- ID
- 1972504
- Banca
- Aeronáutica
- Órgão
- CIAAR
- Ano
- 2016
- Provas
-
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Administração
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Análise de Sistemas
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Dentistas - Conhecimentos Básicos
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Endodontia
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Enfermagem
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Cartográfica
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Civil
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia da Computação
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia de Agrimensura
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia de Telecomunicações
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Elétrica
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Eletrônica
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Engenharia Mecânica
- Aeronáutica - 2016 - CIAAR - Primeiro Tenente - Implantodontia
- Aeroná
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.
A razão por que tantas vezes interrompo um pensamento com um trecho de paisagem, que de algum modo se integra no esquema, real ou suposto, das minhas impressões, é que essa paisagem é uma porta por onde fujo ao conhecimento da minha impotência criadora. Tenho a necessidade, em meio das conversas comigo que formam as palavras deste livro, de falar de repente com outra pessoa, e dirijo-me à luz que paira, como agora, sobre os telhados das casas, que parecem molhados de tê-la de lado; ao agitar brando das árvores altas na encosta citadina, que parecem perto, numa possibilidade de desabamento mudo; aos cartazes sobrepostos das casas ingremadas, com janelas por letras onde o sol morto doira goma húmida.
Por que escrevo, se não escrevo melhor? Mas que seria de mim se não escrevesse o que consigo escrever, por inferior a mim mesmo que nisso seja? Sou um plebeu da aspiração, porque tento realizar; não ouso o silêncio como quem receia um quarto escuro. Sou como os que prezam a medalha mais que o esforço, e gozam a glória na peliça [...].
Escrever, sim, é perder-me, mas todos se perdem, porque tudo é perda. Porém eu perco-me sem alegria, não como o rio na foz para que nasceu incógnito, mas como o lago feito na praia pela maré alta, e cuja água sumida nunca mais regressa ao mar.
(PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Org. Richard Zenith. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.)
“A razão por que tantas vezes interrompo um pensamento com um trecho de paisagem, que de algum modo se integra no esquema, real ou suposto, das minhas impressões...” (2º§) as vírgulas que separam “real ou suposto” encontram a mesma correspondência de utilização em: