SóProvas


ID
1904074
Banca
INSTITUTO CIDADES
Órgão
Prefeitura de Itauçu - GO
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     Texto

                                 O Padeiro


      Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento — mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a "greve do pão dormido". De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o quê do governo.

      Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando:

      — Não é ninguém, é o padeiro!

      Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia de gritar aquilo?

      "Então você não é ninguém?

      " Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: "não é ninguém, não senhora, é o padeiro". Assim ficara sabendo que não era ninguém...

      Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno. Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina - e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno.

      Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome. O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; "não é ninguém, é o padeiro!"

      E assobiava pelas escadas.

                                                                                             Rubem Braga 

Sobre a passagem “lembrando de um homem modesto que conheci antigamente”, analise os itens:


I. Tem duas orações, sendo uma adjetiva restritiva.

II. A segunda oração é iniciada por um pronome relativo que tem como referente “homem”.

III. Ocorre oração reduzida de gerúndio.


Podemos afirmar que: 

Alternativas
Comentários
  • lembrando de um homem modesto que conheci antigamente”,    

    Verbos em destaque, como são dois verbos--> temos duas orações

    I. Tem duas orações, sendo uma adjetiva restritiva.  (Certo, duas orações, já que são dois verbos, quando temos o "que" podendo ser substituindo por "o qual, os quais, as quais..." estamos diante de um pronome relativo ( termo que retoma algo falado anteriormente), quando temos o pronome relativo estamos diante de uma oração subordinada adjetiva que é classificado em explicativa ou restritiva, para classificar deve-se observar o sinal de pontuação, quando tiver virgulas---> explicativa, quando não tiver --> restritiva, como na questão)

    II. A segunda oração é iniciada por um pronome relativo que tem como referente “homem”. ( Certo, o pronome relativo retoma a um termo anterior, no caso da questão o termo é " homem".)

    III. Ocorre oração reduzida de gerúndio. ( Certo, como disse já, existem dois verbos, logo temos duas orações, a segunda já classificamos como uma oração subordinada adjetiva restritiva, agora a primeira temos o verbo em umas de suas formas nominais ( infinitivo, participio, gerúndio),  não temos nenhuma conjunção, logo temos uma oração reduzida de gerúndio)

  • Jurava que o referente era "homem modesto".