SóProvas


ID
1999174
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto: Patíbulos virtuais

     Ainda não tinha doze anos quando assisti a um linchamento. Vi um rapaz a fugir de bicicleta. Um homem começou a persegui-lo, a pé, e de repente já eram cinco, dez, uma turba exaltada, correndo, gritando, jogando pedras. Lembro-me de estar inteiro, de coração, numa angústia enorme, com o rapaz que fugia. Não havia nada que pudesse fazer para o ajudar. Minutos antes eu lia, ao sol, numa varanda. Logo a seguir o rapaz pedalava para salvar a vida, lá embaixo, entre uma estradinha de terra vermelha e um vasto descampado coberto de capim.

     Desde então estou sempre do lado de quem, sozinho, se vê perseguido por uma multidão. Pouco me importa o que fez o rapaz que corre; o homem que ergue a mão para se proteger da pancada; a mulher que enfrenta, chorando, os insultos de um bando de predadores cobardes.

     O surgimento das redes sociais marcou a emergência de um novo patíbulo para os linchadores. Bem sei que a comparação será sempre abusiva. Palavras, por muito aguçadas, por muito duras e pesadas, não racham cabeças. Palavras, por muito venenosas, não são capazes de matar. Em contrapartida, este novo palco tem o poder de juntar em poucos minutos largos milhares de pessoas, todas aos gritos. A estupidez das multidões virtuais é tão concreta quanto a das multidões reais.

    Praticamente todas as semanas há alguma figura pública a sofrer perseguição nas redes sociais. [...]

    Há alguns anos, em Luanda, afirmei, durante uma entrevista, não entender por que o governo insistia em promover a poesia de Agostinho Neto, primeiro presidente angolano, que a mim sempre me pareceu bastante medíocre. Um conhecido jurista e comentador político, João Pinto, deputado do partido no poder, assinou um artigo defendendo a minha prisão. Foi além: defendeu o restabelecimento da pena de morte e o meu fuzilamento. Segundo ele, eu ofendera não apenas um antigo presidente e herói nacional mas também uma divindade, visto que Agostinho Neto seria um quilamba — ou seja, um intérprete de sereias. Nas semanas seguintes foram publicados muitos outros textos de ódio. Recebi telefonemas com ameaças. Contaram-me que havia pessoas queimando os meus livros. Na altura foi bastante assustador. Hoje olho para trás e rio-me. Recordo o quanto era difícil explicar a jornalistas europeus a acusação de que teria ofendido um intérprete de sereias. Naturalmente, acabei transformando o episódio em literatura. Os europeus e norte-americanos leem aquilo e chamam-lhe realismo mágico.

    Os queimadores de livros têm receio não das ideias que os mesmos defendem, mas da sua própria incapacidade para lhes dar resposta. Aqueles que se juntam a multidões virtuais para ameaçar ou troçar de alguém são quase tão perigosos quanto os que correm pelas ruas, jogando pedras — e ainda mais cobardes.

    Fecho os olhos e volto a ver o rapaz na bicicleta. Uma pedra atingiu-o na cabeça e ele caiu. A multidão mergulhou sobre ele. Naquele dia deixei de ser criança.

José Eduardo Agualusa. O Globo, Segundo Caderno, 07/03/2016. Disponível em http://oglobo.globo.com/cultura/patibulos-virtuais-18817824#ixzz43ah8BwFY 

“Não havia nada que pudesse fazer para o ajudar.” (primeiro parágrafo). Essa frase inicia-se por uma oração desprovida de sujeito, e o verbo em destaque é denominado de impessoal. Também é impessoal o verbo da frase:

Alternativas
Comentários
  • Os verbos impessoais são aqueles que não possuem sujeito. Ou seja, eles surgem em orações sem sujeito.

    Há alguns muito usados, como o verbo “haver” no sentido de “existir”, como o próprio “há” no início dessa oração.

    os que exprimem os fenômenos da natureza: chover, relampejar, ventar, nevar, gear, amanhecer, escurecer, esquentar, estar e fazer (meteorologia).

    E os que indicam tempo: ser (indicando data, hora, distância) e fazer (tempo).

  • Letra A

     

  • Os verbos pessoais são os que se conjugam em todas as pessoas.

    Os impessoais são os que só se conjugam na 3.ª pessoa do singular, como, por exemplo, os que exprimem fenômenos da natureza ("chover", "trovejar", ventar"): "chove"; "trovejou"; "ventava".

    Além disso, o verbo "haver" é, como já foi abordado, impessoal, quando significa "existir".

     

    http://www.jn.pt/artes/dossiers/portugues-atual/interior/os-verbos-pessoais-impessoais-unipessoais-e-defetivos-3957040.html

     

  • Verbos impessoais são verbos que, não apresentando sujeito, são conjugados apenas na 3.ª pessoa do singular. Os principais verbos impessoais são o verbo haver (apenas com sentido de existir), o verbo fazer (quando indica tempo decorrido) e verbos que indicam fenômenos da natureza e atmosféricos.

     

     

    Lista de verbos indicativos de fenômenos da natureza e atmosféricos:
    Verbo amanhecer;
    Verbo anoitecer;
    Verbo escurecer;
    Verbo alvorecer;
    Verbo chover;
    Verbo chuviscar;
    Verbo nevar;
    Verbo ventar;
    verbo relampejar;
    verbo trovejar;
    verbo estiar;
    verbo orvalhar; 
    verbo saraivar;
    verbo garoar;
    verbo gear;

     

    Chega de, basta de , passa de também são impessoais.

    Verbos bastar e chegar

    O verbo bastar e o verbo chegar são impessoais quando seguidos da preposição de, indicando que algo é suficiente:

    Basta de confusões!

    Chega de mentiras!

  • GABARITO: LETRA  A

    Os verbos impessoais haver e fazer

    Os verbos impessoais são aqueles que não admitem sujeito e, portanto, são flexionados na 3ª pessoa do singular.

    No sentido de existir ou na idéia de tempo decorrido, o verbo haver é impessoal. Logo, o verbo ficará no singular.

    Exemplo: Há uma cadeira vaga no refeitório. (sentido de existir)
    Há dez dias não faço exercícios físicos. (tempo decorrido)
    Da mesma forma, o verbo fazer no sentido temporal, de tempo decorrido ou de fenômenos atmosféricos é impessoal.

    Exemplo: Faz dez dias que não faço exercícios físicos. (tempo decorrido)
    Nesta época do ano, faz muito frio.

    Quando da locução verbal, tanto o verbo haver quanto o verbo fazer exigem que o auxiliar fique na terceira pessoa do singular.

    Exemplos: Deve haver uma forma de amenizarmos esse problema.
    Vai fazer dez dias que não faço exercícios físicos.

    FONTE: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/concordancia-verbalcasos-especiais-alguns-verbos.