorando, os insultos de um bando de predadores cobardes.

      O surgimento das redes sociais marcou a emergência de um novo patíbulo para os linchadores. Bem sei que a comparação será sempre abusiva. Palavras, por muito aguçadas, por muito duras e pesadas, não racham cabeças. Palavras, por muito venenosas, não são capazes de matar. Em contrapartida, este novo palco tem o poder de juntar em poucos minutos largos milhares de pessoas, todas aos gritos. A estupidez das multidões virtuais é tão concreta quanto a das multidões reais.

      Praticamente todas as semanas há alguma figura pública a sofrer perseguição nas redes sociais. [...]

      Há alguns anos, em Luanda, afirmei, durante uma entrevista, não entender por que o governo insistia em promover a poesia de Agostinho Neto, primeiro presidente angolano, que a mim sempre me pareceu bastante medíocre. Um conhecido jurista e comentador político, João Pinto, deputado do partido no poder, assinou um artigo defendendo a minha prisão. Foi além: defendeu o restabelecimento da pena de morte e o meu fuzilamento. Segundo ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também uma divindade, visto que Agostinho Neto seria um quilamba — ou seja, um intérprete de sereias. Nas semanas seguintes foram publicados muitos outros textos de ódio. Recebi telefonemas com ameaças. Contaram-me que havia pessoas queimando os meus livros. Na altura foi bastante assustador. Hoje olho para trás e rio-me. Recordo o quanto era difícil explicar a jornalistas europeus a acusação de que teria ofendido um intérprete de sereias. Naturalmente, acabei transformando o episódio em literatura.Os europeus e norte-americanos leem aquilo e chamam-lhe realismo mágico.

      Os queimadores de livros têm receio não das ideias que os mesmos defendem, mas da sua própria incapacidade para lhes dar resposta. Aqueles que se juntam a multidões virtuais para ameaçar ou troçar de alguém são quase tão perigosos quanto os que correm pelas ruas, jogando pedras — e ainda mais cobardes.

      Fecho os olhos e volto a ver o rapaz na bicicleta. Uma pedra atingiu-o na cabeça e ele caiu. A multidão mergulhou sobre ele. Naquele dia deixei de ser criança.

               

  •   José Eduardo Agualusa. O Globo, Segundo Caderno, 07/03/2016.
  • Disponível em http://oglobo.globo.com/cultura/patibulos-virtuais-18817824#ixzz43ah8BwFY 

As palavras leem e ideias (quinto e sexto parágrafos) deixaram de receber acento gráfico em decorrência do acordo ortográfico em vigência. A série em que nenhuma das palavras recebe acento gráfico é:

Alternativas
Comentários
  • a) benefício – agradável – equilíbrio
    b) paranoia – deficit – prejuízo
    c) conteúdo – voo – crítica
    d) heroico – feiura – odioso

    Gabarito = D

  • GABARITO : D

    Heroico: conforme definido na reforma ortográfica, não se acentuam as paroxítonas com ditongos abertos.

    Feiura: conforme definido na reforma ortográfica, não se acentuam as paroxítonas quando o "I" ou o "U" tônicos vierem precedidos de ditongos decrescente (falso hiato)

    Odioso: não se acentuam as paroxítonas terminadas em "O".

     

  • a) benefício e equilíbrio –> Paroxítonas terminadas em ditongo crescente ioAgradável –>  Paroxítona terminada em L.

     b) paranoia –> Paroxítonas com ditongo EI e OI perderam o acento, mas tenha cuidado pois a casos em que palavras continuam com o acento pois se enquadram em outra regra de acentuação ex: destróier, blêizer, contêiner, gêiser. déficit –> ProparoxítonaPrejuízo  --> Regra das vogais I e U tônicas ou regra do hiato.

     c) conteúdo –> Regra do hiato, vogal tônica U. voo --> palavras com vogais duplas perderam o acento na nova regra ortografica assim como enjoo e veem.  crítica --> Proparoxítonas. 

     d) CORRETA heroico –> Paroxítonas com ditongo EI e OI perderam o acento, se o ditongo for na última sílaba o acento permanece ex: herói. feiura –> Não se acentua mais o I e o U tônico quando forma um trintongo ex: baiuca. odioso --> ódio tem acento por causa da regra do ditongo crescente, agora odioso não se acentua pois é uma paroxítona terminada em o.

     

    Força!

  • lembrando:

    HERÓI. oxitona terminada ditongo aberto

    HEROICO. paroxitona terminada com ditongo aberto. 

     

    JUSTIFICATIVA:

    Ditongos Abertos

    Os ditongos éi, éu e ói, sempre que tiverem pronúncia aberta em palavras oxítonas (éi e não êi), são acentuados. Veja:

    éi (s): anéis, fiéis, papéis
    éu (s): troféu, céus
    ói (s): herói, constrói, caubóis

    Obs.: os ditongos abertos ocorridos em palavras paroxítonas NÃO são acentuados.

    Exemplos: assembleia, boia, colmeia, Coreia, estreia, heroico, ideia, jiboia, joia, paranoia, plateia, etc.

    Atenção:  a palavra destróier é acentuada por ser uma paroxítona terminada em "r" (e não por possuir ditongo aberto "ói").

     

    GABARITO ''D''

  • D

    Os ditongos abertos ocorridos em palavras paroxítonas NÃO são acentuados.

  • GABARITO: LETRA D

    Acentuam-se os ditongos abertos ÉI, ÉU, ÓI, seguidos ou não de S.

    Ex.: céu, méis, Góis, coronéis, troféu(s), herói(s), Méier, destróier, aracnóideo...

    Segundo a nova ortografia, nas palavras paroxítonas com ditongos abertos, não há acento gráfico: ideia, Coreia, estreia, jiboia, paranoia, sequoia...; as únicas exceções são: Méier e destróier, pois seguem a regra das paroxítonas terminadas em -r

    FONTE: A GRAMÁTICA PARA CONCURSOS PÚBLICOS 3ª EDIÇÃO FERNANDO PESTANA